Trabalha há 23 anos na área de healthcare, tendo passado por várias experiências de liderança em diferentes negócios, com níveis de maturidade distintos. O seu percurso foi sendo feito de “forma natural”, mas tendo sempre subjacente a “vontade de experimentar novas realidades e sair da zona de conforto”. Começou na Johnson &Johnson, de onde transitou para a AbbVie e desta para a Therakos, de onde saiu para a Mallinckrodt Pharmaceuticals.
Hoje, a partir de Lisboa, Inês Teixeira Gonçalves é a responsável de External Relations and Professional Education EMEA para os mercados europeus, da América Latina e da Ásia. Trabalha diariamente a partir de casa, e na sede da empresa apenas a cada 15 dias. O contexto da pandemia da Covid-19 e a necessidade de teletrabalho não alteraram muito a sua rotina. As viagens frequentes deixaram de ser possíveis, mas já estava habituada à ginástica necessária para liderar equipas virtuais, assegurando o sucesso de projectos e o desenvolvimento do talento pessoal de cada colaborador, conciliar agendas em diferentes fusos horários, e acompanhar as três filhas. Ainda encontra tempo para jogar padel e adora decoração, tendo concluído uma formação nesta área em Londres.
Qual era o seu sonho quando tirou Contabilidade e Gestão?
Achava que o minha vida profissional seria na área de auditoria e consultoria. Fui crescendo e fui compreendendo que os meus assets tinham muito mais a ver com outras áreas de gestão, fui-me aperfeiçoando, desenvolvendo e traçando o meu percurso. Acredito que isso tem também a ver com o nosso crescimento como pessoa. Criatividade e relacionamento humano é algo que me caracteriza.
A par do meu trabalho, fiz várias especializações em Marketing Estratégico, Digital e Inovação, licenciei-me em Design de Interiores em Londres, pois é algo que adoro e que faço out of hours, e actualmente estou a desenvolver-me na área do coaching sistémico.
Como entrou na indústria da saúde?
Entrei nesta área por acaso. Quando acabei o curso estava muito virada para a área de consultoria, mas surgiu um projecto na Johnson & Johnson Medical Devices, aceitei, adorei trabalhar lá e todas as oportunidades que me deram, e assim tudo começou… Tenho tido muita sorte, pois em todas as empresas por onde passei aprendi sempre imenso, quer com pessoas a quem reportei, quer com pessoas que reportaram a mim e com quem partilhei funções. E deixei amigos para a vida .
Qual foi o maior desafio da sua vida profissional e porquê?
Tive vários desafios, um deles foi entrar na área da indústria farmacêutica quando não tinha na altura experiência na mesma. Larguei um projecto sólido e que gostava pelo desconhecido, pelo gosto de aprender algo novo e melhorar as minhas competências. Outro desafio foi quando entrei na empresa onde estou hoje em que passei a ter responsabilidade global na área de marketing, um demand de viagens elevado, com a minha vida familiar para gerir, alterando drasticamente a minha forma de trabalhar .
São normalmente as crises que fazem reinventar os seres humanos, as organizações e as sociedades .
Em que consiste e quais os principais desafios da função que hoje desempenha?
A função que desempenho trata da educação de profissionais de saúde, parcerias estratégicas e relações com doentes. Melhorar a vida do doente sempre foi a minha inspiração e o meu drive em todos os projectos que desenvolvo. Sinto um propósito maior no meu trabalho e isso dá-me enorme satisfação profissional e pessoal. Nesta função há um delinear de estratégias holísticas com um fim comum, que é o de melhorar o acesso dos doentes a terapias inovadoras e educação do ecossistema de saúde, envolvendo todos os key stakeholders, e acima de tudo melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
O maior desafio é entender as nuances de cada mercado, estudar como se estrutura o sistema de saúde e trabalhar em iniciativas que gerem real valor acrescentado no contexto específico, encontrando os melhores parceiros locais e estabelecendo contactos diferenciados e gerando benefícios para todos os intervenientes .O comportamento e posicionamento cultural é diverso, e a inteligência emocional, rapidez e flexibilidade são chave.
O que é a que a pandemia da Covid-19 mudou na sua vida profissional?
Viajava de avião com bastante regularidade, quer para reuniões internas, quer para contactos com players externos. No meu caso pessoal, isso mudou para melhor, pois tenho muito mais tempo para estar com as minhas filhas.
E na organização da empresa?
A nível da empresa, houve um reposicionamento, mas assisto a constante inovação em abordagens, ferramentas e também novos projectos e iniciativas. São normalmente as crises que fazem reinventar os seres humanos, as organizações e as sociedades.
Quais os desafios de coordenar equipas de diferentes nacionalidades a partir de Lisboa?
A estrutura da minha empresa é matricial e trabalhamos muito em equipas cross function, o que agiliza imenso todos os projectos desde o design à activação dos mesmos. Tento coordenar todas as minhas reuniões em tempo útil GMT. Claro que com a Austrália e Japão é mais difícil, nesses dias levanto-me um pouco mais cedo.
Qual a sua experiência de teletrabalho e como garante que é produtiva e mantém as necessárias relações pessoais?
Há oito anos que trabalho em home office. Penso que a produtividade é a mesma ou até maior, do ponto de vista de entrega, mas tem que se ser disciplinado e saber onde termina o trabalho e começa a vida pessoal. Criar espaços diários para fazermos algo que nos dá prazer e para conviver. No caso das relações humanas, que é algo difícil e não tão fluído, temos que criar momentos para tal.
Pensa que o teletrabalho veio para ficar ou é uma necessidade transitória, nestas circunstâncias?
Penso que foi forçado na maioria das empresas, mas mostra que a produtividade dos colaboradores e os resultados não dependem de forma alguma das idas ao escritório. É um momento para a liderança das empresa abrir o mindset, pois estávamos bastante desfasados do resto da Europa. Na minha opinião, veio para criar novas formas de trabalho, maior flexibilidade e formas híbridas quando a pandemia terminar.
Qual a parte do seu trabalho que mais a entusiasma?
Liberdade. Criação e implementação de projectos inovadores e a adaptação a diferentes realidade, desenvolvimento de ferramentas de educação de doentes. Aprendizagens com os doentes.