Onésimo Teotónio Almeida: “As mulheres da minha vida”

Foram muitas as mulheres que marcaram a vida do professor catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros na Brown University, em Providence, Rhode Island. Neste depoimento, recorda as que definiram a sua infância.

Onésimo Teotónio Almeida é professor catedrático no Departamento de Estudos Portugueses e Brasileiros na Brown University, em Providence, Rhode Island.

É professor catedrático na Brown University, em Providence, Rhode Island, uma das mais prestigiadas universidades norte-americanas, que integra a Ivy League, mas dispensa formalismo do título de professor. Natural do Pico da Pedra, em S. Miguel, nos Açores, aos 11 anos ingressou no Seminário Menor de Ponta Delgada, tendo depois continuado no Seminário de Angra, de onde saiu aos 22 anos, por escolha esclarecida. Depois de cursar a Universidade Católica, em Lisboa, em 1972, aos 25 anos, emigrou para os Estados Unidos com o objetivo de fazer o mestrado e o doutoramento em Filosofia na Universidade de Brown. Ainda aluno de pós-graduação, integrou a equipa que criou o Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros dessa universidade, mais tarde transformado em Departamento, que dirigiu durante um período de doze anos. 

Vive entre “Manhattans de livros” e ele próprio é autor de três dezenas de obras de ensaio, ficção e crónicas em jornais e revistas como O Jornal,Diário de Notícias, revista LERJornal de Letras (JL), e de vários títulos da imprensa portuguesa dos Estados Unidos e Canadá. Entre as suas obras, a mais recente, O Século dos Prodígios. A ciência no Portugal da expansão (2018), publicada pela Quetzal, recebeu quatro prémios, entre os quais um da Academia Portuguesa de História.

Filósofo, académico, ensaísta, autor, este português transatlântico faz a ponte entre as suas raízes nos Açores, a comunidade portuguesa nos Estados Unidos, e Portugal e o mundo. Como afirmou na sua alocução nas comemorações oficiais do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas, a que presidiu em 2018, pertence a duas comunidades que o moldaram: a açoriana, onde viveu as primeiras duas décadas da sua vida, “decididamente as mais marcantes para qualquer ser humano”, e a luso-americana, pois passou já cerca de 2/3 da sua vida no outro lado do Atlântico.”

Neste depoimento à Executiva, recorda a sua infância em Portugal e homenageia as primrias ministras, a cujas ordens obedecia, e que em alguma medida moldaram o homem em que se tornou.

“Sem a menor preocupação de ser politicamente correto, começo por dizer que a lista de mulheres que influenciaram a minha vida é grande. Limitar-me-ei às da minha infância, qualquer delas mais actuante na minha formatação do que os três homens seus companheiros, que eram uma espécie de Presidentes da República. Elas eram Chefes do Governo e eu estava-lhes totalmente entregue:
1. Marcolina, minha mãe. Carimbou-me com uma ética dura (a minha Leonor diz que ela foi ‘a última victoriana’). Mais tarde, aliviei bastante a carga; ficaram-me, porém, as marcas. O dever, as obrigações familiares e sociais pautavam o meu dia a dia. ‘Primeiro a obrigação, depois a devoção”‘— repetia-me. Ir regar as flores e as árvores de fruta no comprido quintal é apenas um exemplo dessas obrigações que me competiam.
2. Virgínia, minha avó materna — a grande matriarca da família. Desviava dinheiro do orçamento que o meu avô lhe entregava para a administração da casa a fim de dar aos netos; nunca nada para ela. O seu sentido de responsabilidade pelo bem-estar dos filhos e netos permanece na minha memória. Fazia o mesmo para umas quantas famílias pobres da sua rua. Às escondidas do meu avô, mandava-me ir levar produtos caseiros a casa delas.
3. Maria das Mercês, minha avó paterna — a educadora. Os trabalhos de casa. No verão, custava-me interromper a folgança para ir às explicações regulares de Português, Francês, Inglês, Matemática dos meus tios, a fim de preparar o ano lectivo seguinte. Mas não podia escapar-me. Os provérbios saltavam-lhe fluentes a cada passo. Quando tentava esquivar-me justificando-me com as boas notas do ano anterior, vinha este: ‘A igreja reza pelos que bem acabam e não pelos que bem começam’.”
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