Texto de Maria Domingas Carvalhosa, CEO da Wisdom Consulting
Em 2011, e em resposta à oposição, Miguel Relvas declarou que “Quem entende que tem condições para encontrar [oportunidades] fora do seu país, num prazo mais ou menos curto, sempre com a perspetiva de poder voltar, mas que pode fortalecer a sua formação, pode conhecer outras realidades culturais, [isso] é extraordinariamente positivo”.
E assim foi. Face à falta de expectativas apresentadas pelo país, os millennials, que puderam, partiram para outras paragens, quer para trabalhar, quer para estudar. Como dizia a Governação, se não se “safam” cá vão “safar-se” noutros países.
Estes famosos conselhos não seriam mais do que um “pleonasmo” da realidade já que, obviamente, todos sabíamos, jovens e educadores, que se o país não dá, ou não pode dar valor ao talento, haverá sempre quem o faça. E desta forma, Portugal perdeu milhares de jovens que, durantes os últimos anos, aprenderam, ganharam experiência e tornaram-se altamente qualificados no estrangeiro.
De facto, hoje, contribuem alegremente para o desenvolvimento, para a inovação e para o PIB de outros países evoluídos. Alemanha, Reino Unido, França, Áustria, Estados Unidos ou Espanha possuem grandes académicos e investigadores, engenheiros e gestores de topo, médicos com um alto grau de especialização, fantásticos designers e marketers. Só que muitos são “nossos” e estão a contribuir para a competitividade alheia.
Relembre-se que em 2019, um estudo da ManpowerGroup revelou que, nesse ano, houve a maior escassez de talento qualificado nas empresas portuguesas da última década. A dificuldade em contratar subiu 11% em Portugal (57%, acima da média europeia). Se juntarmos a factos como a falta de desafios cativantes e a flexibilidade no trabalho, as indesejáveis técnicas corporativistas de afastamento de quem não é licenciado, ou pós-graduado ou formado profissionalmente no nosso país, estes cidadãos valiosíssimos dificilmente conseguirão voltar à casa-mãe.
Acrescente-se ainda que o mesmo Estado que indicou, amavelmente, a porta de saída a uma toda geração é o mesmo que não cria medidas de apoio à integração destes profissionais.
Convém não esquecer que, nos últimos anos, estes millennials “exportados” criaram uma poderosa network de contactos nos países que os acolheram, mas, em simultâneo, perderam, com o tempo, a que detinham em Portugal. E nós sabemos a importância de se ser conhecido ‘no mercado de trabalho’.
De facto, é com pena que vejo, todos os dias, jovens com as melhores capacidades profissionais e com os melhores currículos quererem regressar ao seu país com a sua jovem família, ou mesmo para criar uma, e encontrarem as portas fechadas. “O prazo mais ou menos curto, sempre com a perspetiva de poder voltar”, citado em 2011, tornou-se cada vez mais longo e a possibilidade de voltar cada vez mais estreita.
Se queremos crescer e se sonhamos ser um país evoluído e inovador não podemos desperdiçar o talento e a especialização nacional oferecida por estes jovens expatriados.
Não se admite a um país que engane toda uma geração.
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