Nem sempre o que parece é. Segundo a investigação “A Gender Bias in the Attribution of Creativity”, no momento de caracterizar homens e mulheres em termos de criatividade, os primeiros ganham. Porém, quando se avalia o trabalho final, independentemente do género, mulheres e homens ficam a par. E mesmo quando as ideias de ambos os géneros são muito semelhantes, persiste um estereótipo que ainda considera os homens mais criativos e inovadores, independentemente dos resultados.
A criatividade é melhor remunerada e facilita a ascenção a cargos de topo
E qual a importância desta investigação? Uma das autoras, Devon Proudfoot, investigadora da Duke University, afirma que, numa sociedade que considera a criatividade uma competência altamente valiosa, os indivíduos considerados como mais capazes de gerar ideias revolucionárias, são melhor remunerados e ascendem mais rapidamente a cargos de topo. Uma ideia pré-concebida que pode perpetuar a desigualdade de género.
Estereótipos mantêm-se
A investigação inclui cinco estudos diferentes. Todos confluem para as conclusões anteriores. O primeiro conclui que o pensamento “fora da caixa” está mais fortemente associado a características estereotipadas masculinas (ousadia, competitividade, autoconfiança, etc.) do que a características tidas como femininas (cooperação, apoio, etc.) e o segundo reforça que mesmo que os resultados sejam idênticos, os homens são percecionados como mais criativos. Neste segundo estudo, foi pedido aos participantes para avaliarem a criatividade de arquitetos e de designers de moda através de imagens – a uns foi dito que o autor era homem e outros que era mulher. O arquiteto foi caracterizado como mais criativo do que a arquiteta, apesar de as criações serem idênticas. Não houve evidências de diferença de género na classificação dos designers de moda, visto ser mais difícil associar os estereótipos masculinos tradicionais no domínio da moda.
Os planos estratégicos mais arriscados são associados aos homens e percecionados como mais merecedores de recompensa.
O terceiro estudo baseia-se em informações de arquivo de diversos investigadores e conclui que as ideias dos homens são avaliadas como sendo mais brilhantes do que as das mulheres. Já o quarto estudo procura fazer a ligação entre o género e a criatividade no mundo real. Tem como participantes 100 homens e 34 mulheres executivos séniores a frequentar programas de MBA que são avaliados pelos supervisores diretos. Conclui que, nas avaliações feitas, as mulheres executivas são estereotipadas como menos inovadoras do que os pares do sexo masculino.
Finalmente, o último estudo mostra que o comportamento considerado tipicamente masculino aumenta a força da criatividade percecionada pelas pessoas, porém, um comportamento idêntico por parte de uma mulher não tem o mesmo efeito. Foi pedido a 125 participantes para lerem um texto sobre planos estratégicos concebidos por um homem, ou por uma mulher, descritos como mais, ou menos, arriscados. Como era previsível, o plano mais arriscado é associado ao homem e é também percecionado como sendo mais criativo e merecedor de recompensas.
Em suma, a perceção sobrepõe-se à realidade. É caso para dizer que mais vale parecer do que ser. Os investigadores deixam uma mensagem de alerta para o erro de basear sistemas de meritocracia em ideias preconcebidas e não em competências e, pior, para o facto de ideias pré-concebidas poderem, no limite, inibir a identificação de ideias realmente criativas e comprometerem todo o processo criativo.