Patrícia Loureiro: “A tendência é de disrupção infinita”

É assim que Patrícia Loureiro, senior manager da Accenture Portugal, define o momento atual. O avanço rápido das novas tecnologias e as crescentes expectativas dos consumidores levam a multinacional a empreender uma transformação interna para dar resposta a um mundo novo. O processo Rotation to the New já está em curso.

Patrícia Loureiro, senior manager na Accenture Portugal.

Licenciou-se em Engenharia Eletrotécnica por influência do pai, mas hoje considera que foi uma decisão feliz, pois deu-lhe a preparação necessária para a carreira que construiu. Patrícia Loureiro entrou na Accenture em 2002 e desde então tem liderado uma grande variedade de projetos para clientes de diversos setores de atividade, especialmente da área de Utilities e Energia. Tem uma vasta experiência em gestão de projetos complexos de transformação em consultoria de gestão nas áreas de vendas e serviço a clientes, procurando ajudar as organizações a fazer face aos desafios relativos às áreas de CRM e Human. Atualmente, a senior manager acompanha também o processo de transformação interna que a multinacional tem em curso para dar resposta às necessidades do mundo novo.

O que a motivou a escolher o curso de Engenharia Eletrotécnica?
Tenho de dar o devido crédito ao meu pai que muito influenciou, senão mesmo condicionou, essa decisão. Eu queria ser jornalista… Mas a engenharia foi, de facto, uma decisão muito feliz em termos da preparação que me deu para a minha vida profissional e para os desafios que enfrento diariamente.

Como chegou à Accenture?
A minha primeira experiência profissional aconteceu ainda no âmbito de estágio para terminar a licenciatura numa empresa portuguesa de engenharia e foi muito interessante. Mas eu tinha a ambição de trabalhar numa multinacional, com acesso direto a conhecimento, pessoas, research e melhores práticas a nível mundial, e por isso decidi sair e dar um rumo diferente à minha carreira.

Nos tempos que correm estar há 15 anos na mesma empresa não é muito comum. Em nenhum momento sentiu necessidade de mudar para experimentar outras culturas empresariais ou abraçar uma nova área de negócio?
Claro que sim! Mas nunca chegou a acontecer essencialmente por três motivos: identifico-me por completo com a cultura e valores da empresa, adoro o que faço e a minha equipa e, por último, quando senti necessidade de mudar tive a felicidade de o poder fazer dentro da organização. Essa é claramente uma das vantagens de trabalhar numa grande multinacional, com diferentes federações de negócios. Podemos ir para fora cá dentro!

Muitas pessoas constatam que é preciso mudar de empresa para evoluir mais rapidamente na carreira. Como conseguiu contornar essa necessidade?
A Accenture tem-me permitido construir a carreira que acredito merecer e tem sido capaz de mostrar o seu reconhecimento pela minha contribuição e dedicação, pelo que até hoje não senti necessidade de sair para atingir os meus objetivos de evolução.

A experiência na África do Sul foi desafiante. As reuniões de projeto tinham mais de 30 pessoas a falarem mais de 5 línguas ao mesmo tempo!

Quais os projetos mais marcantes em que esteve envolvida ao longo destes 15 anos?
Diferentes projetos marcam por diferentes motivos. Marcaram-me os primeiros projetos no gás natural, onde mais aprendi sobre consultoria e sobre um negócio que muito me interessa e onde tive o privilégio de participar na grande transformação associada à liberalização do sector. Tive também uma experiência internacional na África do Sul, onde vivi cerca de meio ano, não pelo projeto em si, mas pela imersão numa diversidade simultânea de culturas e línguas muito diferentes da nossa. As reuniões de projeto tinham mais de 30 pessoas a falarem mais de 5 línguas ao mesmo tempo!

E quais os momentos mais desafiantes que a ajudaram a crescer profissionalmente?
Claramente a experiência na África do Sul, pela necessidade de adaptação a uma cultura diferente. Também a fase de passagem entre consultant e manager, não pela gestão de equipas, que me é natural, mas pela enorme dispersão de temas sob a minha responsabilidade. E, por último, a maternidade, nomeadamente o aprender a conjugar uma vida profissional desafiante com a mãe que eu quero ser, gerindo dedicação e esforço, muito cansaço e alguma culpa. Em todos estes momentos, foi chave o apoio e exemplo da liderança fantástica com que sempre pude contar na Accenture.

Os consumidores estão cada vez mais exigentes com os fornecedores, os quais comparam com a Uber e a Netflix ou a Apple e não com o tradicional competidor.

Quais as principais alterações que têm ocorrido nas áreas em que trabalha?
Na comercialização energética, nesta era pós liberalização do mercado, as principais alterações do negócio decorrem da oportunidade digital e da cada vez maior exigência dos consumidores. Estes fatores colocam uma grande pressão nas empresas quer a nível da sua transformação a nível tecnológico quer a nível do perfil das suas pessoas e forma de trabalhar. Temos vindo a assistir e a apoiar um enorme esforço das organizações do sector na sua transformação e modernização, com resultados admiráveis.

E quais são as grandes tendências nestes setores e como estão a preparar-se para lhes dar resposta?
A maior tendência do sector energético, e dos demais, é de disrupção infinita. Assistimos hoje a um mundo em constante mudança, aceleração enorme das novas tecnologias como inteligência artificial e a computação quântica ou o blockchain, crescentes expetativas de consumidores, cada vez mais exigentes com os seus fornecedores, os quais comparam com a Uber e a Netflix ou a Apple e não com o tradicional competidor. A Accenture está a fazer a sua própria transformação interna, à qual chamamos Rotation to the New, que consiste na nossa resposta ao mundo novo e que incorpora alterações à nossa forma de trabalhar e metodologia, modelo operativo, offerings, research, etc. Em específico, desenhamos e implementamos uma nova arquitetura de inovação constituída por diferentes componentes, nos quais se incluem, entre outros, a Accenture Ventures, para incorporar soluções de start ups, ou a Accenture Labs e a Accenture Studios, que são espaços de design thinking e prototipagem, onde estamos a explorar tecnologias de ponta para criar soluções que respondem aos desafios dos nossos clientes.

Gostar do que se faz é essencial e nem sempre é apenas sorte, muitas vezes é uma escolha ativa. Temos de saber encontrar algo relevante e interessante na responsabilidade que temos em mãos.

Que competências considera essenciais para ter sucesso na sua área?
Forte empatia e leitura do outro, curiosidade e apetite pela aprendizagem contínua, e capacidade de adaptação a novos contextos e responsabilidades.

Além do desenvolvimento de competências que foi fazendo ao longo da carreira – sobretudo as de gestão -, que atitudes ou hábitos diários acredita que têm contribuído para o seu sucesso?
Acredito que o meu otimismo, a minha capacidade de acreditar que é sempre possível, me tem ajudado a enfrentar os desafios e a construir soluções inovadoras. Adicionalmente, gosto imenso de pessoas e por isso crio uma rede de contactos com alguma facilidade, os quais depois apoio e me apoiam, contribuindo com ideias e conhecimento, etc.

Que conselho daria a uma jovem engenheira que esteja a dar os primeiros passos na carreira?
Em primeiro lugar, gostar do que se faz é essencial e nem sempre é apenas sorte, muitas vezes é uma escolha ativa. Temos de saber encontrar algo relevante e interessante na responsabilidade que temos em mãos. Em segundo lugar, diria que é crítico ser curiosa e estar sempre a aprender coisas novas e não necessariamente relacionadas ou de cariz técnico. Em último lugar, mas não menos importante, aconselho sempre a sabermo-nos juntar às pessoas certas, com os nossos valores, e divertirmo-nos no dia a dia.

Parceiros Premium
Parceiros