Etiqueta e protocolo digital: 5 regras de ouro

Na semana em que recebemos, em Lisboa, um dos eventos mais aguardados do ano, Joana Andrade Nunes partilha o seu contributo para que, na sequência dos testemunhos e reflexões preciosas apresentadas no Web Summit, saibamos cumprir as regras de etiqueta e protocolo digital.

Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação.

E-mails, mensagens, comentários no LinkedIn — e, claro, sem esquecer o tão em voga “WhatsApp” no contexto profissional — implicam que observemos um conjunto de regras de etiqueta e protocolo digital para que consigamos criar — e sedimentar — uma imagem de excelência no mundo digital: uma exigência do século XXI que impacta todos os profissionais.

 

Escrever apenas o que tenhamos coragem de assumir presencialmente

Acredito que poderá parecer uma lapalissada. Contudo, a prática diária tem demonstrado que nunca é demais relembrar que só deveremos escrever e partilhar no mundo digital (e-mail, chats e redes sociais) o que tenhamos coragem de dizer in persona. Não raras vezes, é verdadeiramente tentador seguir as nossas emoções — em particular quando confrontados com comentários inadequados — e responder “à letra” escudando-nos no ecrã que nos separa do(s) interlocutor(es). Lembre-se, contudo, que do outro lado está um ser humano; que por mais razão que possa ter, as palavras escritas continuam a ter o “dom” de derrubar barreiras ou, pelo contrário, de ferir o coração do homem. Como tal, antes de partilhar um comentário ou uma reflexão mais “quente”, convido-o a refletir na seguinte questão:

Se estivesse frente a frente com quem escreveu este texto/reflexão/comentário, estaria disposta a partilhar este comentário, ipsis verbis? Ou, pelo contrário, seria mais cautelosa e prudente com as minhas palavras?

Se a resposta a esta questão for positiva, relembro, também, que o que partilha no mundo digital poderá, em segundos, atingir o outro lado do mundo; poderá impactar um leque de interlocutores que nunca imaginou e, como tal, deverá estar consciente e disposta a assumir as palavras proferidas.

Responder, tempestivamente, a cada contacto

Se, como eu, sofre com a “epidemia digital do século XXI” — ausência de resposta tempestiva — saiba que não está sozinha. Responder a cada e-mail, mensagem ou telefonema é, tão só, uma demonstração de respeito pelo outro. Neste tema, não confundamos o dever de resposta tempestiva com a obrigatoriedade de apresentar uma resposta concreta ao assunto exposto — o que, não raras vezes, poderá levar semanas ou meses. Saiba que se pretende pautar o seu comportamento pela excelência profissional, deverá responder a cada contacto no prazo máximo de 24 horas: a visão da “excelência profissional” dos últimos meses assim o exige. Caso não tenha, de todo, interesse no assunto ou no tema partilhado, aconselho, encarecidamente, a que não se deixe influenciar pelo desinteresse deixando o contacto que deveria retribuir, em “banho-maria”, ad aeternum. Uma resposta empática a agradecer o contacto demonstrando que, naquele momento, o exposto não se enquadra na estratégia da sua empresa espelha, em segundos, a consideração que teve para com quem dedicou parte do seu tempo a entrar em contacto.

Caso pretenda explorar este “tema sensível e tão atual”, convido-o a reler o artigo que publiquei, em maio, na Executiva aqui.

Escolher, cirurgicamente, as redes sociais nas quais pretende estar definindo a sua presença

LinkedIn, Twitter, YouTube, Instagram, Facebook, TikTok, WhatsApp são apenas alguns exemplos de redes sociais que, diariamente, se impõe na nossa vida.

Selecionar, cirurgicamente, onde e como pretendemos estar é fundamental para sedimentar a nossa marca profissional e cuidar da nossa pegada digital.

Cada rede social tem um propósito e, como tal, a nossa presença deverá estar em sintonia com a nossa marca pessoal-profissional, mas, também, com o propósito da rede social que integramos.

O LinkedIn é, sem dúvida, “A rede” profissional por excelência. Neste momento, não representa apenas o nosso curriculum digital — o qual deverá estar, milimetricamente, atualizado! — mas sim a nossa pegada e reputação profissional.

Saber construir uma rede de contactos implica que saibamos definir e implementar uma estratégia; que saibamos que conexões pretendemos alcançar e qual o caminho a seguir. Como tal, as publicações que partilhamos — tal como as publicações que comentamos — deverão ser o reflexo da nossa imagem profissional aos olhos dos outros.

Nunca nos esqueçamos que o resultado do que partilhamos será o resultado da interpretação que os outros conferem ao nosso conteúdo. Sei que poderá parecer “esquizofrénico”; contudo, no final do dia, nada do que publicamos é sobre nós nem sobre o que pretendemos dizer: será o espelho da visão que os outros criam — e assumem — sobre a nossa persona.

Assim, antes de publicar as fotografias ou vídeos do aniversário do seu filho — ou a última reportagem das férias maravilhosas entre amigos e família — pergunte, interiormente:

 “Que imagem estarei a criar e sedimentar nesta rede social ao partilhar a minha intimidade com terceiros? Será que quem integro na minha rede deverá ter acesso a este conteúdo?

Não há respostas certas nem repostas erradas; há, sim, a exigência de um estado consciente do impacto que tal terá na nossa vida pessoal e profissional. Por fim, recordo-lhe, também, que perfis pessoais e perfis profissionais podem conviver amigavelmente; o segredo está em perceber o que pretende partilhar em cada rede social e com os membros que integra cada perfil.

Pensar e (repensar) antes de partilhar reflexões sensíveis

Na sequência do primeiro ponto partilhado, sempre que pretender partilhar reflexões potencialmente sensíveis, saiba que deverá estar consciente do impacto que poderão ter na sua rede de contactos e na sua pegada digital.

Tal não significa, de todo, que nos escudemos no “receio” da visão e da catalogação de terceiros, deixando de partilhar, publicamente, as nossas convicções pessoais e profissionais. Implica, tão-só, que estejamos cientes que tudo o que partilhamos na internet ficará, para sempre, na internet acompanhando-nos até ao fim dos nossos dias.

Não potenciar (eventuais) conflitos de interesse com parceiros e/ou entidade patronal

Se, por um lado, a expressão “potenciar sinergias” é uma constante na nossa vida profissional, saibamos que assumir, publicamente, determinadas posições poderá potenciar situações desconfortáveis e sensíveis.

Antes de publicar conteúdo que possa ferir os seus parceiros ou a sua entidade patronal, convido-a a “calçar os sapatos do outro” e, empaticamente, responder a estas questões:

Se estivesse no lugar do outro, qual seria a minha visão sobre esta partilha?
Acrescenta valor ao nosso projeto?
Potencia novas ideias, estratégias e abordagens?
Ou, simplesmente, poderá ser vista como inapropriada tendo em conta o papel que desempenho
?”

Como nos recorda o tão afamado provérbio “Antes de falares, cuida que as tuas palavras sejam mais importantes que o teu silêncio”, publique apenas o que acrescentar valor.

Acredito que não há verdades absolutas; que nesta matéria não existem respostas certas nem respostas erradas; que dificilmente será possível delinear uma estratégia de presença digital que, num gesto de magia, funcione impecavelmente para todos os que a pretendem implementar.

Tal como um alfaiate exímio constrói, passo a passo, um fato à sua medida, também a sua presença digital deverá ser definida, à medida, do seu perfil e da conceção do eu “profissional” e “pessoal” que pretende expor digitalmente. Saber estar, no mundo digital, é, também, uma Arte.

 

Joana Andrade Nunes, advogada e fundadora da marca de vestuário de luxo infantil Tierno, é  também autora do blogue “Camomila Limão”, no qual partilha, desde 2014, a paixão pela arte de saber estar e receber. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal pelos Gourmand World Book Awards (2016) e o 3.º melhor do mundo pelos Gourmand World Book Awards 2017. Em junho de 2020, fundou o projeto “Etiqueta Moderna”, que promove cursos de etiqueta e protocolo. 

 

Leia mais artigos da autora aqui.

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