Paula Rego: Sabia que…?

Factos curiosos e menos conhecidos da biografia de Paula Rego, um dos maiores nomes das artes plásticas portuguesas, com projeção internacional.

O sucesso tardou a chegar, mas hoje o talento de Paula Rego é mundialmente reconhecido.

Paula Rego é, ao lado de Maria Helena Vieira da Silva, um dos maiores vultos de sempre das artes plásticas portuguesas com projeção internacional. No Reino Unido, onde em 2016 foi nomeada Dame Commander of the Order of the British Empire pela sua contribuição para as Artes, é apontada como um dos quatro maiores pintores vivos.

Nasceu em Lisboa em 26 de Janeiro de 1935, numa família da classe média alta com ideais republicanos, e sob influência das culturas francesa e anglo-saxónica. Tinha apenas um ano quando os pais partiram para Inglaterra para ultimar os seus estudos, deixando-a durante três anos aos cuidados dos avós paternos. A sua vida ficou marcada pela infância passada com a avó Gertrudes Fernandes, que com a governanta da casa, lhe contava os contos tradicionais portugueses que marcariam a sua obra.

Frequentou a St. Julian’s School, em Carcavelos, onde cedo manifestou as suas qualidades artísticas. Aos 16 anos, em 1952, a conselho do pai, anti-salazarista convicto, emigrou para o Reino Unido onde frequentou a Sevenoaks, escola destinada a formar as mulheres jovens para os costumes e comportamentos em sociedade — no dizer de Paula Rego, “uma escola de acabamentos para arranjarmos um marido”.

A futura pintora abominou a experiência e, motivada por uma professora da mesma escola a seguir o seu caminho no campo das artes, tentou inscrever-se na Chelsea School of Art, em Londres, no que foi contrariada por um amigo do pai e seu tutor, David Phillips, por ter más referências morais da mesma, encaminhando-a para a The Slade School of Fine Art, por a considerar uma opção mais respeitável e capaz de lhe garantir o êxito. Nessa escola, que frequentou de 1952 a 1956, conheceu o artista inglês Victor Willing, com quem viria a casar e teria três filhos (Nick Willing fez para a BBC um documentário sobre a vida e o trabalho da mãe).

O casal regressou a Portugal em 1957 e, a partir de 1962, com uma casa no bairro de Camden Town, passaram a viver alternadamente em Portugal e Inglaterra). Lutou e trabalhou, tenazmente, para se impor no panorama  artístico, tendo inicialmente, muita dificuldade em vender os seus quadros.

A empresa do pai de Paula Rego passou, por morte deste, em 1966, a ser gerida por Victor Willing, a quem fora já diagnosticada esclerose múltipla, mas este negócio não resistiria à dinâmica da Revolução de 1974.  O casal, marcadamente oponente ao regime deposto, já com três filhos, fixou definitivamente residência em Londres em 1976. Foram anos muito difíceis. A artista foi ensinar na escola de Artes que frequentara, atividade de que não gostava; fazia-o por necessidade.

Em 1988, realiza a sua primeira grande exposição individual na Serpentine Gallery, Londres ganhando, a partir de então, uma maior projeção internacional.Hoje, pode orgulhar-se de ter a sua obra altamente reconhecida e de, a partir da década de 90 do século passado, ter  acumulado, além de muitas outras distinções,  sete doutoramentos honoris causa, pelas Universidades mais prestigiadas do Reino Unido, Rhode Island nos Estados Unidos, e em Portugal, pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa. Ainda em Portugal, foi condecorada foi, em 2004, com a Grã-Cruz de Santiago da Espada, pelo Presidente da República, recebeu a Medalha de Honra da Cidade de Lisboa e, em reconhecimento da sua obra e de seu marido foi construída com projecto arquitectónico de Eduardo Souto de Moura, em 2009, em Cascais, A Casa das Histórias.

 

Sabia que…?

  • Na infância Paula Rego não gostava da professora do ensino oficial contratada pelo pai, D. Violeta, muito competente, mas que lhe dava estaladas (sic) e que foi por ela pintada, com uma camisola roxa de angorá.
  • Foi admitida na Slade School of Fine Art quase por complacência, em part-time, tendo os avaliadores dito em relação ao seu portfólio: Isto não vale nada, isto não presta para nada”. Mas ao fim de um ano foi ali integrada a tempo total e agraciada com o 1.º Prémio, Summer Composition.
  • Mercê de uma Bolsa que lhe foi concedida em 1975 pela Fundação Calouste Gulbenkian fez, de 1976 a 1979, uma pesquisa sobre Contos Populares que classificou como de “contos terríveis”, sórdidos e maus, com uma crueldade que não encontrou noutras culturas, concluindo que isto “é a vida. Pessoas que não têm que comer, tornam-se fortes e violentas.” .
  • Em 1983, lecionou na Slade, confessando que o fez apenas por necessidade pois, custa-lhe muito dizer quando não gosta de um trabalho, porque isso magoa a pessoa.
  • Todos os quadros de Paula Rego integram figuras representativas de pessoas que conhece ou pessoalmente conheceu,  de sua família e até de personagens de obras literárias .
  • A sua obra reflete as suas preocupações com temas sociais, nomeadamente o aborto, a excisão genital feminina, o tráfico humano, a violência doméstica e os maus tratos a crianças, além dos factos da sua própria vida que mais a marcaram.
  • Trabalha com a hoje amiga Lila Nunes, natural de Viseu, sua modelo há muitos anos, com quem tem uma enorme cumplicidade e que apareceu na história de Paula, para a ajudar a tratar do marido que morreu de esclerose múltipla em 1988.
  • Jean Eire foi inspirada na obra de Edwin Corley, “O Mar dos Sargaços”, onde Paula Rego foi buscar a mulher louca, maltratada pelo marido, que não obstante, o tratou com desvelo quando este precisou dela.
  • Seis litografias da série Jane Eyre (2001-2002) foram usadas em 2005 pela Royal Mail para uma coleção de selos.
  • Em julho de 2015, o quadro “The Cadet and his Sister”, de 1988, foi vendido por 1,6 milhões de euros num leilão da Sotheby’s.
  • De todas as obras, a que mais prazer lhe deu a fazer foram os quadros da Capela do Palácio de Belém.
  • Gosta do cinema de Buñuel, de Almodôvar e de Walt Disney.
  • É supersticiosa, o que na sua opinião não é muito diferente de uma religião.
  • Ganhou a lotaria numa altura em que tinha tudo hipotecado.
  • Enquanto trabalha ouve óperas de Verdi, especialmente Rigoletto e La Traviata, de manhã, e fado, depois do almoço (Amália e Camané, por exemplo).
  • Hoje, artista consagrada confessa que a incomodam as críticas negativas ao seu trabalho, porque entende que quem a critica tem razão.
  • É do signo aquário e tem o hábito de ler, no Daily Express, que Lila lhe traz, o seu horóscopo.
  • Quando se deslocou ao Palácio real britânico para receber a distinção Dame Commander of the Order of the British Empire levou as duas filhas e contou que gostou muito da cerimónia, que a Rainha é “muito simpática” e o Palácio bonito, “embora um pouco coçado”, confessando-se orgulhosa do título mas, acrescentando “já tenho muitos doutoramentos” .
  • Em Londres se desloca de autocarro, no 86, porque gosta de falar com as pessoas.
  • Não gosta de viajar: “Sou muito ligada à rotina. Trabalhar, ficar em casa, ter o meu jantar e pronto”, mas gosta de ir ao cinema e ao teatro “que em Londres é muito bom”.
  • Não sai depois das 10 da noite porque tem medo. “Por dentro estou toda untada de medo, como se fosse manteiga.” E dorme com a luz acesa.
  • Não gosta do campo. Está sempre desejosa de chegar “ao próximo hotel”
  • Gosta de comprar roupas em grandes armazéns londrinos, mas detesta saldos. “Não gosto nada daquilo. É tudo muito barato. Não gosto.”
  • Porque dá muito trabalho não gosta de cozinhar, sendo as lulas e o empadão os seus pratos de “resistência.”

Veja a entrevista biográfica conduzida por Ana Sousa Dias a Paula Rego em 2004 e a conversa da jornalista Paula Moura Pinheiro com a pintora Paula Rego, por ocasião da abertura ao público da Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, em 2009.

Parceiros Premium
Parceiros