Incentivar a participação das mulheres nas CTEM

O desafio de levar mais mulheres e raparigas a optarem por carreiras em CTEM exige um trabalho árduo num amplo espectro, incluindo a mudança das mentalidades e preconceitos de gênero, expondo as raparigas a modelos relevantes, defende Sílvia Garcia, responsável pelo Laboratório de Inovação da INCM (Imprensa Nacional Casa da Moeda).

Sílvia Garcia é responsável pelo INCM Lab.

Sílvia Garcia é responsável pelo Laboratório de Inovação da INCM (Imprensa Nacional Casa da Moeda). Doutorada em Biotecnologia com pós-graduação em gestão industrial e licenciatura em Engenharia Química pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. Com mais de 10 anos de experiência na indústria, em coordenação e execução de projetos de R&D e engenharia. Nos últimos anos tem trabalhado na área da inovação, focada no desenvolvimento de ideias e sua implementação através de projetos multidisciplinares de I&D (nacionais e internacionais) com o objetivo de promover novas áreas tecnológicas. Durante a sua atividade tem orientado alunos de doutoramento e mestrado, como assessora de empresas, e revisão de artigos científicos.

 

“É inegável o papel fulcral que as tecnologias e inovação têm na sociedade, na forma como influenciam o quotidiano. No entanto, e tendo em atenção as crescentes preocupações em torno da inteligência artificial e outros desenvolvimentos tecnológicos, é particularmente importante avaliar onde estamos em termos de participação de raparigas e mulheres nos campos da Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM). Embora a representação esteja a melhorar, a desproporcionalidade traz ameaças no enviesamento do desenvolvimento tecnológico que importa resolver.

Socialmente esta discrepância também significa que menos mulheres e raparigas têm acesso a carreiras financeiramente mais prósperas e maior potencial de satisfação.

As tecnologias e inovação têm o potencial de melhorar as situações de iniquidade, porém são são projetadas predominantemente por homens. Segundo dados da Unesco apenas 30% das alunas no ensino superior em todo o mundo escolhem estudos relacionados com as CTEM e, dessas, apenas 5% escolhem ciências naturais, matemática e estatística, 8% optam por engenharia, indústria e construção, e apenas 3% escolhem tecnologia da informação e comunicação. Ora isto origina um pensamento menos diversificado dentro das equipas de investigação na busca de soluções de problemas globais.

Socialmente esta discrepância também significa que menos mulheres e raparigas têm acesso a carreiras financeiramente mais prósperas e maior potencial de satisfação. As carreiras CTEM estão habitualmente associadas a maior prestígio e salários mais elevados, o que se traduz em mais mulheres a tornarem-se exemplos para as crianças dos seu círculo de influência, quebrando padrões pré-concebidos.

O desafio de levar mais mulheres e raparigas a optarem por carreiras em CTEM exige um trabalho árduo num amplo espectro, incluindo a mudança das mentalidades e preconceitos de gênero, expondo as raparigas a modelos relevantes. Se os estudos mostram que rapazes e raparigas não têm nenhuma diferença perceptível na capacidade de aprender matemática e ciências, há que manter esse equilíbrio.

É essencial que os pais e outros líderes demonstrem de facto uma crença na igualdade de género quando se trata das capacidades para as CTEM.

Os membros da família, professores, investigadores desempenham um papel desproporcional na forma como raparigas e rapazes assimilam as suas capacidades nas ciências. As mensagens que estes enviam são reforçadas nos diferentes contextos sociais onde as crianças interagem, e é por isso essencial que os pais e outros líderes demonstrem de facto uma crença na igualdade de género quando se trata das capacidades para as CTEM.

Esses mentores e mentoras oriundos de diversas formações académicas e profissionais, têm a missão de mostrar as possibilidades das mulheres em várias carreiras, algumas das quais as alunas podem ainda nem sequer ter pensado nisso.

Sublinha-se a necessidade das meninas e raparigas serem expostas a modelos de papéis relevantes e representativos em várias fases das carreiras em áreas CTEM. Esses modelos devem falar abertamente sobre cada etapa do seu caminho: os seus estudos, as suas experiências de trabalho no início de carreira, o que correu bem, o que correu mal e o que aprenderam com seus desafios e sucessos. Também é importante balizar as expectativas salariais e oportunidades de crescimento nesses campos para dar às raparigas e mulheres uma visão completa dessas opções.

O futuro é incerto e em rápida mudança espera por todos nós. Resolver os maiores desafios que enfrentamos requer a criatividade e a participação de raparigas e mulheres, bem como envolver toda a comunidade para mais rapidamente garantir a igualdade no acesso a carreiras científicas e no envolvimento mais profícuo das mulheres no desenvolvimento tecnológico.”

Parceiros Premium
Parceiros