Paula Águas do outro lado do espelho

Vestida para ajudar os outros a definirem o seu próprio estilo, Paula Águas enverga o fato de empreendedora na coliderança da Beyond1, a empresa de consultoria de imagem que quer deixar a sua marca no segmento corporate.

Paula Águas está atenta às necessidades do segmento corporativo.

É um cartão de visita que se desdobra em linhas, texturas, cortes e cores, dispensando as palavras. Para Paula Águas, a imagem que transmitimos é mesmo “o primeiro fator de reação” quando nos apresentamos, o que justifica que devamos dar-lhe atenção, antes que os outros possam atentar naquilo que temos para dizer. Uma “convicção profunda” que combina com a missão que esta consultora de imagem abraçou por inteiro: a de conceber soluções de styling à medida de cada pessoa, de modo a que “a mudança exterior faça jus e valorize o interior”.

A história que hoje dá pano para mangas a uma carreira de mais de duas décadas no mundo da moda começou a alinhavar-se em Moçambique, onde nasceu e viveu até aos sete anos, e no Brasil, que a viu crescer até aos 15, quando rumou a Portugal. Algures pelo meio, à boleia da profissão do pai, que era piloto, os verdes anos de Paula Águas fizeram ainda escala na Mauritânia. De qualquer um desses destinos, a cofundadora da Beyond1 guardou “o sentimento de alegria e liberdade”, assim como o “calor” que lhe temperou “a facilidade e o gosto pelo contacto com os outros”.

Recordo-me de, ainda muito nova, fazer recortes de revistas e styling com os panos que havia lá em casa

Levando sempre na mala a “capacidade de adaptação camaleónica” às mudanças frequentes, habituou-se a vestir de acordo com as diferentes circunstâncias. O que mais tarde se tornou ofício, começou por brincadeira. “Recordo-me de, ainda muito nova, estar constantemente a fazer recortes de revistas e styling com os panos que havia lá em casa”, confessa, compondo os retalhos de um percurso que a dada altura se desviou da linha. Apesar de a moda “ter sido um chamamento, desde muito cedo”, a opção pelo curso de Gestão Internacional e Exportação acabou por falar mais alto. Seguindo a tendência de “procurar algo mais seguro”, atraiu-a o desejo de liderança – “no sentido de influenciar, não de impor”, precisa – e a perspetiva de se pôr à prova em “novas experiências além-fronteiras”.

Todos os caminhos vão dar à moda

Curiosamente, foi em Portugal que se abriram as portas da indústria na qual Paula Águas pôde dar azo à sua real vocação. Primeiro no Algarve e depois no Porto, ingressou em diferentes lojas de marcas de pronto-a-vestir highend, o que lhe permitiu aperfeiçoar o molde do trabalho, quer com as peças, quer com os clientes. “Esse processo de estar do lado de lá do balcão foi excelente, porque me treinou o olho para o cair da roupa, por exemplo: se agora pegar num par de calças, numa camisa ou num casaco, idealizo logo a que tipo de pessoa podem ficar bem”, ilustra.

No fundo, foi a chance de aguçar o engenho que já era seu naturalmente. “Desde sempre que me lembro de ajudar pessoas amigas a fazerem as suas compras e a vesti-las para ocasiões mais solenes, como festas”, admite a consultora, aludindo a algo que lhe é inato. “Olho para uma pessoa e começo logo a imaginar que tipo de roupa e de acessórios lhe assentam bem, tal como o corte de cabelo ou a maquilhagem, no caso das senhoras, que podem completar o look.”

Olho para uma pessoa e começo logo a imaginar que tipo de roupa e acessórios lhe assentam bem

Paula Águas estava, porém, destinada a encontrar a primeira grande montra para o seu talento em Lisboa, nas fileiras da Ellora. A convite de Miguel Stanley, a entrada nesta empresa de consultoria de imagem, em 2007, transportou-a para os lares de milhões de portugueses, enquanto responsável pelo styling no programa da TVI “Doutor, preciso de ajuda”. Ajudando a mudar a imagem (e a vida) das concorrentes, esta foi também a “ocasião perfeita” para fazer uma makeover à sua carreira, explica. Afinal, além de lhe proporcionar uma “forte exposição mediática”, o programa, ao exigir ritmos de trabalho “bastante rigorosos”, funcionou quase como “um curso intensivo em consultoria de imagem”.

Mas nem assim a nossa protagonista prescindiu de obter “certificação oficial” na área. “Acredito no dom, mas considero que, neste campo de atuação, como noutros, há ferramentas e métodos de trabalho que devem estar em contínuo aprimoramento e isso só se alcança com a formação”, defende, não tendo dúvidas de que essa aposta se traduz “numa vantagem competitiva”. O que a conduziu à paragem seguinte no seu trajeto profissional: Londres.

Na consultoria de imagem, a formação é uma vantagem competitiva

Formando-se em consultoria de imagem no prestigiado London Image Institute, em complemento ao curso de Carreira e Imagem que já tinha feito em São Paulo, no Brasil, bem como aos vários workshops que foi frequentando, Paula Águas aproveitou ainda a estadia de um ano e três meses na capital britânica para continuar a aprender, desta feita ao serviço de uma das marcas de alta-costura mais conceituadas em todo o mundo: a maison Valentino. Uma das “lições” mais valiosas que trouxe consigo foi a do luxo que se encerra na “simplicidade” e não na “ostentação”, consagrando a “paixão pela moda e pelo que é bonito”.

Tendo em Londres uma das suas “cidades de eleição”, a consultora recorda também, com humor, os famosos armazéns Harrods e Selfridges como verdadeiras “casinhas de brinquedos”, onde a podiam encontrar, nos dias de folga, a calcorrear todas as lojas e montras, absorvendo tendências e novidades. Isto, contudo, sem nunca perder de vista o regresso. “Voltar para me reposicionar, com um novo fôlego, no meu País, foi sempre o meu objetivo”, indica.

Em território nacional, esperava-a uma nova aventura: organizar as fashion weeks que decorriam nos centros comerciais da Sonae, nas quais, mais uma vez, contribuiu para “transformar a vida a muitas pessoas”, que recebiam o aconselhamento da equipa de consultores de imagem por si liderada. Depois disso, já a solo, firmou ainda parceria com empresa Style in a Box, de vestidos de aluguer e esteve no arranque do projeto LX Market no LX Factory, “inspirado nos flea markets de Londres”.

Ir mais além na consultoria de imagem

Nascida, em 2015, “da colaboração e da força conjunta de duas mulheres”, Paula Águas e May Silveira, a Beyond1 vem responder a uma oportunidade de negócio que esta empreendedora e a sua sócia identificaram no mercado português: “a demanda por serviços diferenciados de consultoria e aconselhamento de imagem”, resume. À semelhança das suas fundadoras, que advogam que cada pessoa deve “afirmar o seu estilo único”, a marca distingue-se pela primazia dada ao segmento corporativo como “alvo preferencial”. Um target até então “pouco explorado” e que recebe da Beyond1 uma “atenção especial”, frisa Paula Águas.

A Beyond1 responde à demanda por serviços diferenciados de consultoria e aconselhamento de imagem

Procurada, sobretudo, por empresas que pretendem adotar as melhores práticas internacionais no que concerne à consolidação da imagem corporativa, esta insígnia acompanha-as em todos os passos da “implementação do dress code empresarial”. E assegura, paralelamente, que o “desenvolvimento da marca pessoal” de cada um dos colaboradores – “do CEO, ao pessoal do frontdesk”, esclarece – se conjuga “com o engrandecimento da imagem de marca da companhia”.

Sobre os frutos do muito trabalho que têm levado a cabo com o segmento corporate, Paula Águas não pode adiantar senão pouco. “Temos um compromisso de sigilo que respeitamos à risca”, confirma, mencionando apenas o tipo de serviços que oferecem a este nível, como os workshops de imagem corporativa e media training ou a preparação dos profissionais para a correta apresentação em dias de entrevista.

Acertar agulhas consoante “as necessidades e o perfil de cada cliente”, quer seja institucional ou a título individual, é sempre o propósito das “soluções à medida da Beyond1”, garante a sua cofundadora, elencando os principais marcos trilhados na jornada de aperfeiçoamento de imagem que a marca proporciona. “O primeiro passo é, invariavelmente, uma consulta/conversa inicial, em que, com base numa escuta ativa, procuramos perceber quais as características, os hábitos de consumo e as expectativas da pessoa que temos pela frente.” Só assim se pode proceder a um “diagnóstico exaustivo”, que está longe de ficar pelo mais óbvio, sublinha: “o nosso objetivo é ir mais além, ajudar o cliente a sentir-se bem na sua pele em todos os domínios e daí o nosso nome, Beyond1”.

O que faz sentido, na maior parte dos casos, é que a mudança seja exterior e interior

Uma vez iniciado o movimento de mudança, os caminhos variam de acordo com os desejos de cada um, mas podem incluir, juntamente com o styling, triagem do guarda-roupa ou closet cleaning, personal shopping, teste de cores e a entrega de um book final personalizado. Respeitando, de novo, a vontade de “ir mais além”, a abordagem tende a ser, tanto quanto possível, multidisciplinar e abrange cabeleireiro e maquilhagem, consultas de nutrição, personal training, coaching e aconselhamento psicológico, quando assim é solicitado, graças à articulação com um conjunto de profissionais de outras áreas de especialização que estabelecem parcerias com a Beyond1. “O que faz sentido, na maior parte dos casos, é que a mudança seja exterior e interior, porque ambas as vertentes são indissociáveis”, conclui.

No comando de uma marca que conquista clientes de ambos os sexos “e das mais variadas profissões”, a consultora de imagem despede-se com uma “mensagem especial” dirigida às mulheres executivas: “respeitem o vosso próprio estilo, não têm que ser vítimas da moda. O essencial é que mantenham uma imagem sóbria, sem prescindir da feminilidade, e encontrem as peças certas para o vosso tipo de corpo”. A Paula Águas, que perspetiva agora o crescimento da Beyond1 para lá do mercado nacional, com a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) na mira, por seu turno, o fato de empreendedora “não podia assentar melhor”. “Ao longo do meu percurso, tenho procurado estar sempre atenta a todos os passos que dei e, por vezes, tive de parar para me reposicionar, mas sem nunca perder o foco”, remata.

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