Jennifer Chatman estava no seu auge, habituada a lecionar sem quase nunca duvidar das suas capacidades. Contudo, ao entrar nos seus 40 anos e à medida que foi ganhando mais experiência, apercebeu-se de algo invulgar: as avaliações das suas aulas começaram a piorar. “O meu ensino estava a melhorar, mas os alunos eram mais duros comigo”, explica a professora titular na Haas School of Business, da Universidade de Berkeley, que co-liderou um estudo que dá apoio empírico à sua experiência sobre as consequências das percepções estereotipadas para as mulheres na meia-idade enquanto profissionais.
O estudo, que foi publicado na Organizational Behavior and Human Decision Processes, chegou a uma conclusão inquietante: tanto os homens como as mulheres são percepcionados como mais capazes à medida que envelhecem, mas apenas as mulheres são vistas como menos cordiais, sendo julgadas com maior facilidade e mais severidade.
A análise concluiu ainda que as avaliações feitas a professores masculinos são consistentes ao longo do tempo, mas as das mulheres têm um declínio rápido, desde o seu pico nos 30 anos até atingirem o que os autores do estudo chamam “fundo do poço”, altura em que as críticas são mais duras e negativas, por volta dos 47 anos de idade.
Num momento em que as mulheres começam a aproximar-se da paridade nas escolas de negócios e ainda constituem apenas 7.4% dos CEO do S&P 500, as consequências podem revelar-se fatais para a ambição e para a carreira das mulheres. “A meia idade é um momento decisivo, em que as pessoas estão a ser preparadas e consideradas para cargos de topo”, alerta Chatman.
A cordialidade e a ação (do inglês “warm” e “agency“, respetivamente) são duas métricas fundamentais para os investigadores das Ciências Sociais quando julgamos as pessoas ao nosso redor. Estudos anteriores comprovaram que, em geral, as mulheres são estereotipadas como sendo mais cordiais ou afetuosas do que os homens, enquanto os homens, tendencialmente, tomam mais iniciativa (daí a “ação”) e são vistos como mais capazes e assertivos. Tal se explica pelos cânones tradicionais do género, em que as mulheres eram responsáveis pela educação dos filhos e os homens caçavam ou trabalhavam.
No caso deste estudo, e tendo em conta os resultados, os investigadores sublinham que são contra a ideia de que as mulheres têm de se esforçar para ser ou mais cordiais e afáveis, ou menos capazes. “Odiaria que a mensagem fosse de que as mulheres precisam de ser mais cuidadosas com a forma como se apresentam”, afirma Chatman, lembrando que esta é uma luta que qualquer mulher que já se tenha sentado numa reunião com homens excessivamente confiantes conhece e que não deve existir medo em falar sobre duplos padrões.
Laura Kray, colíder, professora e diretora do Center for Equity, Gender, and Leadership de Berkeley Haas, também deixa um apelo. “Temos de criar sistemas e padronização para a forma como falamos sobre os candidatos e os avaliamos e, ou excluir o feedback sobre a personalidade, ou assegurar que este é considerado de igual forma para os homens”. Kray reforça ainda que, à medida que as mulheres sobem na hierarquia, o seu conhecimento em primeira mão desses estereótipos pode ajudar a educar os homens à sua volta para que tomem decisões baseadas no mérito e na competência e não no grau de simpatia e cordialidade dos candidatos.
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