Não mais tintas

Numa altura em que a juventude é um valor a perseguir, assumir os cabelos brancos pode prejudicar a sua carreira? A executive coach Ana Oliveira Pinto partilha a sua experiência e desvenda qual o impacto da decisão que tomou há dez anos

Ana Oliveira Pinto nota que agora é elogiada com muito mais frequência pelos seus cabelos brancos

A grande maioria das mulheres tem vergonha dos seus cabelos brancos, que ocultam na tentativa de esconder a da passagem dos anos. Foi isso que fez Ana Oliveira Pinto, que viu os primeiros fios brancos começarem a surgir aos 25 anos. Até que há dez anos decidiu assumir o seu tom natural e exibir o cabelo branco, bonito e bem tratado. Ana Oliveira Pinto é executive coach, certificada pela EMCC – European Mentoring Coaching Council. Com uma carreira feita em empresas como o Hay Group, a Novabase ou a PricewaterhouseCoopers, acumula mais de 20 anos de experiência a trabalhar em projetos de mudança e desenvolvimento organizacional e de talento, em sectores diversos. Nos últimos tempos, tem desenvolvido programas de mentoring com o objectivo de ajudar a progressão das mulheres nas empresas. Numa altura em que a juventude parece ser um valor a perseguir a todo o custo, a Executiva entrevistou-a para perceber se esta decisão teve impacto na sua carreira.

Em que idade começou a ter cabelos brancos?
A partir sensivelmente dos 25 anos.

Alguma vez pintou o cabelo?
Nunca pintei o meu cabelo com tinta, mas usei durante alguns anos o chamado Farandole, numa cor até bastante forte, de tonalidade ruiva.

Recebi comentários positivos: apelidavam-me de “raposinha do Ártico”.

Porque decidiu assumir os brancos?
Por dois motivos. Um muito pragmático: o tempo despendido no cabeleireiro e o facto de ter começado a sentir algum desconforto no couro cabeludo. O outro motivo que teve a ver com questões de identidade. Na altura em que tomei a decisão de assumir os meus brancos (2005), estava a passar por uma fase de mudança pessoal e profissional. Decidi assumir os meus brancos também para exprimir o meu novo ‘Eu’, materializando em algo muito concreto a mudança que queria concretizar. Acresce que o meu pai, desde muito cedo, teve a sua cabeça toda branca e sempre apreciei essa característica nele. Antecipei que iria gostar de me ver e sentir-me bem e assim aconteceu. Confesso ainda que, desde logo, recebi comentários positivos (por exemplo, apelidarem-me de “raposinha do Ártico”), sobretudo do género oposto, o que contribuiu para reforçar a decisão tomada. Hoje os meus cabelos brancos fazem completamente parte de mim.

Em termos profissionais, considera que essa imagem a prejudica ou beneficia? Ou não tem qualquer relevância?
A forma como nos apresentamos aos outros é sempre sujeita a uma leitura. Do que me tem sido dado perceber, é uma característica minha à qual, também em contexto profissional, as pessoas não ficam indiferentes, sendo habitual receber comentários espontâneos diretos muito positivos e que percepciono como genuínos.

Numa sociedade em que a juventude parece ser um valor a perseguir a qualquer custo, há alguma história que se tenha passado consigo por causa do cabelo branco?
Curiosamente, até ao momento, todas as situações que vivi relacionadas com os meus cabelos brancos têm sido todas muito positivas. A percepção que tenho é que as pessoas não inferem a minha idade com base nos meus cabelos brancos. Inclusive, a maior parte das vezes, as pessoas acham que eu pintei o cabelo de branco, ficando admiradas por ser um branco natural.

Que cuidados tem para ter o seu cabelo sempre bonito?
Não faço nada de muito especial. Dou-me o direito de arranjar o cabelo sempre no cabeleireiro (cabeleireiro de bairro) e uso um champô para cabelos brancos. Quem me arranja o cabelo já o faz há muitos anos e conhece bem como moldar o meu cabelo. Considero que o que faz verdadeiramente a diferença é o corte e a forma como o cabelo é moldado.

Nota alguma mudança de atitude das outras pessoas face ao seu visual, desde que se começou a usar (até em modelos jovens) os cabelos brancos?
O que noto agora mais é elogiarem-me com muito mais frequência pelos meus cabelos brancos e isso acontece em variadíssimos contextos, geografias e com pessoas muito diferentes.

PINTAR DE BRANCO

Hoje os cabelos brancos não estão necessariamente associados a velhice, pois cada vez mais as mulheres preferem assumi-los. Afinal, Miranda Priestly, a personagem e Meryl Street em O Diabo Veste Prada, já tinha provado que os cabelos brancos podem ser o ponto máximo do estilo.

A novidade é que os cabelos pintados de branco são agora tendência. Celebridades jovens como Rihanna e Pink pedem aos seus cabeleireiros o tom cinzento. Sharon Stone, Kelly Osborne, as gémeas Olsen, Lady Gaga e Nicole Richie já foram vistas de cabelo branco. De tal forma que nas redes sociais se criou a hashtag #grannyhair. O pior é que esta etiqueta significa cabelo de avozinha. Será que ainda não perceberam que branco é cool.

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