Os mercados bolsistas acalmaram, a Bolsa de Lisboa subiu hoje, e positivas também estão as bolsas europeias, Wall Street, e as asiáticas. Segundo a agência Lusa “a China respira fundo com a ajuda do Estado”, mas a volatilidade das bolsas chinesas continua a concentrar a atenção mundial depois dos trambolhões dados em junho e em agosto últimos. É sabido que as caraterísticas das bolsas da China são diferentes das ocidentais. Mas o que não se esperava foi o pânico instalado, desvalorização de 40% de algumas empresas, e a perda de muitos investidores que se sentiram como num casino. Investir e aplicar poupanças com mais tranquilidade é a agora a pergunta que anda na boca de muitos.
Onde investir o dinheiro depois da queda da bolsa chinesa?
Não vemos a queda da bolsa chinesa como um problema para os nossos investidores. Nós não investimos na China, investimos nos Estados Unidos e na Europa porque temos maior conforto com economias mais desenvolvidas e gostamos de investir em empresas que sejam marcas fortes com décadas de existência, por vezes até mais do que um século, e que têm provado serem excelentes empresas a criar riqueza para os acionistas.
Hoje estamos a investir com muito menos risco do que se o tivéssemos feito há um ou dois anos.
Somos, aliás, da opinião que a queda é positiva para os investidores disciplinados e que gostam de investir em valores seguros a prazo. Embora a percepção do público possa ser diferente, hoje, com as quedas a que assistimos, estamos a investir com muito menos risco do que se o tivéssemos feito há um ou dois anos. O que dita a segurança dos investimentos é a qualidade dos ativos em que investimos e o preço a que os compramos. Isso é o que nos permitirá preservar valor e aumentá-lo no futuro.
Voltando à China, devo dizer que somos da opinião que o que é mau para a China não é necessariamente mau para o resto do mundo. Este ano, a economia chinesa deverá crescer 7%, a taxa mais baixa dos últimos 25 anos. O governo chinês tem procurado reorientar a economia do investimento para o consumo. O abrandamento económico chinês, que explica muito da queda de 40% nos preços da matérias-primas, desde o seu máximo em 2011, tem impacto para um pequeno grupo de países exportadores de ferro e minerais. Segundo a empresa Emerging Advisors, as exportações de países desenvolvidos para a China representam menos de 9% das exportações totais destes países. À medida que a economia é orientada para mais consumo, é natural que os países mais ricos sejam os maiores beneficiados por essa transformação. As exportações dos Estados Unidos para a China representam apenas 0,9% do PIB americano.
A Bolsa chinesa tem estado a recuperar com as intervenções do governo e isso não é nada bom a prazo. Quanto maiores as bolhas, maiores tenderão a ser as correcções no futuro.
A correcção no mercado acionista chinês, que desde o início do ano até 25 de agosto estava a recuar cerca de 12%, tem provocado as mais variadas reações sobre o seu impacto no abrandamento da economia mundial. A verdade é que este mercado tem ainda um peso surpreendentemente pequeno: as ações disponíveis para negociação (o chamado free-float) equivalem a 1/3 do PIB do país, enquanto que nas economias desenvolvidas tem um peso superior a 100%. Os ativos financeiros dos agregados familiares investidos em ações são inferiores a 15%. Este é o motivo pelo qual as subidas tão elevadas registadas nos últimos anos nos mercados acionistas contribuíram pouco para aumentar o consumo na China e, por essa razão, as quedas não causarão grandes estragos no consumo. Muitas ações foram compradas com crédito e a desalavancagem forçada explica porque razão as iniciativas levadas a cabo pelo governo chinês não foram suficientes para estancar a sangria de imediato. Estes financiamentos representam apenas 1,5% dos ativos totais do sistema bancário chinês. No dia, 25 de agosto, o banco central chinês, anunciou a redução das reservas que os bancos deverão manter, libertando liquidez para o sistema bancário e reduzindo as taxas de juro. A 10 de setembro, por exemplo, o mercado chinês já só caía 1,14% em relação ao início do ano. A Bolsa chinesa tem estado a recuperar com as intervenções do governo e isso não é nada bom a prazo. Quanto maiores forem as bolhas maiores tenderão a ser as correcções no futuro.
A queda acentuada nas cotações no dia 24 de agosto permitiu-nos comprar ações de algumas empresas pelas quais esperávamos há vários anos.
Devo acrescentar que no dia 24 de agosto, a queda tão acentuada nas cotações nos permitiu comprar ações de algumas empresas pelas quais esperávamos há vários anos. Os índices europeus e norte americanos ainda não recuperaram.
O que fazer depois dos alarmes dados pela maior economia asiática?
Hoje os investidores têm muita dificuldade em aplicar as suas poupanças. Investir em produtos de taxa fixa continua a não ser alternativa de rendimento às ações. Ao analisarmos o que pagam hoje as obrigações de vários países, verificamos rendimentos muito baixos que, a prazo, “atarão” os investidores a rendimentos medíocres para 10 anos ou obrigarão a assumirem perdas para sair destes ativos antes do vencimento. As obrigações a 10 anos do tesouro americano, pagam 2,2%, o tesouro alemão paga 0,69% (têm taxas negativas até 4 anos), o Japão paga 0,35%, a França paga 1,10%, a Inglaterra paga 1,87% e o Canadá paga 1,48% e, até Portugal, emitiu recentemente dívida com yields negativos. O Norges Bank, que gere o maior fundo soberano do mundo, reportou uma perda de 2,2%, no trimestre, na sua carteira de obrigações. Quando as taxas começarem a subir quem estiver investido em obrigações perderá dinheiro.
Perante este cenário, na Casa de Investimentos temos estado a investir os valores que estão disponíveis em liquidez na compra de ações de boas empresas. O nosso objetivo é o crescimento de capital dos nosso clientes a médio e longo prazo. Por isso, investimos maioritariamente em títulos de empresas americanas e europeias, que hoje pagam dividendos muito superiores ao rendimento das obrigações. Procuramos empresas com história consistente de criação de riqueza para os accionistas. Gostamos que estes negócios sejam geridos por gestores capazes e com participação no capital da empresa. Por muito bom que seja o negócio e a empresa, gostamos de comprar a preços sensatos.
Os investidores devem ter uma estratégia de valor e manter-se fiéis a ela. Mudar de opinião cada vez que há um problema é mau.
É isto que os investidores devem fazer, devem ter uma estratégia de valor e manter-se fieis a ela. Mudar de opinião de cada vez que há um problema na China, na Grécia, na Ucrânia ou porque determinado dado económico nos Estados Unidos é mau, não faz sentido. Irão existir sempre problemas no mundo. Apesar disso, as melhores empresas continuarão a aumentar os seus lucros.
Estamos perante um problema semelhante ao provocado pelo Lehman Brothers?
Não, de forma alguma. A probabilidade de uma crise financeira hoje é muito menor porque os bancos estão muito mais sólidos e a regulação é bastante mais exigente.
O que devem fazer os pequenos e os médios investidores?
Genericamente, devo dizer que é fundamental ter um horizonte de investimento de médio e longo prazo, e estar preparado psicológica e financeiramente para as variações de curto prazo. Se for disciplinado e tiver paciência, poderá colher bons resultados.
Sugiro que sejam investidores em valor. Essa é a filosofia de investimento que nos tem permitido ter sucesso e conseguir boas rentabilidades para os nossos clientes. Não tentamos saber que preços cotarão os mercados na próxima semana ou daqui a um mês ou um ano. Sabemos, no entanto, que a maior parte das maiores e melhores empresas do mundo continuarão a fixar novos recordes de lucros daqui a 3, 5 ou 10 anos e que os seus acionistas serão largamente recompensados.
O “entusiasmo” da comunicação social empurra os investidores para más decisões e o factor medo assume o controlo na tomada de decisões
As variações entre preços máximos e mínimos observadas dia 24 de agosto são o resultado do trading automático, do uso de instrumentos especulativos e com enorme alavancagem, de milhões poderem comprar e vender ativos a partir do seu computador – sem qualquer preparação para o fazer – e da falta de convicção, da maior parte dos gestores profissionais de dinheiro, nas empresas em que investem. Estas atitudes potenciam variações enormes, que se verificam em minutos, como aconteceu. O “entusiasmo” da comunicação social empurra os investidores para más decisões e o factor medo assume o controlo na tomada de decisões.
Por si só, esta volatilidade não significa mais risco. Antes pelo contrário. Com o mesmo valor podemos comprar uma fração maior da empresa. Hoje, aconselhamos a que se faça o contrário do que fazem a maioria dos investidores, que teimam em estar sempre errados nos movimentos extremos de mercado. Haverá sempre uma justificação a posteriori para que grande parte dos investidores institucionais estejam hoje fora do mercado. Quanto mais não seja, estão a proteger o seu posto de trabalho e a sua carreira. Estes são os que ganham muito quando os clientes ganham alguma coisa.
Há sempre incerteza sobre o que será o futuro. Se tudo estivesse bem, não conseguiríamos comprar bons ativos a desconto do seu valor.
Nestas ocasiões de grande volatilidade, sabemos que muitos investidores que estão em dinheiro ou em equivalentes (depósitos a prazo e obrigações) se sentem confortáveis. Não deviam. Estão a optar por um ativo terrível para o longo prazo, que paga quase zero e que irá perder valor. As políticas seguidas pelos governos mundiais para resolver a crise trarão pressões inflacionistas a prazo e isso acelerará a queda do valor real dos ativos em dinheiro ou equivalente.
As ações conseguirão melhor performance que estes investimentos e, seguramente, por uma margem substancial. Esperar pelo conforto das boas notícias nos mercados é abdicar duma parte significativa da sua valorização.
Há certamente problemas preocupantes nas economias mundiais. Há sempre incerteza sobre o que será o futuro. Se tudo estivesse bem, não conseguiríamos comprar bons ativos a desconto do seu valor. Contudo, se os investidores não estiverem no mercado financeiro para correr os 100 metros e estiverem preparados para a maratona, tal como faz um bom empresário, os resultados serão muito satisfatórios.
10 MANDAMENTOS PARA INVESTIR NA BOLSA
- Preço, relativamente ao valor, é o factor mais importante. Ou seja, compre barato. Para isso, tente saber qual o valor aproximado de uma empresa. Sem saber quanto vale não sabe se está a comprar caro ou barato.
- Nunca invista num produto que não consiga compreender. Lembre-se que quantas mais operações fizer, mais comissões ganham as instituições financeiras.
- Se investir em ações, não se esqueça que estas representam uma parte de um negócio e não são apenas um pedaço de papel. Conferem-lhe o direito a uma fracção dos lucros da empresa.
- Tenha paciência. As acções não sobem de imediato.
- Não siga “dicas” ou compre para “entrar e sair” depressa. Deixe que os profissionais façam isso, se conseguirem. Não venda com más notícias. As más notícias são boas ocasiões para comprar.
- Preste atenção às sugestões das pessoas que respeita. Isto não significa que as aceite. Lembre-se que é o seu dinheiro que, de uma forma geral, é mais difícil manter o dinheiro do que ganhá-lo. Quando se perde uma grande quantia de dinheiro, é extremamente difícil recuperá-lo.
- Tente não permitir que as emoções influenciem o seu julgamento. O medo e a ganância são, provavelmente, as piores emoções que podemos ter na compra e venda de acções.
- Prefira acções às obrigações. As obrigações limitarão os seu ganhos e a inflação reduzirá o seu poder de compra.
- Não tenta adivinhar a melhor altura para entrar e sair do mercado. Não conheço ninguém que o consiga fazer de forma consistente.
- Lembre-se da palavra “composto”. Se conseguir retornos anuais de 12% e reinvestir o lucro, dobrará o capital em 6 anos. O investimento deve ser uma estratégia de longo prazo.