Poucas pessoas gostam de falar em público e se podem orgulhar de ser boas a conquistar audiências. Para uns é um talento inato que se revela logo nas festas de Natal do jardim de infância, para a maioria é uma competência que precisa de ser desenvolvida ao longo da vida. A boa notícia é que nunca é tarde para se tornar uma oradora mais confiante e a sua oportunidade pode começar já na próxima apresentação.
Imagine que está numa peça de teatro em que é a atriz principal. Como cativar o público? Como estabelecer uma relação com ele? Como deixá-lo com os olhos colados ao palco? Como ficar na sua memória? Eis algumas dicas.
Cause uma boa primeira impressão
A preparação cuidadosa de toda a sua apresentação é essencial. Isto não se faz de véspera, com fé na capacidade de improvisar. Poucas são as pessoas capazes de o fazer com sucesso.
Mostre-se tranquila, na atitude e no discurso. Revele desde a primeira frase que está bem preparada
Tenha em atenção a forma como se veste. Não há um estilo ideal, depende do tema e da audiência. Assegure-se de que a forma como se apresenta se enquadra no que pretende transmitir, se adequa ao público-alvo e, sobretudo, que não vai distrair a audiência.
Não deixe transparecer o nervosismo. Mostre-se tranquila, na atitude e no discurso. Revele desde a primeira frase que está bem preparada, que domina as ferramentas multimédia (ou outras) que está a utilizar e que está à vontade no assunto.
Cative de imediato o público
Há quem opte por contar uma história, de preferência breve e divertida, mesmo antes de se apresentar. Mas tem mesmo de ser cativante! Cuidado com as notas de humor. Nem todas as pessoas estão vocacionadas para tal. E as mesmas palavras ditas por uma pessoa, não têm o mesmo impacte quando ditas por outra. Para “quebrar o gelo” com humor, há que ter a certeza de que tem mesmo graça.
Se não tiver nada divertido para dizer, ou se não se adequar ao tema, pode optar por uma frase memorável, que prenda de imediato a atenção. Um bom slide inicial também pode causar o impacte que pretende, mas vire rapidamente as atenções para o assunto que trouxe as pessoas até si. É para elas que preparou tudo. “Mesmo que a audiência não tenha uma razão óbvia para estar interessada, diga-lhes de imediato por que deverão dar-se ao trabalho de a ouvir. Isto sim, pode ser desafiante”, refere Olivia Mitchell, fundadora da empresa Effective Speaking e formadora em cursos acerca de como falar em público e fazer apresentações.
Olhe para as pessoas e fale como se estivesse a dirigir-se a cada uma delas
Mantenha o contacto visual
Se baixar os olhos enquanto fala, se olhar demasiadas vezes para as suas “cábulas” e, pior, se ler, em papel, ou no ecrã, o que pretende transmitir, dificilmente cativará a audiência.
Olhe para as pessoas (evitando fixar-se em apenas uma ou duas) nas várias filas da sala, parando, de vez em quando, numa ou noutra. Mas não se alongue na fixação do olhar para que não se sintam intimidadas. Fale como se estivesse a dirigir-se a cada uma delas. Pearson Brown, formador em competências de apresentação, vai mais longe no contacto com a audiência e sugere que perceba quem está ali para o desafiar ou para o apoiar: “Assim que tenha a perceção de que há pessoas na audiência que querem que seja bem-sucedido, a probabilidade de ter sucesso é muito maior”.
É importante transmitir que gosta do que está a fazer e que o faz com confiança
Tenha atenção à expressão corporal
Mantenha as costas direitas, o pescoço alongado, ombros baixos e o queixo levantado. Um ligeiro sorriso nos lábios também ajuda. É importante transmitir que gosta do que está a fazer e que o faz com confiança. Não se mostre arrogante, mas evite uma expressão corporal que denote falta de confiança: cabeça baixa, ombros subidos, olhos fixos no chão ou tom de voz baixo.
Gesticule, mas sem exageros
Não tem problema gesticular enquanto fala. Revela confiança e à vontade, ao mesmo tempo que ajuda a audiência a sentir-se mais contagiada pela sua energia. Oradores demasiado tensos apresentam-se com os braços direitos, fixos ao longo do corpo, numa atitude pouco natural. Não exagere nos movimentos, mas gesticule como faz habitualmente quando fala com os amigos, sem pensar onde e como deve posicionar os braços.
Faça-se ouvir
Não precisa de fazer exercícios de projeção de voz, desde que tenha a certeza de que todas as pessoas a ouvem bem. Teste primeiro as condições acústicas e os equipamentos de áudio. Na fase de preparação, assegure-se de que nos últimos lugares da sala também a conseguem escutar. Imagine sempre que está a falar informalmente com um amigo, sem timidez, nem com excesso de projeção de voz, para não se tornar demasiado “teatral” (exceto se o tipo de apresentação o justificar).
Os slides devem ter frases simples e curtas, sem esgotar todos os conteúdos que pretende transmitir
Não exagere nas histórias pessoais
Claro que o público está à sua frente para a ouvir e conhecer a sua experiência. Mas, por vezes, as histórias pessoais tornam-se aborrecidas. Evite dar sempre as suas histórias como exemplo e escolha-as “a dedo”. Têm de estar enquadradas com o assunto em questão e nunca devem transmitir a ideia de que se julga a “maior do mundo”. Selecione exemplos práticos, histórias verídicas, em que o objetivo não seja sair sempre como a “heroína”.
Não fique presa ao PowerPoint
Uma apresentação em PowerPoint deve servir de apoio a um apresentador, nunca deverá substituí-lo. Os slides devem ter frases simples e curtas, sem esgotar todos os conteúdos que pretende transmitir. Não perca muito tempo a olhar para os slides e nem pense em lê-los – refira apenas uma ou outra informação. Um slide deverá ser um apoio, nunca o centro das atenções.
É necessário treinar antes da apresentação, para que todo o material esteja memorizado. Scott Berkum, autor de Confessions of a Public Speaker, chama a atenção para a necessidade do treino para não perder o fio condutor da história: “É crucial que pratique as transições e as palavras que ligam uma ideia à seguinte. É algo fácil de esquecer se não praticar. As transições são o fio condutor que guia a audiência através da sua história.”
Nunca deixe uma pergunta sem resposta, mesmo que tenha de a remeter para o final da apresentação
Faça pequenas pausas para reflexão e questões
As pausas para reflexão e dúvidas dependem do tipo de evento e do tema em questão. Fazem mais sentido quando existe apenas um orador e a apresentação é longa. Assegure-se de que não perde o controlo do tempo e que não se desvia da linha condutora do tema da sessão. Se a audiência começar a dispersar, retome a apresentação. Muito importante: nunca deixe uma pergunta sem resposta, mesmo que tenha de a remeter para o final.
Acrescente valor
Conheça a sua audiência e as motivações que a levaram a assistir à sua apresentação. Recolha o máximo possível de informações sobre as pessoas: pertencem a uma determinada classe profissional? São gestores de topo? São empreendedores? São só mulheres? São só homens? É importante que a sua mensagem não seja demasiado básica, nem demasiado elaborada para o público em questão. “Quando se ouve uma apresentação, o principal objetivo é refletir. E esta tarefa tem de ter o nível adequado de desafio para a audiência específica que tem diante si”, conclui Olivia Mitchell. Em suma: tem de acrescentar valor e não frustrar expectativas.