Isabel Stilwell, jornalista e escritora, autora de sete romances históricos sobre rainhas portuguesas, falou no dia 23 de janeiro no Women Leader’s Fórum, da AESE, respondendo às questões: “Será que existe um denominador comum entre mulheres que viveram em épocas tão diferentes da História, com missões tão distintas? Até que ponto é que uma “coroa” as pode unir?”. A escritora e jornalista começou por confessar que este tema foi um verdadeiro desafio, pois está normalmente habituada a procurar a singularidade de cada personagem, as diferenças entre elas e não o que têm em comum, mas para quem assistiu, Isabel Stilwell fez um notável trabalho de síntese do vasto conhecimento que tem sobre estas sete mulheres que já retratou em livro e deixaram a sua marca na História, e não só na de Portugal.
Filha de um historiador e desde sempre consumidora de romances históricos, quando a desafiaram para escrever o primeiro, receou não estar à altura. O que a fez avançar sem vacilar foi uma provocação da mãe, quando a ouviu dizer a Peter, um dos seus sete irmãos: “A sua irmã pensa que vai escrever um romance histórico”. Era o empurrão de que precisava. Sete anos depois conta com sete rainhas retratadas e orgulha-se de ter conseguido descobrir pormenores sobre as personalidades e as vidas destas mulheres que nem os historiadores tinham percebido antes.
Deixamos algumas das ideias-chave que Isabel Stilwell partilhou na AESE sobre o que têm em comum as sete rainhas portuguesas e que provam que as mulheres sempre souberam exercer a sua influência e poder, mesmo quando aparentemente não os tinham.
. Na sua essência são iguais a nós. A cultura e a época histórica podem modelar a forma como expressamos os nosssos sentimentos, mas a essência humana permanece basicamente a mesma. Mantemos a mesma sensibilidade. Comovemos-nos, sentimos ciúme ou raiva, ou choramos a partida dos entes queridos com o mesmo pesar.
. Não eram mulheres livres. Nasciam para cumprir uma função e o seu futuro era traçado logo que davam o primeiro grito à nascença, sendo muitas vezes usadas pelos pais como peões de estratégias políticas. Não tinham voz, se não através do seu seu pai ou marido. Só eram faladas na medida em que eram relevantes para os homens.
. Tinham uma noção do poder como serviço e uma educação acima da média. Os monarcas eram considerados uma escolha divina e por isso sentiam a responsabilidade de estarem ao serviço de Deus e dos outros. Essa humildade era patente, por exemplo, na cerimónia de lava pés, em que os reis imitavam os gestos de Cristo.
. Sabiam o que se esperava delas. Desde pequenas que lhes era transmitida a ideia do poder do serviço – sabiam que a sua missão era servir a Deus e aos outros, e tinham sentido de justiça.
. Foram influenciadas por mães poderosas. A maioria teve como mãe, mulheres que agiram e mudaram a realidade à sua volta. Mas também tiveram avôs ou pais que as escutaram e acreditaram nas suas ideias.
. Não tinham problemas de autoestima. O facto de saberem o que se esperava delas, ajudava-as a preparem-se para se sentirem à altura quando os momentos cruciais chegavam. Tinham orgulho na sua linhagem.
. Foram mulheres de poder não prescindindo dos seus outros papéis. Apesar do seu papel de mães e de mulheres do rei, todas estas mulheres assumiram outros papéis fora da alçada familiar, ajudando a transformar a realidade à sua volta.
. Rodeavam-se de um núcleo duro. Apesar de viverem rodeadas de muita gente, as rainhas portuguesas conheceram a solidão. Nos ambientes de intriga das cortes, estas mulheres não tinham dificuldade em perceber em quem podiam confiar, rodeando-se de um grupo restrito de pessoas que lhes dizia o que se passava à sua volta e as verdades sobre elas próprias quando assim tinha de ser. E sabiam gerir os conflitos, as intrigas, as traições.