O sonho da Cotton Moon

Com o mesmo cuidado e paixão com que compravam tecidos na Feira de Cerveira para encomendar na modista os pijamas e camisas de noite mais mimosas para os seus filhos, Filipa Campos, uma das herdeiras da Silampos, e Susana Guimarães, ex-jornalista da Porto Canal, lançaram a marca que recupera as rendas, os bordados e as histórias do nossos avós. E já sonham com a internacionalização.

Filipa Campos e Susana Guimarães são fundadora da marca têxtil infantil Cotton Moon.

Filipa Campos, diretora de Marketing da Silampos, empresa da sua família, e Susana Guimarães, jornalista do canal de televisão Porto Canal, são amigas, com filhos da mesma idade e com pelo menos um gosto em comum – vestir bem as crianças na hora de dormir. Juntas, compravam tecidos na Feira de Cerveira para costurar os pijamas das crianças de ambas. Depressa a amizade e esta necessidade em comum deu origem à Cotton Moon, marca portuguesa que se define de Nightwear for Dreamers, inspirada no conforto, na família e na tradição. Cada camisa de noite ou pijama Cotton Moon, para meninas e rapazes dos 2 aos 12 anos, é idealizada por Filipa e Susana, que escolhem os melhores tecidos, rendas e botões e contratam fornecedores nacionais, desta forma recuperando uma herança de rendas e bordados dos nossos avós. Conversámos com as empreendedoras para saber mais sobre a sua carreira e este projecto que já levou a que Susana deixasse o seu emprego para se dedicar a ele a tempo inteiro.

Filipa Campos é diretora de marketing da Silampos e fundora da Cotton Moon.

 

Filipa Campos

 

Como foi resumidamente o seu percurso profissional?

Licenciei-me em Psicologia Social e do Trabalho. De setembro a dezembro de 2001, estagiei no Departamento de Recursos Humanos da Vulcano Termodomésticos, em Cacia, Aveiro. No ano seguinte, comecei a trabalhar na Silampos, sempre no Departamento de Recursos Humanos, mas muito ligada ao Gabinete de Design. Fazia a ponte entre Departamento de Marketing e Gabinete de Design e desenvolvia os briefings. Promovia as candidaturas a concursos de design de produto, fazia parte da equipa de concepção e desenvolvimento de produto, fotografia, publicidade, stands para as feiras profissionais etc… . Participei na Feira Profissional Ambiente Frankfurt, com a decoração do stand Silampos, estudo de mercado/tendências e procurement.

Até que a equipa de design pediu ao meu pai para eu ficar a gerir essa área. Tive de fazer formação, pelo que tirei o mestrado em Ciências da Comunicação, com especialização em Comunicação publicitária, na Universidade Fernando Pessoa, no Porto. Terminei o primeiro ano de mestrado com média de 16 valores e passei para o programa de doutoramento. elaborei oPlano de Intenções para Tese de Doutoramento em Marketing, com a tese “Imagem das Marcas Portuguesas de Artigos para Casa”. Desisti porque entretanto nasceu a minha filha Teresa. Em 2008, assumi a Direção do Departamento de Marketing da Silampos (o que inclui o design de comunicação), funções que até hoje desempenho.

Em 2021 lancei a Cotton Moon com a Susaninha e criei um negócio de alojamento local em Vila Nova de Cerveira, a Casa Monte do Cervo, da qual sou gerente.

 

Quais os principais desafios, vantagens e inconvenientes que encontra ao trabalhar numa empresa familiar?

A nova geração foi preparada no sentido de assumir responsabilidades e ser capaz de exercer as suas funções com competência, demonstrando que não está naquele lugar por vínculos parentais ou por ser herdeiro direto. A empresa, sendo familiar, permite-nos partilhar muitos valores, torna-nos mais próximos. Cuidamos dos colaboradores, clientes e fornecedores como família e da fábrica como a nossa casa. Beneficiamos de consenso na estética, uma vez que a família segue a mesma linha de gosto. Temos uma vontade comum de preservar o património que o meu Avô Abílio, o fundador, nos deixou e de garantir a sua passagem para a 4.ª geração.

 

Enquanto marketing manager, que principais mudanças introduziu na marca Silampos? As principais mudanças foram o refresh da identidade visual da marca (logótipo, catálogos, stands das feiras profissionais, etc.); as parcerias e o estreitamento de relações com os chefs de cozinha e o lançamento da Silampos Shop, a nossa loja online, que nos tornou mais próximos dos consumidores (B2C) e aumentou o conhecimento do mercado.

 

O que é preciso preservar e o que é preciso inovar na Silampos?

É preciso preservar os valores da marca: integridade e honestidade; profissionalismo e rigor; cooperação e parceria; inovação e melhoria contínua; qualidade e especialidade; tradição e cultura e a sustentabilidade (responsabilidade social e ambiental) e o fabrico dos produtos em Portugal.

É necessário continuar o processo de agregação de valor às nossas atividades de expansão e posicionamento da marca.

 

O que a levou a tornar-se empreendedora e lançar a Cotton Moon, num setor de actividade (têxtil) em que não tinha experiência?

Tenho casa em Vila Nova de Cerveira e desde que as minhas filhas são pequenas que compro os tecidos na Feira de Cerveira para fazer pijamas, camisas de dormir clássicas e outras roupas para as minhas filhas na modista. As minhas amigas incentivaram-me a fazer camisas de dormir para vender, mas nunca avancei. Numas férias de verão em minha casa, a Susaninha desafiou-me a criarmos uma marca de pijamas, pois também tinha a mesma necessidade: não encontrava pijamas bonitos para os filhos. Consideramos que era uma boa oportunidade para avançarmos com o projeto. Para criarmos a Cotton Moon inspiramo-nos no lifestyle dos nossos filhos, na família, na tradição, nas rendas e bordados das casas das nossas avós. Teriam de ser feitos do melhor algodão, para poderem contar histórias ao passarem de geração em geração.

 

Que passos principais deram até lançar a marca e o site?

Procuramos uma fábrica para comprar tecidos e confeccionar as camisas e os pijamas. Queríamos produtos com qualidade e fabricados em Portugal. Desenvolvemos o modelo de negócio/estudo de mercado, escolhemos o designer gráfico, webdesigner, fotógrafo e realizador para desenharmos a brand identity. Escolhemos o nome e registamos a marca. Começamos a trabalhar com uma Associação que tem como objetivo valorizar a fileira têxtil portuguesa no contexto internacional, para termos mais conhecimentos sobre o setor e participarmos em feiras profissionais internacionais. Também contactamos uma agência de comunicação para nos dar visibilidade junto dos media.

 

Susana Guimarães deixou uma carreira como jornalista televisiva para se dedicar a tempo inteiro à têxtil infantil.

Susana Guimarães

 

Como foi a sua carreira profissional, até chegar à Cotton Moon?

Experimentei vários caminhos no meu percurso universitário. Primeiro Teatro, em Londres, depois Teologia, na Universidade Católica do Porto. Não terminei nenhuma das escolhas académicas que fiz e acabei por seguir aquilo que era mais forte e mais notório na minha personalidade, a Comunicação. Tornei-me jornalista, apresentadora e editora no Porto Canal e lá permaneci durante 15 anos. Trabalhei no desporto, seguindo outra das minhas paixões, na informação e no entretenimento como pivot e como apresentadora, fui jornalista de terreno na informação e no desporto. Estive envolvida no processo de abertura da FC Porto TV onde estreei a grelha da nova plataforma com dois conteúdos totalmente produzidos por mim.

 

Como se passa do mundo da televisão para a moda têxtil infantil?

Deixar a televisão foi uma decisão muito difícil, mas sou uma mulher de paixões, mesmo no trabalho, e precisei de novos desafios. Queria criar. As áreas são, de facto, distintas, mas com pontos que se tocam: a criação de uma marca tem também a componente de imagem, de vídeo, estética e de comunicação. Sempre tive um grande fascínio pelos trapos, sou bisneta de um grande dinamizador têxtil e sempre gostei de vestir bem os meus filhos e procurar os melhores tecidos e os padrões mais bonitos, aos 40 anos decidi fazer disso a minha profissão. Sou bastante empreendedora e adoro arriscar.

 

Quais os principais obstáculos com que se depararam e como os enfrentaram? 

O maior obstáculo é, sem dúvida, a falta de apoios às novas empresas: apoio financeiro e de gestão. Nenhuma de nós tem experiência na área financeira e esse está a ser talvez o maior desafio. Tudo o resto tem acontecido de forma muito positiva. Procuramos e encontramos os melhores fornecedores, pois sabemos que o segredo está na qualidade; fzemos disso a essência da Cotton Moon. Os nossos tecidos são 100% algodão e a produção é totalmente portuguesa.

Para a criação da identidade da marca fomos muito criteriosas, na escolha de webesigners, fotógrafos… Oo nosso amigo e realizador, o Gustavo Carvalho, do Estúdio Emigrante, até nos trouxe um prémio com o filme de lançamento da marca, “Nightwear for dreamers”, que ganhou a categoria de melhor direção de fotografia no Fashion Film Festival, dia 4 de dezembro, em Guimarães. A Associação Seletiva Moda também tem sido um grande aliado no próximo passo que queremos dar, pois promove e apoia o sector têxtil para o mercado internacional. E no arranque da marca contámos ainda com o apoio da Global Press para comunicar a Cotton Moon junto dos meios de comunicação social.

 

Que planos e objectivos têm para o futuro da marca?

Temos um só objectivo: lançar a marca nos mercados internacionais.  É nesse sentido que estamos a trabalhar neste momento. Em janeiro 2022 vamos estar presentes na Pitti Bimbo, em Florença. Será a nossa primeira feira e temos grandes expectativas. Vamos apresentar a coleção de AW22.

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