A indústria agroalimentar tem registado um forte crescimento nos últimos anos, sendo um dos principais empregadores no país e um dos maiores setores exportadores. A celebrar o seu 10.º aniversário, a PortugalFoods vai investir 6 milhões de euros para consolidar a expansão internacional do setor. Para definir a estratégia de internacionalização para 2019-2021, está a trabalhar em conjunto com as entidades que compõe o ecossistema agroalimentar para encontrar “uma estratégia comum que possa beneficiar todos os intervenientes”. Eis o retrato do setor, traçado por Deolinda Silva, diretora executiva d aassociação que agrega o ecossistema agroalimentar nacional.
Como define a fileira agroalimentar em Portugal ?
A PortugalFoods comemora 10 anos, uma década a acompanhar o setor e a vê-lo crescer. É com o esforço e dedicação dos nossos empresários que hoje o setor é um dos que mais emprega e exporta, dando um contributo muito relevante para a economia do país. Trabalham no total da fileira agroalimentar cerca de 287 mil pessoas, dos quais cerca de 110 mil operam na indústria alimentar e das bebidas num universo de 11 mil empresas. Em volume de negócios tem também crescido acima do esperado, atingindo um valor de cerca 21 500 milhões de euros, dos quais cerca de 15 900 milhões de euros correspondem à indústria.
Qual o peso das exportações e quais os principais mercados externos dos produtos nacionais?
No que respeita aos produtos do setor agroalimentar, Portugal exportou em 2017 cerca de 6,3 mil milhões de euros, representando cerca de 12% do total de exportações de bens transacionáveis.
Ao nível dos produtos agrícolas e agroalimentares, as exportações têm apresentado um forte crescimento, com um aumento de cerca 10% em 2016/2017 e um crescimento médio anual de 5,5% entre 2013 e 2017. Espanha, França, Angola, Brasil e Reino Unido têm sido os principais destinos dos produtos agroalimentares portugueses.
Que outros mercados estão na vossa mira?
Estando neste momento a elaborar a estratégia para o triénio 2019-2021, num processo em que os intervenientes do setor serão envolvidos, a PortugalFoods irá identificar quais os mercados prioritários que serão objeto de ações específicas de promoção, como por exemplo o Canadá, aproveitando o acordo comercial firmado entre a UE e este país.
A imagem de Portugal no exterior é a de um produtor de excelência.
Qual a percepção e notoriedade da marca Portugal neste setor?
A imagem de Portugal no exterior é a de um produtor de excelência pelo que deverá ser realizado um trabalho de comunicação desta imagem, que posicione os produtos portugueses no patamar de qualidade que merecem. Com o crescimento do turismo a nível nacional e a descoberta da nossa gastronomia e da qualidade dos nossos produtos, a indústria adquire uma responsabilidade acrescida de fazer os produtos cheguem a outros mercados onde muitos destes embaixadores casuais vivem e disseminam o reconhecimento do nosso património alimentar e cultural associado. Portugal é um país que internacionalmente não possui muitas marcas fortes, no entanto, o crescimento da notoriedade do país no exterior deverá ser aproveitado para dar mais visibilidade aos produtos portugueses – produtos de excelência – e aumentar as exportações, também através da comunicação da marca Portugal.
A PortugalFoods anunciou um investimento de seis milhões de euros para promover a internacionalização e a inovação. Como será aplicado esse dinheiro?
A estratégia de internacionalização do setor, através de ações de promoção externa executadas pela PortugalFoods em conjunto com as empresas, será acompanhada por uma agenda de investigação e inovação colaborativa que, em conjunto com o sistema científico e tecnológico, aportará às empresas competências únicas para se tornarem competitivas no mercado global.
O vinho, o azeite, o tomate, produtos de padaria e pastelaria, peixe congelado e conservas deverão continuar a liderar as exportações nos próximos anos.
Quais os produtos portugueses que têm maior potencial para vencer no mercado global?
Os principais produtos exportados são o vinho, o azeite, o tomate preparado e conservado, produtos de padaria e pastelaria, peixe congelado e conservas, que deverão continuar a liderar as exportações nos próximos anos. Há, no entanto, produtos que poderão vir a ter um papel importante nas exportações, fruto das negociações permanentes, que o governo português e a União Europeia têm com países/mercados que mantêm bloqueios à entrada de produtos europeus. Como por exemplo a carne e produtos de charcutaria, produtos de origem vegetal, entre outros.
Na Agência Nacional da Inovação acompanhou projectos de inovação e investigação e desenvolvimento no setor agroalimentar. Qual o retrato actual deste setor e o que falta fazer?
Acredito que a inovação, também neste setor, nos vai levar mais longe e, muitas vezes, não tem de ser uma inovação disruptiva, tem apenas de ser inovador para cada empresa, ao seu ritmo e à sua medida. O retrato atual diz-nos que as empresas estão mais atentas e predispostas a inovar com base em processos colaborativos, onde vemos o sistema de incentivos ao IDT a reforçar positivamente estas parcerias estratégicas potenciadoras da sinergia entre empresa-universidade. Considero importante que as empresas do setor estejam a par das mais recentes tendências e das necessidades do mercado para modernizarem os seus negócios e crescer. A PortugalFoods ajuda as empresas portuguesas nesse sentido, mostrando-lhes como podem ser inovadoras, abrindo-lhes caminhos novos e dando-lhes alternativas.
Naturalmente que há ainda caminho a percorrer. Não nos podemos esquecer que o tecido empresarial nacional é maioritariamente composto por micro e PME, cuja perceção e predisposição para processos de inovação é muita heterogénea. Pela frente temos o desafio de dinamizar redes como a PortugalFoods capazes de gerar e estimular o envolvimento do setor em processos de inovação adaptados à sua realidade e necessidades, inspiradas pelos exemplos nacionais de referência.
Temos fileiras em que a mão de obra é tradicionalmente feminina.
Como se caracteriza a fileira agro-industrial em termos de género?
Apesar de não conhecer os números da caraterização do setor em termos de género, sabemos que na UE cerca de um terço dos cargos de gestão são ocupados por mulheres sendo que Portugal está na média europeia (34%). Acredito que esta seja a realidade na fileira agroindustrial. Temos inclusivamente fileiras em que a mão de obra é tradicionalmente feminina. Ao nível executivo, e da experiência vivida nos últimos anos no contacto com este setor, penso que, apesar de provavelmente se verificar que na maioria das empresas a gestão/liderança ser masculina, há mulheres em lugares-chave nestas empresas, como nas área da inovação, intelligence, qualidade, produção, marketing, recursos humanos e mesmo ao nível da exportação e direção.
Que empresas fundadas ou geridas por mulheres são uma referência?
Não querendo destacar nenhuma mulher em particular das muitas que lideram com sucesso empresas neste setor é, no entanto, com enorme satisfação que destaco o papel de quatro mulheres fantásticas na administração da PortugalFoods, assim como das cinco mulheres que, comigo, constituem a equipa operacional desta entidade.
Quais os principais objetivos que colocou para o seu mandato à frente da PortugalFoods?
Desde que assumi a direção executiva da PortugalFoods, o desafio passa naturalmente por manter o nível de excelência pelo qual esta entidade é reconhecida no âmbito do seu desígnio na promoção da competitividade do setor. Com o culminar de uma década de trabalho ao serviço do setor, é gratificante abraçar o repto do conselho de administração e do setor para renovar a visão estratégica da PortugalFoods nas várias dimensões da sua atuação, ao nível do conhecimento, da inovação colaborativa, da internacionalização e capacitação.