Paula Casa Nova trabalhou 23 anos no setor financeiro. Formou-se em Gestão, mas era o marketing que lhe despertava emoções. Começou a carreira na Arthur Andersen [atual Accenture] como consultora fiscal, e passou para o Crédit Lyonnais para desempenhar funções ligadas ao retalho e ao marketing. Com a compra deste banco pelo BBVA, transitou para a instituição espanhola, onde foi diretora de Marketing, diretora de Segmentos e Produtos e membro da equipa diretiva a nível internacional. Quando saiu do BBVA no final de dezembro de 2014 decidiu não trabalhar durante um ano para dar resposta a algumas questões pessoais que exigiam a sua atenção. Cumprida a missão, o convite para a direção comercial da Europ Assistance chegou no momento certo.
Entrou nas modernas instalações da companhia na Columbano Bordalo Pinheiro já habituada a estruturas multinacionais e ao contacto próximo com as casas-mãe, e assim rapidamente mostrou o que valia a quem procurava já um substituto para Manrico Iachia, que fundou e liderou a companhia em Portugal até junho deste ano. Paula Casa Nova diz que talvez apenas estivesse no sítio certo na altura certa, mas o olhar fresco que trouxe de fora e o impacto das mudanças que entretanto introduziu na empresa não terão sido alheios ao facto de passar de diretora comercial e de marketing a CEO em apenas sete meses.
“Não queremos continuar a ser conhecidos como a empresa que trata do reboque pois somos muito mais do que isso”, garante. Além da assistência automóvel, a empresa garante assistência à família, na saúde e em viagem. A sua missão agora é a de conduzir a Europ Assistance, que é líder no mercado de assistência em Portugal e conta com quase 400 colaboradores, ao nível seguinte.
Tem uma vasta experiência no sector financeiro. O que é que a atraiu nesta área?
Comecei por trabalhar em consultoria fiscal na Arthur Andersen, mas o que eu realmente queria era marketing. Quando surgiu uma oportunidade de ir trabalhar para marketing numa instituição financeira [Crédit Lyonnais], mudei. A partir daí fiz quase toda a minha carreira em áreas comerciais e de marketing, que é o que mais gosto e que me levou a fazer o MBA em Marketing da Católica. Trabalhar nestas áreas e em multinacionais foi algo de que gostei muito e onde me sinto mais confortável.
O que é que mais gosta nas multinacionais?
Nas multinacionais sempre trabalhei muito com as casas-mãe e isso abre-nos horizontes. A participação em reuniões de comités de países, por exemplo, dá-nos acesso às melhores práticas, a partilha de experiências e a exposição internacional.
Acabou por ser uma forma de colher os benefícios de uma carreira internacional sem nunca a ter feito?
Posso dizer que tive uma experiência internacional enquanto estudei, pois vivi dois anos em Londres e depois decidi vir fazer a universidade em Portugal. Creio que quando se vive fora já se fica com um background internacional. Eu tinha perfil para fazer uma carreira internacional, mas por razões familiares não tomei essa opção. Mas a carreira que fiz em multinacionais permitiu-me ter essa dimensão internacional.
Para ter uma carreira bem sucedida é preciso ter uma vida muito equilibrada.
Porque decidiu fazer a universidade em Portugal quando tinha a oportunidade de continuar a estudar em Inglaterra?
Se queria viver em Portugal achei que esta era a melhor decisão. Foi uma decisão muito consciente com o total apoio do meu pai e da qual não me arrependo. Os bons amigos fazem-se na faculdade. O meu marido era da minha faculdade!
Os momentos-chave da carreira
Quais foram os momentos mais empolgantes que viveu na banca?
Felizmente, tive muitos, mas destaco dois. O primeiro foi quando fiquei como responsável do personal banking no Crédit Lyonnais. Sob a minha alçada estava o marketing, a rede, a banca telefónica, os canais, o private banking, ou seja, tinha uma equipa de cerca de 250 pessoas a meu cargo. Tendo em conta que na altura tinha 30 anos, foi uma experiência fundamental.
Mais tarde, já no BBVA, fui responsável pelo plano estratégico trianual em Portugal. Também me proporcionou uma experiência muito rica, porque era um projeto transversal à organização, que me obrigava a contactar e perceber várias áreas do banco.
A sua saída do BBVA foi o momento mais crítico da sua carreira?
A saída do BBVA permitiu-me um período de paragem que não teria tido de outra forma e que foi muito enriquecedor. Tive tempo para a família numa fase crucial da minha vida e para fazer voluntariado, algo impossível se estivesse a trabalhar em full-time. Olhando para trás, vejo que foi o melhor que me poderia ter acontecido. Quando sai do BBVA decidi que 2015 seria um ano de viragem e foi mesmo. Hoje, por exemplo, concilio muito melhor a minha vida profissional e pessoal. E para ter uma carreira bem sucedida é preciso ter uma vida muito equilibrada.
Depois de 23 anos na banca como se apaixonou pela Europ Assistance?
Atraiu-me a dimensão internacional e a área de atividade na qual a Europ Assistance é líder. Nós trabalhamos para resolver os problemas das pessoas, seja dar assistência quando se tem um acidente de carro, encontrar um médico quando se está em casa doente, descobrir um técnico que resolva uma avaria no frigorífico ou um cano que rebentou. A nossa missão ”you live, we care” é a resolução de problemas e gosto de trabalhar numa empresa que contribui para o bem-estar das pessoas. Isto é algo que adoro fazer. Entre os meus amigos sou conhecida como a pessoa que “resolve” tudo, por isso estou numa empresa que me permite fazer em termos profissionais o que já fazia na minha vida pessoal.
Quando aqui cheguei questionava tudo e todos. Acredito que faz sentido as empresas irem buscar pessoas de outras áreas.
Depois de tantos anos de carreira na banca, não hesitou em fazer esta mudança de setor?
Estava na altura de mudar. No princípio talvez estivesse um pouco receosa, foram muitos anos na banca, mas a verdade é que as competências que adquiri ao longo da vida são transversais, prepararam-me para qualquer área, desde que seja algo que tenha a ver comigo.
Considero muito positivo que em determinadas fases da vida das empresas entre alguém vindo de uma área completamente diferente. Quando aqui cheguei questionava tudo e todos. Quando trabalhamos de uma determinada forma durante vários anos já não nos apercebemos de que há outras formas de fazer as coisas. Por isso, acredito que faz sentido as empresas irem buscar pessoas de outras áreas. Pode ser uma mais-valia.
De diretora a CEO em sete meses
Entrou como diretora comercial. Quais foram as principais alterações que implementou?
As principais alterações notam-se sobretudo na política comercial. Como trabalhamos muito B2B, foi necessário conhecer os clientes institucionais, criar e sedimentar relações com eles. Ao nível dos colaboradores, foi sobretudo mudar a forma de trabalhar, questioná-los mais e ver novas formas de interagir com a casa-mãe. Creio que também impulsionei mais esta ligação, pois estou muito habituada a trabalhar diretamente com as casas-mãe.
Foram as mudanças que introduziu que lhe valeram a passagem de diretora comercial a CEO em apenas sete meses?
Penso que foi uma conjugação de fatores. A minha experiência de trabalho em multinacionais também terá contado. E o facto de ter trabalhado muito com a casa-mãe desde que cheguei também ajudou. A exposição que tive fez com que fosse identificada como um potencial substituto ao CEO, que já tinha revelado vontade de se retirar para se dedicar a projetos pessoais.
Que desafios veio encontrar neste setor?
Está tudo a mudar. A nova realidade competitiva implica que nos tenhamos de reestruturar e adaptar a empresa a um maior nível de eficiência. Vamos agora desenvolver o projeto Lean Management que está a ser implementado a nível internacional, que nos vai obrigar, mais uma vez, a questionar porque é que as coisas são feitas desta maneira, a identificar novas formas de trabalhar e a revolucionar processos e mentalidades. As novas tecnologias desempenharão um papel fulcral neste processo permitindo-nos estar mais próximos dos clientes, antecipando necessidades e proporcionando soluções mais relevantes e inovadoras. É o projeto certo na altura certa. Acredito que vai ajudar muito a empresa.
A vida nem sempre corre como nós queremos, é preciso experimentar outras coisas e ir agarrando as oportunidades.
Ainda somos vistos como a “empresa do reboque”, mas somos mais do que isso. Nós estamos ao lado dos nossos clientes em qualquer parte do mundo. Podemos enviar um avião sanitário para ir buscar um cliente que caiu na Malásia no meio do nada ou pôr um médico português a falar com os médicos de lá. É muito diferente ter um médico português a explicar-lhe o que se passa na sua própria língua, do que falar com um médico local. Nós temos uma rede internacional enorme. Cobrimos 208 países.
Qual a parte do seu trabalho de que mais gosta?
Gosto de gerir pessoas e de fazer acontecer! Envolvo bastante as pessoas e tento tirar o melhor de cada uma. Gosto de fazer grupos de trabalho. Respeito as hierarquias mas no dia a dia acredito que é possível funcionar melhor com base nos grupos de trabalho e na participação de todos. Gosto de fazer acontecer. Detesto que se peça alguma coisa para daqui a um mês ou dois, se eu acho que pode ser feito na próxima semana. E gosto de tocar em tudo – ver a empresa como um todo, ter uma visão global.
Que conselho deixaria a uma jovem em início de carreira?
Ser uma pessoa motivada, trabalhadora e flexível. Parece-me que as novas gerações – pelo menos as pessoas que conheço – são pouco flexíveis. Querem um determinado curso, uma determinada empresa, um determinado sector. A vida nem sempre corre como nós queremos, é preciso experimentar outras coisas e ir agarrando as oportunidades. Ser flexível é algo que julgo ser muito importante, assim como ter bons princípios e segui-los pela vida fora.
A EUROP ASSISTANCE NO MUNDO
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208 países cobertos