Joana Trigueiros: de Maray lover a Maray owner

Joana Trigueiros, CEO da Maray, explica o que a levou a deixar uma carreira no marketing para adquirir a marca portuguesa de sapatos colocada à venda pela sua fundadora.

Joana Trigueiros é CEO e sócia da Maray.

Joana Trigueiros nasceu numa família de empreendedores, ligada aos sapatos. “Antes de saber ler e fazer contas, já vendia sapatos!”, conta. Quando a oportunidade surgiu, deixou tudo para seguir esta paixão. A executiva, que desempenhava funções de directora de marketing da Danone, explica o que a levou a deixar uma carreira no marketing para adquirir a marca portuguesa de sapatos Maray, colocada à venda pela sua fundadora.

 

Existe uma Joana antes da Maray. Como foi o seu percurso até chegar aqui?

A minha história confirma o ditado de que “não há coincidências”. Nasci numa família ligada aos sapatos. Costumo dizer que, antes de saber ler e fazer contas, já vendia sapatos! Depois, fiz o meu percurso sempre ligado à gestão (embora me tenha formado em Economia na Nova SBE) em multinacionais como a KPMG, Unilever e Danone, onde estive grande parte do tempo na área de marketing, em nutrição especializada, entre Portugal e Espanha. Aprendi muito do ponto de vista de gestão e de liderança nos desafios que tive e com as pessoas com quem partilhei esta jornada. Mas venho de uma família de empreendedores e esse projeto fazia parte dos meus planos, ainda que não tivesse claro exatamente em que área.

 

No meio de um scroll de Instagram, lá estava um post da Maray em que dizia que a marca iria “ficar adormecida”… Enviei uma mensagem privada, perguntando se não tinham interesse em vender a marca. Um mês depois, a Maray estava nas minhas mãos!

 

Como surgiu a oportunidade de adquirir a Maray e porque é que o projeto a entusiasmou?

Fez agora quatro anos, entrei numa fase em que me senti mais preparada para pensar num negócio meu. Cheguei a pensar num curso de PNL (Programação Neuro Linguística) para me especializar em dar formação em liderança, já que gosto muito de lidar com pessoas. Por coincidência ou obra do destino, conheci a Maray através de uma colega da Danone e tornei-me imediatamente numa “Maray lover” pelo facto de serem rasos, elegantes e irreverentes. Uns meses mais tarde, no meio de um scroll de Instagram, lá estava um post da Maray em que dizia que a marca iria “ficar adormecida”… Enviei uma mensagem privada, perguntando se não tinham interesse em vender a marca. Um mês depois, a Maray estava nas minhas mãos!

 

O que a levou a abandonar uma carreira no marketing de grande consumo na área da nutrição especializada para adquirir uma marca de sapatos?

Eu acredito muito no destino e a verdade é que a Maray veio ter comigo no momento certo. Depois de tantos anos a trabalhar nutrição especializada, onde adorei estar, a verdade é que precisava de algo diferente. A moda não foi sonho, mas destino! E há sinais que a vida nos dá e que não podemos ignorar. Ainda estive três anos a fazer as duas coisas. A passagem entre a compra da Maray e a saída da Danone não terá sido imediata até porque, três meses depois de comprar a Maray, aconteceu a pandemia que nos obrigou a estar em casa de pantufas. Decidi aguardar até sentir que a economia estaria mais estável. Isso não aconteceu por motivos evidentes, mas eu senti-me preparada em Junho de 2022 para abraçar de corpo e alma este projeto onde tenho aprendido e desfrutado muito.

 

Tenho espírito empreendedor, mas trato a Maray como se fosse uma grande empresa. Nas multinacionais por onde passei, tinha outros departamentos e agências que me ajudavam a dar vida às estratégias que delineava. Tudo funcionava como um ecossistema. Mas aqui… dependia tudo de mim.

 

Como se preparou para abraçar uma área de negócio completamente diferente e com desafios diversos?

Sempre fui uma pessoa muito hands on. O facto de ter estado três anos a fazer as duas coisas permitiu-me ir “apalpando terreno”, falando com pessoas que já eram empreendedoras. Acho mesmo que me encontrei. Tenho espírito empreendedor, mas trato a Maray como se fosse uma grande empresa. Nas multinacionais por onde passei, tinha outros departamentos e agências que me ajudavam a dar vida às estratégias que delineava. Tudo funcionava como um ecossistema. Mas aqui… dependia tudo de mim, pelo que aprendi a mexer com sistemas com os quais não tinha qualquer experiência, mas tudo se faz. Sempre que posso, estou na loja e nos mercados que ainda fazemos. É uma oportunidade de ouro para falar com as minhas clientes e para perceber onde posso melhorar para lhes trazer as propostas de valor que fazem mais sentido para elas e para a marca.

 

Em que é que a experiência do passado a ajuda nesta nova fase?

A verdade é que em quase tudo. A maturidade profissional e a experiência fazem com que me tenha tornado capaz de abraçar este desafio com a coragem e energia que preciso. A entender a diferença entre custos e investimentos. A cabeça orientada para o negócio e a importância do que colocas no mesmo para que ele cresça de forma sustentável. Nem tudo está na beleza daquilo que criamos. É importante termos uma visão, uma ambição e um caminho para lá chegarmos. Não tenho pressa, mas sei onde quero chegar.

 

Quais os factores diferenciadores da Maray?

A Maray tem três fatores que claramente contribuem para que se distinga no mercado. O design: ninguém fica indiferente ao design irreverente e divertido da marca. Ainda que não tenham branding explicito, é evidente em cada modelo que são Maray. O conforto: todos os nossos modelos são muito confortáveis, mesmo os bicudos. E o serviço: gostamos muito do que fazemos e colocamo-nos sempre “nos pés” do cliente. Queremos garantir que tudo corre bem. Quando não corre, fazermos todos os esforços para resolver, superando a expectativa do cliente em grande parte das vezes.

 

Foquei-me em abrir loja física, já que sempre vi como um passo basilar para dar credibilidade ao on-line. Depois evoluí a distribuição para um modelo com algumas lojas multimarca onde já marcamos presença em Portugal e onde gostamos de garantir exclusividade.

 

Quais os principais desafios que teve de enfrentar ?

A Maray já existia pelo que quis muito manter o ADN pelo qual me apaixonei, ainda longe de saber que a marca, um dia, viria a ser minha. Embora tenha bastante noção do que é necessário para fazer crescer a empresa, nem sempre tenho a clareza por onde devo começar, já que os recursos nunca são ilimitados. Mas as coisas foram acontecendo naturalmente.

Foquei-me em abrir loja física, já que sempre vi como um passo basilar para dar credibilidade ao online. Depois evoluí a distribuição para um modelo com algumas lojas multimarca onde já marcamos presença em Portugal e onde gostamos de garantir exclusividade. A equipa foi crescendo à medida das necessidades ou quando foi possível e o investimento tem sempre sido com capital próprio, meu e da minha sócia Sara Vicente Barreto. Os desafios prenderam-se mais com contextos socioeconómicos que afetaram muitos negócios bem como encontrar as pessoas certas com quem trabalhar.

 

Que aprendizagens fez enquanto empresária e que erros não voltaria a cometer?

Que tudo leva o seu tempo e que, muitas vezes, temos de experimentar mesmo que não tenhamos a garantia de que vai correr bem. Mas faz parte do processo de qualquer negócio. Se voltasse atrás, seguramente que contrataria mais cedo para poder libertar o meu tempo para coisas onde posso fazer a diferença.

 

Quais os sonhos para o futuro?

Levar a Maray além-fronteiras. Ainda que já tenhamos 12% das vendas para fora de Portugal, quero muito que esta fatia seja substancialmente maior no futuro, com a conquista de B2B (Business to Business). Fazer crescer a equipa faz parte deste caminho já que, de certa forma, estão de mãos dadas.

 

Leia sobre Sara Vicente Barreto, sócia de Joana Trigueiros,

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