Elizabeth II e Jacinda Arden: a audácia da autoliderança

Andrea Miguel Freitas está de volta à Executiva com uma análise sobre o ceptro de Elizabeth II e o abraço de Jacinda Arden como um ponto de encontro da autoliderança. Duas mulheres com percursos à partida distantes, mas coincidentes na impressão de uma liderança motivada pelo servir, que inspirou e conquistou um lugar na narrativa da humanidade.

Andrea Miguel Freitas é cofundadora do Project Lifestyling e consultora do DeROSE Method.

Nos últimos meses o mundo sofreu a perda de duas lideranças femininas que marcaram um lugar na história: a da rainha Elizabeth II e a da ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, Jacinda Arden.  Dois percursos à partida distantes, assentes em estilos dissemelhantes, coincidentes na impressão de uma liderança motivada pelo servir, que inspirou e conquistou um lugar na narrativa da humanidade.

De acordo com os conceitos vigentes na nossa sociedade, as duas assumiram cargos de liderança muito jovens. Elizabeth II para dar continuidade à tradição, Jacinda por opção. Articularam o papel de mãe biológica ao de matriarca de uma nação. Uma, destacou-se pela estabilidade perante mudanças profundas. A outra, pela empatia, humanismo e eficácia em cenários de crise. As duas coloriram marcas pessoais com tonalidades de coragem e determinação.

Durante o impressionante reinado de sete décadas, Elizabeth II navegou perante uma montanha russa de eventos imersos em tempos de guerra e de paz, com a jovialidade de expansões  e com as dores de recessões, com a instabilidade decorrente de uma pandemia global, com a tempestade de escândalos familiares e com o peso de tragédias pessoais. A expressão consistente do servir e da estabilidade concederam à rainha, um lugar incontestável na história.

Foram cinco anos e meio. A resposta corajosa e eficaz a uma pandemia, um posicionamento humanista, nomeadamente perante um ataque contra mesquitas, o enfrentar de desastres naturais, um bébé na ONU, um fluxo de elevada popularidade, um carrossel de críticas, um combate ao sexismo. Jacinda Arden sacudiu um mundo assente em moldes de patriarcado, quebrando preconceitos e exemplificando como a empatia e a eficácia podem andar de mãos dadas.

A rainha Elizabeth II despediu-se quando lhe terminaram as forças. Jacinda também. A primeira na sua morte, a segunda, num momento de bravura, em que reconheceu que estas lhe faltavam. A mesma força e sabedoria. Um ponto de encontro entre duas lideranças: a audácia da autoliderança.

Parece óbvio dizer-se que a liderança ganha muito mais sentido quando o líder assume antecipadamente a liderança de si próprio. Mas sejamos honestos, será que é isso que realmente ocorre nas organizações, empresas, grupos que frequentamos?

A liderança está na moda. Talvez nunca se tenha falado tanto, escrito, debatido sobre esta habilidade. São múltiplas as definições, os estilos, os recursos para a desenvolver. Mas será que a jornada dos líderes tem sido a mais lúcida, a mais consciente?

A citação  “I am the master of my fate, I am the captain of my soul”, do célebre poema Invictus de William Ernest Henley, inspirou o grande líder Nelson Mandela e mantém uma atualidade estonteante. Parece óbvio dizer-se que a liderança ganha muito mais sentido quando o líder assume antecipadamente a liderança de si próprio. Mas sejamos honestos, será que é isso que realmente ocorre nas organizações, empresas, grupos que frequentamos?

Elizabeth II e Jacinda Arden escolheram abraçar o caminho da autoliderança. “O ato mais legítimo de liderança é liderar a si mesmo” defende Fabiano Gomes, consultor do DeRose Method e autor do livro Liderança movida pelo Propósito (2022). Segundo o autor, a jornada de liderança deve começar por esse olhar do líder sobre si próprio, num mergulho no autoconhecimento.

A gestão emocional e comportamental demonstradas por Jacinda Arden e Elizabeth II, em momentos desafiadores, revela esse processo de trabalho interno sobre si próprias. Há um posicionamento muito claro de valores, de propósito e de direção. A capacidade de conduzir a própria vida de acordo com os valores profundamente enraizados em si mesmas, com o propósito de servir o outro e com abertura à evolução constante, garantiu o sucesso dos seus legados, transformando-os numa inspiração para o VUCA World em que vivemos.

Ser senhora do seu destino, consiste, antes de mais, na ousadia de retirar as camadas que lhe foram impostas, para resgatar e assumir o que realmente lhe faz sentido.

As volatilidades, incertezas e a necessidade de adaptação constante marcam o dia-a-dia da modernidade, exigindo dos líderes o desenvolvimento de novas competências, principalmente no foro comportamental, as denominadas soft skills e power skills.

O mergulho na autoliderança inicia-se com esse olhar sobre si próprio, para a descoberta de um mundo fascinante que por vezes se encontra disfarçado pelo automatismo das rotinas, da pressão ou expectativas daqueles que nos rodeiam. Ser senhora do seu destino, consiste, antes de mais, na ousadia de retirar as camadas que lhe foram impostas, para resgatar e assumir o que realmente lhe faz sentido. Este trabalho de ampliação de consciência proporciona liberdade e implica a coragem para assumir o seu estilo pessoal. O trabalho é contínuo e evolutivo. É preciso olhar, validar valores, talentos, reprogramar comportamentos internos e com os outros, rever e desconstruir hábitos, construir novos que sirvam a sua direção, objetivos ou propósito. Trata-se de re(construir) o mapa orientador da sua vida, proporcionando uma autoliderança impactante, consciente e realizadora.

Venha comigo!

 

Andrea Miguel Freitas é cofundadora do Project Lifestyling, consultora na área do desenvolvimento pessoal e da qualidade de vida para high achievers. Leia mais artigos da autora aqui

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