Inês Brandão, a nova bloguer da Executiva

Depois de quase 15 anos a trabalhar por conta de outrem na área dos polímeros, Inês Brandão decidiu lançar a sua empresa, mesmo sabendo que se iria mover num mundo predominantemente masculino. A partir de hoje, assina o blogue FRENomenal.

Inês Brandão é fundadora da Frenpolymer.

Inês Brandão é licenciada em Engenharia Química há mais de 20 anos, fundou a empresa Frenpolymer em 2013, e tem-se dedicado ao desenvolvimento de mercados na área dos polímeros. Com parcerias estabelecidas por todo o mundo, gosta de dizer que nas suas viagens “leva consigo a responsabilidade de ser portuguesa”. Trabalhando em sectores com uma maior predominância masculina, tem como preocupações a igualdade de género e uma sociedade mais justa e humana. O seu maior orgulho é a família, na qual se destacam os seus dois filhos adolescentes, que todos os dias lhe garantem uma boa gargalhada e descontração. Gosta de escrever, de falar, de cantar, de dar a sua opinião, e tem um marido e amigos que resistem a tudo isto há muitos anos. Na faculdade, os colegas puseram-lhe a alcunha de “frenética” e Inês tenta, até hoje, fazer jus a esta denominação.

 

O que a levou a deixar uma carreira por conta de outrem para lançar uma empresa?

Sempre foi uma vontade minha, desde que estudei engenharia, ter o meu negócio e trabalhar de uma forma independente, criar algo meu que pudesse, um dia, representar um legado, por muito pequeno ou pouco abrangente que fosse. Todavia, quando comecei a minha vida profissional, abracei o desafio e envolvi-me no projecto onde iniciei a minha carreira de corpo e alma. Fui muito feliz nos anos que trabalhei por conta de outrem, gostei imenso das equipas com que ia trabalhando, aprendi muito e cresci como pessoa e engenheira. No entanto, e muito fruto da crise económica que vivíamos na altura, comecei a não me identificar com algumas decisões, a pensar que poderia fazer diferente, e decidi então dar vida ao meu sonho, que era criar o meu caminho e ser livre na forma como via a minha ideia para o negócio da distribuição de produtos químicos.

Quais as principais aprendizagens que fez nesta nova etapa da sua vida?

Nunca me arrependi. Mesmo nos momentos mais difíceis, em que tive de me reinventar e recomeçar, nunca me passou pela cabeça “porque é que me meti nisto?”.  Aprendi a ser resiliente. A não ter medo. E a fazer, a andar para a frente, sem perder tempo com o que não se conseguiu.

Neste processo de crescimento, (re)conheci-me. Percebi em que áreas posso fazer a diferença, que actividades me trazem satisfação pessoal e profissional. Isso obrigou-me a deixar para trás algumas visões românticas que eu tinha sobre determinadas funções que eu achava ser capaz de assumir. Adquiri uma boa dose de auto-conhecimento e consciência das minhas capacidades.

As minhas maiores desilusões foram com pessoas e empresas nos chamados países desenvolvidos, onde teoricamente valores éticos e empresariais deveriam estar mais presentes. Talvez tenha baixado a guarda por isso mesmo.

Trabalha com mercados tão diferentes como Coreia, Canadá, Colômbia ou China. Qual a situação mais estranha que lhe aconteceu (em negócios)?

Não sei se se inclui na categoria de “estranho”, mas apercebi-me que a imagem pré-concebida que todos temos dos povos do Mundo está, na maioria das vezes, incompleta e é principalmente muito redutora. As minhas maiores desilusões foram com pessoas e empresas nos chamados países desenvolvidos, onde teoricamente valores éticos e empresariais deveriam estar mais presentes. Talvez tenha baixado a guarda por isso mesmo. Sinto-me tranquila e relaxada na Europa, gosto muito dos países latinos e tenho contactos com pessoas impecáveis na Ásia. A pessoa mais parecida comigo que conheci a nível profissional é uma chinesa, que ainda hoje é minha amiga. É uma mulher com uma vida familiar em tudo semelhante à que eu tenho, que viaja e é o marido e os pais que a apoiam com os filhos. Que tem convicções políticas, sonhos profissionais como os meus, gosta de sapatos e perfumes e desesperou com a pandemia e os miúdos em casa a ter aulas meses a fio. Na verdade, somos todos pessoas, a viver em nações que nos facilitam mais ou menos a vida, mas que não deixam de ter sentimentos, desejos, vontade de ser ouvidos e sentir que contam e que fazem parte de um bem comum. Sentido de pertença. Tendo isto como presente, sabendo também das minhas fragilidades e por isso nunca partindo de uma posição de superioridade, tem-me ajudado em todos os meus contactos. Mas Portugal será sempre a minha casa. Sempre.

Se tiver, no entanto, de partilhar um momento marcante, talvez seja quando conheci os familiares de um dos sobreviventes da queda do avião nos Andes em 1972. Na primeira reunião que tive no Uruguai, conheci a mulher de um dos membros da equipa de rugby que sobreviveu 72 dias nos Andes. Uma história incrível de superação, que me ligou à família até hoje e da qual guardo uma cópia do livro escrito por ele, com uma dedicatória muito especial.

Abrir o mercado da América do Sul completamente sozinha foi o meu maior desafio. Apresentar uma marca nórdica em países latinos, começando do zero e com muito pouco conhecimento do sector onde estava a iniciar, foi o um dos meus maiores feitos.

Qual o momento de que mais se orgulha como empresária?

Abrir o mercado da América do Sul completamente sozinha foi o meu maior desafio. Apresentar uma marca nórdica em países latinos, começando do zero e com muito pouco conhecimento do sector onde estava a iniciar, foi o um dos meus maiores feitos. Foram anos muito enriquecedores, conheci pessoas com historias de vida inesquecíveis e onde aprendi muito sobre gerir negócios entre países com culturas tão díspares. Eu, que sou bastante impulsiva, tive de procurar ferramentas diplomáticas que julgava nem possuir. E gerir o receio e o medo de viajar sozinha para zonas do planeta que eram totalmente desconhecidas para mim. Foi o verdadeiro sair da zona de conforto, conheci muito do mundo, das pessoas e de mim mesma.

Que conselhos deixa às mulheres que sonham lançar o seu próprio negócio?

É-me muito difícil definir o que pode resultar ou não, porque cada mulher é diferente, o que pretendem do negocio, o que as leva a empreender. Penso que o principal é avaliarem se têm de facto perfil para serem empreendedoras. É um caminho muito solitário a maior parte das vezes, mesmo que se esteja rodeado de gente.

O objectivo de um negocio não se deve cingir a fazer dinheiro, mas terá de criar riqueza, por isso um bom plano, para ter metas a alcançar e objectivos quantificados  é essencial.

Depois, ninguém vive sozinho, e para mim foi fundamental ter o apoio incondicional da família e de um grupo restrito de amigos. Principalmente quando as coisas correm mal (porque vão correr), é preciso alguém que nos relembre porque tudo começou e que não desista dos nossos sonhos por nós.

E muito, muito importante, não perder muito tempo com as derrotas e festejar sempre as vitórias.

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