Licenciada em Direito pela Universidade Católica, Marta Feio foi conselheira jurídica para as áreas de Direito Societário e Corporate Governance na Confederação da Indústria Europeia. O trabalho em Bruxelas deu-lhe a vontade de sempre saber mais sobre o que a rodeia e tem impacto no quotidiano. Depois de quase uma década fora de Portugal, regressou para integrar a área de Assuntos Institucionais da Tabaqueira, onde esteve até assumir, em janeiro de 2021, o cargo de secretária-geral executiva da Associação Técnica da Indústria de Cimento.
Fui convidada recentemente pela Presidente do Instituto Francisco Sá Carneiro, a Professora Maria da Graça Carvalho – uma mulher que muito admiro por ter, entre outras qualidades, uma enorme atenção a todas as questões sociais e empresariais – para participar num debate sobre “O papel das mulheres e o futuro da Europa”. Foi uma ótima experiência e um pretexto para voltar a refletir mais profundamente sobre este tema, num período em que, cada vez mais, as questões de paridade de género (ou falta dela) e liderança estão na ordem do dia.
Mas como é que em pleno século XXI esta é, sequer, uma questão?
Não temos já inúmeros exemplos, ao longo da história, de mulheres que pela sua enorme competência e dedicação contribuíram para uma sociedade melhor e mais justa? O que seria da Europa na I e II Guerra Mundiais sem a sua capacidade inovadora e a reinvenção do seu papel na sociedade? Inúmeros exemplos poderiam ser referidos retirando sentido à pergunta inicial.
As mulheres são o futuro da Europa, porque sem mulheres não há futuro. As mulheres lideram fazendo a inclusão de ambos os géneros (começando com a maternidade) e, em conjunto com os homens, têm pela frente um conjunto de desafios – em casa, nas empresas e em todas as dimensões da sociedade. A sua resolução é uma tarefa que homens e mulheres devem assumir complementarmente.
Isso não pode fazer esquecer que as mulheres, de forma inata e biológica desenvolvem, pela sua natureza, uma série de competências críticas em qualquer posição de liderança nem sempre reconhecidas.
Às capacidades e competências gerais das quais já não precisam sequer fazer prova, acrescem skills particulares como o provir às necessidades essenciais dos filhos, a organização logística (sobretudo quando o tempo é escasso para tudo o que têm que gerir), o planeamento estratégico (como, nas férias ou nas greves dos professores, o que fazer às crianças, Isto já para não falar em escolhas de escolas ou garantir que o frigorifico e a despensa são abastecidas, entre outros…), inteligência emocional, espírito de equipa, capacidade de motivação e de inovação (para entreter as crianças que depressa se maçam do que estão a fazer e querem sempre mais), imposição de linhas vermelhas de atuação, entre tantas outras valências necessárias para ser um bom líder. É claro que todas estas valências se aplicam, naturalmente, também aos pais. Ou deveriam aplicar…
Qual então a dificuldade de se perceber que as mulheres são diferentes dos homens, têm características inatas diferentes dos homens (e ainda bem), mas no que respeita a competência, espírito de sacrifício, objetividade, racionalidade e coragem são tão boas ou melhores que os homens? Ou seja, como é que ainda há lugar a debate no que diz respeito ao mérito em termos de género?
O mérito, a capacidade, o esforço e o brio profissional não têm género; têm sim indivíduos que devido às suas características são mais ou menos propensos para determinadas posições e tarefas, mas isto é uma verdade la paliciana. E porque é tão difícil reconhecer que é na diversidade e na complementaridade que está o maior ganho e a capacidade de todos juntos, independentemente do género, nos desafiarmos mutuamente em equipas mistas e contribuirmos para o crescimento individual e coletivo das empresas, das organizações, da vida política, da gestão familiar, e da sociedade em geral?
Convém, no entanto, sublinhar que a par com o mérito vem a igualdade de oportunidades e de remuneração. Quem são os homens que ao dia de hoje não reconhecem isto? Mais difícil será talvez pôr em prática, mas todos os dias são um bom dia para começar, para mudar estatísticas e previsões e para antecipar metas para uma sociedade mais justa.
O que não podemos fazer é fecharmo-nos em “girls clubs”, mas, pelo contrário, chamar os “boys” a participar também neste debate, de forma construtiva e responsável. Construir uma sociedade mais justa e paritária, reconhecendo o mérito de todos, tem de ser um projeto comum e não apenas de uma fação sob pena de estarmos ainda a discutir este tema, em artigos como este, daqui a mais umas décadas.
E note-se que ser Mãe não é condição para ser um bom líder; nem as Mães que se dedicam em exclusivo aos filhos são menos líderes…muitas gerem autênticas micro empresas no que respeita aos “recursos humanos” de que dispõe. Todas estas mulheres têm de ter orgulho pela forma como estão a criar e a construir o futuro da Europa, com maior ou menor esforço, através do seu exemplo e liderança, para a construção de uma sociedade mais justa e equilibrada.
Leia a entrevista de Marta Feio à Executiva
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