Anabela Possidónio, diretora-geral da Operação Nariz Vermelho
Felizmente, parece que já longe vão os anos da pandemia, das restrições ao convívio e do isolamento. Também para trás ficou a obrigatoriedade do teletrabalho, que, pese embora possa ter tido um impacto positivo na vida pessoal de alguns – permitindo-nos ter mais tempo em casa, junto das nossas famílias e amigos, e desenvolver hobbies e interesses para os quais, de outra forma, não teríamos disponibilidade –, teve, por outro lado, um impacto mais negativo na nossa vida profissional. Estudos vieram revelar que, aquando do regresso ao trabalho presencial ou nos escritórios, muitos disseram sentir-se desligados dos colegas e chefias, denunciando uma quebra no espírito de equipa, tão necessário ao êxito das empresas. Passarmos tanto tempo a ver-nos em pequenos quadradinhos nos computadores uns dos outros diminuiu a empatia e entreajuda essenciais para se trabalhar em conjunto e em prol de um mesmo objetivo. Ficámos mais ciosos do nosso espaço e das nossas prioridades e menos disponíveis para as dos outros. Concentrámo-nos na nossa bolha e ficámos menos disponíveis para nos adaptarmos às necessidades dos nossos colegas e parceiros. Mas porque uma empresa é tão forte quanto a união dos seus elementos, não podemos deixar este isolamento prolongar-se.
O desafio com que muitos líderes e gestores se depararam no «regresso à normalidade» foi precisamente este: como promover o espírito de equipa e inspirar os colaboradores a voltar a trabalhar de braço dado, para cumprir as metas e alcançar o sucesso no trabalho?
Como disse Saramago, “é preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. Daqui retiramos que é importante sair das rotinas e ter experiências «fora do habitual» para o nosso local de trabalho, momentos disruptivos que nos levem a todos para um outro cenário ou ambiente e nos permita olhar para nós vistos de fora. E melhor ainda se este momento for de leveza e descontração, um momento positivo para todos os envolvidos. Traz uma “lufada de ar fresco” e permite-nos relaxar e reconhecer que, mais do que um problema, o que temos diante de nós é uma oportunidade para nos desafiarmos e melhorarmos todos juntos.
Perante esta inquietação, dentro da Operação Nariz Vermelho surgiu a pergunta: como podemos usar a nossa arte do improviso e levar conexão para dentro das empresas? Como é que, usando a escuta ativa, o olhar e a perceção, podemos contribuir para que as equipas fiquem mais coesas e as pessoas mais felizes? Como podemos ultrapassar as portas do hospital e estender a nossa missão à sociedade?
É isso que oferecemos às equipas e empresas que nos contactam à procura de uma forma de potenciar a conexão entre os seus colaboradores. O desafio apresenta uma oportunidade de superação para quem nele participa, e permite-nos levar algumas das técnicas artísticas que os Doutores Palhaços apresentam às crianças hospitalizadas, e também às suas famílias e aos profissionais hospitalares, a um público mais alargado. Permite também que as empresas, além de poderem experimentar de forma prática e lúdica alguns conceitos que regem a linguagem do Palhaço, com os workshops, cápsulas do improviso e outros produtos de formação que levamos ao seio das empresas, estejam também a ajudar a Operação Nariz Vermelho a angariar os fundos necessários para garantir a continuação do programa de visitas hospitalares dos Doutores Palhaços nos 19 hospitais, de norte a sul do país, que visitam. No fundo, todos ganhamos, e estamos convictos que as equipas que tiverem a oportunidade de conhecer mais de perto o trabalho da Operação Nariz Vermelho, perceberão quão impactante pode ser abraçar o “Sim!” em equipa, “quebrar o gelo” que possa ainda restar de um período mais complexo nos relacionamentos entre colegas e incentivá-los a trabalhar soft skills cada vez mais essenciais para o sucesso do trabalho de equipas.
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