Sentei-me, em Barcelona, com a minha irmã Carol. As cadeiras que povoam a cidade e a forma como estão posicionadas convidam à comunicação. Desafío aceite.
Ficámos a observar o fluxo da cidade, a dinâmica vibrante e a forma como nos envolve e contagia. E assim surgiu uma reflexão sobre o impacto que os círculos em que nos movimentamos apresentam na nossa vida e nos resultados que vamos obtendo. A Carol está de acordo, vale a pena partilhar.
Quando viajamos percebemos que cada país vibra nas suas lentes enraizadas. Mesmo dentro da Europa sobressaem as especificidades que caracterizam os diferentes lugares e gentes. Seja a organização e eficácia dos países nórdicos ou a alegria e o calor dos países do Sul. É inegável que de alguma forma somos envolvidos na teia das suas premissas. Essa diversidade comportamental toca assim as vidas não só de quem visita mas sobretudo de quem lá reside.
Este fenómeno estende-se, na verdade, a todos os agrupamentos humanos. Já observou que tendemos a comportar-nos de uma determinada forma dentro de um grupo e de modo distinto quando frequentamos outro? Provavelmente estará a pensar: sim, claro! Todos nós desempenhamos diferentes papéis sociais, em grupos distintos, e por isso o nosso comportamento muda. Certo. Mas desafio-a a levantarmos um pouco mais o véu. Vejamos um exemplo. Imagine um pai de família, com um emprego estável, ocupando um lugar que lhe confere estatuto profissional, aprovado pela sociedade como um exemplo a seguir. Aos fins-de-semana este pai de família decide ir ver o jogo de futebol da sua equipa de eleição. E eis que ocorre uma transformação! No palco de um estádio de futebol, observamos uma conduta de hooligan. Terminado o jogo, e de regresso a casa, recupera o comportamento de pai de família.
Pois é. Na prática, cada um de nós desenvolve padrões comportamentais de acordo com os diferentes espaços sociais em que circula. Alguns deles, por escolha própria, outros por circunstâncias que nos ultrapassam, por exemplo a família, o país de origem, a escola que frequentamos na infância, etc.
Seja por escolha ou não, as lentes que colocamos acabam por ser o resultado das formas de pensar e de agir desses grupos. Quem nunca ouviu a célebre frase de Jim Rhon “Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive”? Se podemos quantificar de forma tão exata não o posso afirmar, no entanto, é inegável um quê de sabedoria nesta afirmação.
Mas… o que é que tudo isto tem que ver com as nossas conquistas?
A tendência de pensarmos e agirmos em conformidade com os grupos em que estamos inseridos, pode ser explicada recorrendo a diferentes perspectivas desde a abordagem sociológica, à teoria dos neurónios espelho, das neurociências. Mas vamos mais fundo. Hoje decidi partilhar convosco, uma ótica que foi revolucionária no meu percurso, e noutras tantas vidas que tenho acompanhado enquanto consultora do DeROSE Method, ao longo da última década. Estou a referir-me ao conceito de Egrégora.
“Egrégora’ provém do grego egrégoroi e designa a força gerada pelo somatório de energias físicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas, quando se reúnem com qualquer finalidade. Todos os agrupamentos humanos possuem as suas egrégoras características: todas as empresas, clubes, religiões, famílias, partidos, etc.”, DeRose.
A interação entre as pessoas de um grupo gera esta força de cariz particular denominada egrégora. E o mais interessante é a própria dinâmica do fenómeno. A partir do momento em que a entendemos temos a oportunidade de deixar de apenas fluir com o grupo e passar a ter decisões mais conscientes e de acordo com o que pretendemos.
A força gerada pela interação dos elementos que constituem o grupo é sempre superior à força individual, mesmo que um indivíduo tenha uma influência extraordinária. Na verdade, ele somará esse seu poder ao dos restantes elementos do grupo, acabando por reforçar o poder grupal. É claro que compreendendo o funcionamento do fenómeno o indivíduo poderá interferir e até alterar aspectos da mesma. Assim, percebemos como os modos de pensar e de agir dos grupos a que pertencemos, nos conduzem a determinados resultados que estarão em consonância com os mesmos. Ou seja, salvaguardando o devido mérito e esforço individual, podemos dizer que as nossas conquistas estão diretamente conectadas ao somatório dos diversos grupos a que pertencemos (família, amigos, empresa, país, clube, etc). Agora, já que o processo é inegável, como contar com o grupo para impulsionar as nossas conquistas?
O conceito de egrégora transparece não só a importância do discernimento nas nossas escolhas grupais a fim de alcançarmos os nossos objetivos, mas também a responsabilidade das lideranças perante os valores e comportamentos que imprimem nos grupos que criam ou gerem. A egrégora formada com um determinado objetivo ou sob determinados valores, tende a alimentar-se dos mesmos. Por exemplo, grupos desenvolvidos com o propósito de rebelião tenderão a alimentar-se de guerrilhas, violência. Já as egrégoras geradas com o objetivo de realizar, edificar, derivarão em comportamentos construtivos.
Se é certo que os grupos de pertença, aqueles de que fazemos parte independentemente da nossa vontade, como a família ou as escolas frequentadas na infância, são inalteráveis, a verdade é que podemos ter escolhas mais conscientes a propósito dos grupos de referência. Ou seja, sobre aqueles grupos que nos inspiram. Provavelmente, enquanto líder ou alguém que ambiciona grandes conquistas já integrou grupos que de alguma forma estão conectados às suas aspirações. Perfeito. Agora procure escavar mais. Sugiro uma espécie de raio X às suas escolhas. A empresa, a sua equipa, o clube, o grupo de network, o ginásio, a cidade em que se encontra, o país, etc….esses agrupamentos vibram na frequência que delineou para a sua vida? Este é um dos aspetos que mais tem vindo a impactar a vida das pessoas que acompanho enquanto consultora. A coragem de escolher círculos construtivos de acordo com o que pretende alcançar, bem como imprimir aos grupos que lidera, as condutas que pretende ver crescer, gera uma revolução que transforma não só a vida dos próprios, como de todos os que os rodeiam, gerando conquistas e realizações.
Lembre-se que a soma com pessoas que partilham os mesmos valores e objetivos gera essa força poderosa que a impulsiona ou afasta dos seus resultados. A escolha é sua.
Boas conquistas!
Andrea Miguel Freitas é cofundadora do Project Lifestyling, consultora na área do desenvolvimento pessoal e da qualidade de vida para high achievers. Leia mais artigos da autora aqui.