Sofia Duarte e o marido, Pedro Martins, são designers gráficos de formação e de muitos anos de profissão. A procura por bons produtos levou-os à sua comercialização nas redes sociais e nos mercados de Lisboa e arredores. Assim nasceu a Ervan’area, um pequeno negócio de chás e especiarias, grande o suficiente para que Sofia Duarte deixasse o seu emprego seguro. O balanço não podia ser mais positivo. “Agora trabalhamos muito mais, mas somos muito mais felizes, podemos dizer que fazemos o que gostamos como queremos”, resume a empreendedora.
Como ganhou corpo a ideia de montar um negócio?
Nós somos designers gráficos, embora, neste momento seja apenas uma actividade complementar. A Ervan’area nasce da nossa busca por bons produtos. Quando digo bons, não me refiro a boas marcas, mas sim a produtos autênticos que não precisam de estar numa embalagem bonita para terem valor. Valem pela forma como são obtidos, de preferência sem processos artificiais. E, principalmente no caso das especiarias, isso era dificílimo.
Como define o conceito da Ervan’área?
O nosso objectivo é fornecer produtos de alta qualidade, sem a necessidade de embalagens supérfluas. Não usamos plástico, os nossos clientes podem trazer os recipientes de casa para nós enchermos e, desta forma, reduzimos o desperdício. Todas as misturas de especiarias e infusões como, por exemplo, o caril ou o chá de Natal, são feitas por nós. Experimentamos sempre várias receitas até chegar ao produto que queremos. No caso do caril, tivemos clientes indianos e moçambicanos a darem-nos os seus conselhos, que seguimos e que resultaram muito bem.
Quais as fases mais importantes na concretização do negócio?
O primeiro, no meu caso foi a decisão de me despedir da editora onde trabalhava. É assustador, para não dizer aterrador, deixar um emprego seguro numa área que gosto. Foi também muito difícil decidir ir para um mercado vender ao público, achei que não ia conseguir. Mas foi muito libertador. Muitos de nós passam muitos anos, senão a vida toda, a pensar que não conseguimos fazer determinadas coisas. É mentira, tudo se consegue, com determinação e quando se tem alguém ao lado que rema sempre para o mesmo lado que nós.
Qual foi o investimento inicial?
Muitos livros, muita conversa com médicos, botânicos mas também com pessoas com conhecimento empírico, muita serapilheira, quilos de plantas medicinais, aromáticas e especiarias, dois cavaletes, uma tábua, uma toalha e um chapéu de sol. E muita transpiração
Quais as principais dificuldades sentidas como empresária e como as enfrentou?
As primeiras e mais fáceis de ultrapassar foram os conselhos dos nossos amigos (não todos, felizmente) que nos desanconselhavam de todo a embarcarmos nesta aventura insana, mas precisávamos tanto de mudança que nem vacilámos. As mais difíceis para nós foram e ainda são as de ordem burocrática. É muito difícil perceber o que é necessário e obrigatório para começar qualquer negócio em Portugal e as cargas fiscais são esmagadoras.
Onde e como encontrou fornecedores para começar a vender especiarias e chás?
Essa foi a parte mais complicada, pois não sabíamos nada sobre o assunto. Falámos com amigos que vivem em zonas rurais, viajamos muito e conseguimos reunir um conjunto de fornecedores de confiança. Mas a busca demorou um ano e meio.
As suas experiências profissionais anteriores têm-na ajudado em alguma medida, nesta sua fase empreendedora?
Esta é a minha primeira experiência como empresária, mas o meu marido já tinha gerido um atelier de design anteriormente. A nossa experiência como designer gráficos ajuda sempre na da apresentação dos nossos produtos. No entanto, neste tipo de negócio fomos os dois muito autodidatas, tentando sempre pensar como consumidores e não como empresários. Agora trabalhamos muito mais, mas somos muito mais felizes, podemos dizer que fazemos o que gostamos como queremos.
Como promoveu o negócio?
Apenas nas redes sociais e, felizmente, através do boca-a-boca dos nossos clientes.
Quando percebeu que o seu negócio estava no bom caminho?
Quando começámos a ter bom retorno dos clientes. Muitos não encontravam certos produtos a não ser na nossa banca ou quando encontravam não tinham a mesma qualidade. Isto nas palavras deles. Este feedback motivou-nos muito.
De que forma divide as tarefas e responsabilidades com o seu marido?
As tarefas são partilhadas e dividas de maneira bastante informal. Conhecemos muito bem as capacidades um do outro e acaba por ser um processo natural.
Alguma história engraçada relacionada com o negócio?
São mais curiosidades como fazermos envios de encomendas para Houston porque um cliente norte-americano que nos conheceu num mercado em Cascais é astronauta ou um outro que passou uns meses na Sibéria a fazer um documentário sobre uma tribo local e fez um caril de foca com a nossa mistura de especiarias, por exemplo.
A abertura de uma loja física está nos vossos planos?
Para já não. Temos muitas ideias para uma loja, mas no actual contexto económico e de pandemia está fora de questão. No entanto, mesmo com uma loja aberta não deixaríamos de estar presentes em mercados, que adoramos.
Qual foi o principal erro cometido neste percurso e o que aprendeu com ele?
Foi quando achámos que podíamos partilhar a nossa idéia e o nosso conceito com uma ou duas pessoas que estavam a precisar de trabalhar e que, usando a nossa imagem, não puseram a mesma dedicação e amor no que faziam. Viram a Ervan’area apenas como um negócio, e não como uma forma de estar na vida. Aprendemos que, para manter a Ervan’area como queremos que seja, temos que a manter na família.
Que balanço faz desta mudança?
Positivo. Muito mais trabalho mas muito menos pressão.
Quais os seus sonhos e metas para a Ervanárea no futuro? Como se imagina daqui a 5 anos?
O nosso sonho mais imediato é viver numa quinta e poder vender ou trocar os nosso produtos com outros “fazendeiros” e clientes em meio rural. Daqui a cinco anos espero apenas que a Ervan’area seja uma marca associada à qualidade, boa disposição, saúde e boa comida.