José António de Sousa: O LinkedIn e eu

José António de Sousa, colunista da Executiva, sobre os benefícios que retira da sua relação com o LinkedIn.

José António de Sousa fez a maior parte da sua carreira na liderança de multinacionais no estrangeiro.

José António de Sousa é gestor aposentado depois de quatro décadas na liderança de multinacionais de seguros.

 

As redes sociais fazem hoje parte indissociável das nossas vidas. Para muitos “surfistas”, como alguns descrevem os frequentadores, ou eles a si próprios, são uma extensão natural das suas vidas, quando não mesmo parte já do seu ADN pessoal.

Há quem não sobreviva hoje sem ter o telemóvel permanentemente na palma da mão, passando a vida a saltitar entre o “Face”, o “Insta”, o “X” (antes Twitter), o “TikTok”, os de “especialidades” várias, como os sites de encontros (“Tinder”) ou, como não podia deixar de ser, o “LinkedIn”, como rede de encontro corporativo, e de partilha de temas profissionais par excellence.

Pessoalmente, nunca estive no Facebook, nunca aderi ao Twitter (e portanto não estou no X) ou a qualquer outra rede exótica, e só ocasionalmente partilho conteúdos no Instagram, sem passar muito tempo a consultar o que terceiros, mesmo família e amigos, lá colocam.

Apesar de não andar, na fase atual (e futura) da minha vida, à procura de um novo desafio profissional, menos ainda de uma atividade remunerada (espero nunca mais ter de o fazer), é no LinkedIn que me “sinto em casa” em termos de partilha de conteúdos e de recebimento de informação de qualidade, por via de regra veraz e séria, sobre uma enorme variedade de temas.

Muitos destes temas não têm qualquer relação com os que eram vitais para a profissão que tive (profissional de seguros ao longo de 40 anos), como sendo temas de gestão, talento, marketing, vendas, produtos, etc. São temas que me interessam pessoalmente, como política, produtos industriais inovadores, novidades tecnológicas, assuntos de sociedade, turismo, obras públicas e um infinito etc., tão infinito quanto a capacidade das pessoas usarem o LinkedIn como montra para se exibirem, mostrarem as suas crenças e opiniões sobre o mundo que as rodeia, o que fazem, o que mexe com elas, e em que mundo gostariam de viver.

O bonito do LinkedIn é que tudo isto se faz com urbanidade, educação e respeito pelas opiniões de cada um, contrariamente ao que me dizem acontecer noutras redes, sobretudo no Facebook e no X.

No fundo, o LinkedIn é o que o mundo real, hoje crispado e intolerante, deveria ser. Um lugar de encontro de pessoas sérias, preocupadas com a sociedade em que vivem, que procuram enriquecer-se conhecendo melhor os interlocutores com os quais trocam argumentos, esgrimindo opiniões em tom educado e urbano, e respeitando as dos outros quando são discordantes.

Há quem entenda que o LinkedIn deveria ser uma espécie de plataforma exclusiva a funcionar como “headhunter digital”, onde as pessoas que procuram emprego se expõe na montra corporativa, ficando à espera que alguém se interesse pelo seu passado profissional, as suas competências, e os contacte. O CV, os “achievements”, os cursos de formação concluídos já em ambiente laboral, etc. são o isco colocado no anzol, dourados ao máximo para despertar o interesse de recrutadores profissionais, ou de concorrentes que os contactem diretamente, poupando os fees dos headhunters.

Acredito que o LinkedIn, sendo uma ferramenta excecional para conhecer os aspetos vitais do talento que se pretende contratar, não elimina de forma alguma o escrutínio de “caça-talentos” profissionais, nem o escrutínio, sobretudo esse, da empresa que quer trazer um estranho para dentro da sua cultura de empresa.

Vivemos num mundo frenético de aparências, de fakes perfeitos, e já quase indetetáveis, de trabalhos, teses, cartas e documentos preparados na íntegra por Inteligência Artificial, e começa a ser cada vez mais difícil conhecer uma pessoa na sua integridade, competência e verticalidade, a não ser quando já é tarde, ou seja, quando o erro (contratação) já foi cometido, e corrigi-lo é caro.

Chegam-me relatos cada vez mais frequentes, sobretudo depois da pandemia, quando muitos dos passos a ser dados na contratação de talento deixaram de ser em forma presencial, que descrevem situações de horror, como o do colaborador contratado via Zoom, exemplar durante o período experimental, que se quis reter no final, mas que, no dia dia seguinte a ficar efetivo, passou a comportar-se como um energúmeno, calino, intratável e pouco disposto a trabalhar! São exemplos certamente de exceção à regra, e não de regra.

As pessoas cada vez menos são, de facto, aquilo que o seu CV no LinkedIn, reduzido à descrição de uma vida formativa e escolar, e a um percurso profissional, nos mostram. Por isso considero que essa faceta do LinkedIn, de nos permitir ver como essa pessoa se apresenta, o que comenta (sobretudo fora dos temas meramente profissionais), como o faz, como redige os seus comentários (ai os erros de português, cada vez mais insólitos e primitivos…), como articula frases e pensamentos, nos dão a oportunidade de conhecer facetas cruciais do caráter e da formação da pessoa, que num processo de recrutamento e seleção por via de regra não surgem à superfície.

Para mim o LinkedIn tem-me servido também como montra pessoal para partilhar e enriquecer-me como ser humano, mesmo como “profissional não praticante”. São inúmeros os convites que me chegam regularmente para aprofundar conversas tendentes a oferecer-me posições de Board em variadíssimas indústrias e setores, e que eu, profundamente agradecido e honrado com a deferência, cordialmente declino (explicando as razões). São inúmeros os convites para ser representante de empresas estrangeiras que querem desembarcar em Portugal nos mais variados setores (com especial predominância obviamente dos seguros), e são inúmeros os convites dos mais variados contactos, sobretudo de jovens em início de carreira (25 a 30 anos), ou já com algum traquejo profissional, mas em clara encruzilhada de vida já (30 a 40 anos), que me procuram via LinkedIn, e me pedem para os receber presencialmente para career mentoring, para ser um sparring partner / personal trainer que os ajude a organizar pensamentos, a testar ideias de negócios, e até para receber input sobre aspetos pessoais, como a forma em que logrei conciliar uma vida profissional passada em lugares executivos de topo, mantendo uma vida familiar (e matrimonial…) sã, coesa, harmoniosa, unida. São estes encontros com jovens os que mais me enchem as medidas, mais me enriquecem como ser humano, e mais informação atual me trazem sobre o mundo em que vivemos, e o que que os jovens (que são o futuro) pensam. É uma forma de matar qualquer laivo estrutural de “velho do Restelo” que possa estar a querer ganhar lugar no meu cérebro, de me manter intelectualmente ativo e, espero eu, jovem de espírito. Thank you, LinkedIn!

 

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