Há quem diga que saber fazê-la bem é uma arte; outros odeiam-na e acham que é a parte mais penosa das situações em que precisam de fazer networking. A conversa de circunstância — a que os anglófonos muito apropriadamente chamam small talk — é o prato do dia em todas as ocasiões sociais que juntam pessoas que acabaram de se conhecer, ou que têm pouca confiança uma com a outra. Uma espécie de mal necessário, sobretudo para os mais introvertidos, em que começamos por falar do tempo ou do trânsito caótico, evoluindo para um mais arrojado “então, e o que é que faz?”, no sentido de tentar estabelecer contactos profissionais e pessoais interessantes. Mas será eficaz nessa missão?
A ciência parece provar que não. Um estudo levado a cabo por investigadores da Universidade do Arizona, em 2009, publicado na revista Psychological Science, registou mais de 23 mil conversas entre um grupo de 79 participantes, todos estudantes universitários. Os participantes com níveis mais altos de bem-estar tinham, em média, o dobro das conversas do que os participantes mais infelizes. Também tinham conversas de melhor qualidade, mais profundas e sem tanto recurso à conversa de circunstância, provando que esta última não ajuda a construir relações.
Mas se não é eficaz, porque é que continuamos a sentir-nos obrigadas a fazê-la nos moldes de sempre? Num artigo para o site Inc. os psicólogos e especialistas em comportamento humano, Kristen Berman e Dan Ariely, observam: “A triste resposta é que procuramos sempre o mais baixo denominador comum em termos de assunto. Quando somos deixados à mercê do nosso próprio engenho, temos a liberdade de falar sobre o que quisermos, mas também sentimos a pressão de escolher um assunto que seja socialmente aceite, no qual qualquer pessoa possa participar facilmente — as desinteressantes qualidades da conversa de circunstância.”
Lembram ainda um estudo britânico de 2010, no qual a antropóloga Kate Fox concluiu que mais de 90% dos seus entrevistados assumiam ter falado do tempo nas últimas 6 horas (38% admitiam mesmo tê-lo feito durante a última hora).
Grupos como o “No Small Talk” partilham da ideia de Kristen e Dan de que é possível e desejável fazer conversa de outra maneira. No seu site dão algumas dicas de como converter jantares ou encontros de networking em interessantes polos de discussão, nos quais as perguntas “O que faz?” ou “De onde é?” estão banidas. Acreditam que alguns pressupostos ajudam a tornar estas reuniões bem-sucedidas:
— É importante manter a mente aberta e desafiarmos as nossas próprias crenças, ter em mente que toda a gente tem algo para ensinar.
— O que é dito ali, fica ali: uma vez que o intuito é que as pessoas se abram de forma um pouco mais franca, partilhando fraquezas, inseguranças ou coisas que não correram tão bem, é importante manter a confidencialidade das histórias que ouve, tal como gostaria que os outros mantivessem a sua.
— Se discordar de alguma coisa, ataque a ideia e não a pessoa.
Eis algumas ideias de perguntas quebra-gelo e “fora da caixa” compiladas pela revista Inc., ideais para quem está interessado em fazer conversa de forma mais interessante em eventos de networking:
– Qual é a sua história?
– Qual é a coisa mais importante que devo saber sobre si?
– Quando foi a última vez que falhou redondamente em alguma coisa?
– O que a tem interessado e fascinado mais, ultimamente?
– O que valoriza mais: inteligência ou senso comum?
– Qual foi a lição mais importante que aprendeu com um inimigo ou rival?
– Se não precisasse de dormir, de todo, como aproveitaria essas 7 ou 8 horas extra?
– Se tivesse que escolher o personagem de um livro, filme ou série que é mais parecido consigo, qual seria e porquê?
– O seu trabalho atual é muito diferente do que sonhava fazer em criança? Em quê?
– Qual é a emoção humana que mais teme?
– Se tivesse a oportunidade de fazer hoje mesmo algo que deseja muito, independentemente do custo ou do lugar do mundo, o que seria e porquê?
– Se pudesse saber a verdade total sobre uma questão que há muito a intriga, que pergunta faria?