Fazer da costura um modo de vida foi quase uma teimosia. Enquanto os amigos lhe perguntavam se esta opção fazia mesmo sentido, Joana Nobre Garcia procurava um modelo de negócio num país onde há muito que este ofício tinha passado de moda. A verdade é que a sua persistência vingou e hoje a sua vida é um pouco como uma manta feita de retalhos: dá workshops a adultos e crianças, escreve livros e gere a sua empresa. Autora do bestseller Costura-mania, Uma Casa para Costurar e Costurar é Divertido, Joana acaba de lançar Manual Básico de Costura Criativa.
O que a levou a trocar a Economia pela costura e quais as principais implicações dessa decisão?
A criatividade sempre fez parte da minha vida! A troca da máquina de calcular pela máquina de costura foi feita devagar. Sempre costurei, sempre fiz coisas para oferecer e para os meus filhos. O meu primeiro livro surgiu da necessidade de mostrar às minhas sobrinhas e filha como fazia os bonecos, laços ou as fitas de cabelo que elas tanto gostavam. Aos poucos fui arranjando cada vez mais tempo para fazer o que gostava e os meus filhos estavam mais crescidos e adoravam participar nas costuras da mãe. Até ficar a 100% demorou mais de 3 anos. Arranjar um modelo de negócio de costura num país onde se consumia tudo feito e o fazer era algo antiquado e fora de moda, não foi fácil.
Qual a maior dificuldade que sentiu?
A maior dificuldade foi o facto de há 6 anos, fazer ou oferecer algo feito por mim ser encarado como quase ridículo. As minhas amigas achavam estranho ou até bizarro eu lançar um livro de costura. E quantas vezes eu ouvi: “Achas que vale a pena?”, “Tu gostas mesmo de costurar? Olha, a minha avó é que gosta!”
A costura é apenas uma das suas atividades. Em qual delas se sente mais realizada: no empreendedorismo, na consultoria, nas aulas de costura ou na escrita?
Todas me tocam de maneira diferente! Sem dúvida, que ensinar crianças é o que me deixa mais empolgada! É um projeto a pensar no futuro, pois colocar as crianças a criar algo com as mãos, trabalha competências essenciais como a auto-estima, coordenação motora ou a motricidade fina, o que é muito desafiante e implica muito trabalho. Os resultados são visíveis e isso deixa-me muito entusiamada para fazer mais e melhor.
A consultadoria é desafiante e por isso estimula a minha criatividade. Eu preciso destes desafios para quebrar as rotinas.
Escrever livros é a maneira que tenho de motivar as pessoas a descobrirem o gosto de criar com as próprias mãos algo único, usando a costura como meio de materializar a sua criatividade.
Que tipo de peças procuram as pessoas aprender nos seus workshops?
Bolsas, malas, mochilas ou estojos são as peças que todas as minhas alunas procuram e adoram fazer.
A costura continua a ser um território 100% feminino?
Nos workshops já comecam a aparecer rapazes, embora ainda seja raro, mas nas escolas, felizmente, já tenho três turmas com um rapaz cada.
Ser empreendedora não é só fazer o que gostamos, mas fazer o que os outros gostam e procuram, sempre de maneira inovadora.
Qual a peça que fez de que mais se orgulha?
A dupla de bonecos que fiz quando o meu filho mais novo nasceu, que representava o pai e a mãe, e que ainda hoje, cinco anos depois, dormem com ele.
Que conselho deixaria a uma jovem que adora costura ao ponto de equacionar fazer dela a sua via profissional?
Arrisque, seja criativa, observe o mercado, teste produtos e tenha consciência das alterações que essa decisão vai implicar, sobretudo, no seu dia a dia. Ser empreendedora não é só fazer o que gostamos, mas fazer o que os outros gostam e procuram, sempre de maneira inovadora. Por outro lado, nem tudo são costuras, existe muito trabalho burocrático que é necessário ser feito e que toma muito do nosso tempo! E por fim, não seja imitadora, seja pioneira!