CEO portuguesas partilham os segredos para o sucesso

A apresentação do livro 'Novas lições de liderança de CEO Portuguesas', de Isabel Canha e Maria Serina, levou ao ISEG as protagonistas e as suas histórias inspiradoras.

As entrevistadas, as autoras e a apresentadora.

O caminho para a liderança das empresas ainda é mais difícil e menos comum para as mulheres, mas aquelas que lá chegaram conseguiram-no quase sempre fazendo um percurso baseado no esforço mas também na coragem para sairem das suas zonas de conforto. Estas são algumas das linhas base que unem as 10 entrevistadas no novo livro das fundadoras da Executiva, Isabel Canha e Maria Serina, “Novas Lições de CEO Portugueses”. O quinto livro das autoras – e o quarto de entrevistas –, editado pela Redcherry, teve o seu lançamento na passada sexta-feira, 22 de novembro, no auditório CGD do ISEG, em Lisboa, que se encheu de interessados em ouvir o testemunho de oito das protagonistas da obra, que ali marcaram presença: Ruth Breitenfeld, vice-presidente da CEPSA, Clara Raposo, presidente do ISEG, Dulce Mota, CEO do Montepio, Paula Panarra, country manager da Microsoft, Cristina Campos, presidente do grupo Novartis, Marta Carvalho Araújo, CEO da Castelbel, Carmo Sousa Machado, chaiman da Abreu Advogados, e Cristina Rodrigues, administradora-delegada da Capgemini. A elas se somam, no livro, Carla Rebelo, diretora-geral do Adecco Group Portugal, e Vera Pinto Pereira, administradora executiva do Grupo EDP e CEO da EDP Comercial.

“Gosto por interagir com pessoas, humildade e sentido de serviço”

A apresentação do livro esteve a cargo de Soledade Carvalho Duarte, managing partner da Invesco Transearch, e desde o início uma das entusiastas do projeto Executiva e do trabalho editorial das duas jornalistas e autoras. Com uma enorme experiência no recrutamento de executivos, conhece bem, ela própria, a trajetória comum a muitas das entrevistadas neste livro, mas também o perfil de líderes que as grandes empresas necessitam para as suas lideranças. “A Isabel, a Maria e eu somos companheiras de caminho neste propósito de ajudar as mulheres a crescer nas suas carreiras, de modo a chegarem onde querem, sem se sentirem limitadas. Estas são 10 histórias de mulheres extraordinárias, que conseguiram crescer profissionalmente.”

“Todas estas mulheres têm em comum três aspetos: o facto de gostarem de interagir com pessoas e de as desenvolver, a humildade e o sentido de serviço que norteia a sua atuação”, Soledade Carvalho Duarte, managing partner da Invesco Transearch.

Destacou ainda três aspetos transversais que as unem. “Todas estas mulheres têm em comum o facto de gostarem de pessoas – de interagir com elas e de as ajudar a desenvolver. Depois, a humildade de fazerem o que estava ao seu alcance profissionalmente, sem se porem em bicos de pés para ocupar uma posição que eventualmente teriam todo o direito legítimo de ocupar. Finalmente, o seu sentido de serviço, que norteia a sua atuação.” Soledade Carvalho Duarte falou de alguns dos aspetos que mais a marcaram ou que se destacaram em cada uma destas entrevistas, de Carla Rebelo, que “começou a trabalhar num escritório de contabilidade aos 16 anos, revelando enorme maturidade e muita garra”, a Ruth Breintenfeld, que “com um percurso absolutamente extraordinário”, se tornou vice-presidente da CEPSA, depois de ter sido a única mulher na Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas, relatando a sua história de vida “muito difícil, sobretudo na infância, sempre com bom humor”. A Paula Panarra, deu os parabéns por ter chegado a country manager da Microsoft vencendo exigentes processos de recrutamento internos e externos. “Retive da sua história algo que me inspirou muito, dizer às filhas que nunca se diz ‘não consigo, mas antes ‘vou tentar’.” Soledade Carvalho Duarte lembrou ainda Vera Pinto Pereira e a sua carreira que a fez destacar-se no mundo da gestão de grandes empresas de telecomunicações e televisão, “chegando hoje a uma posição de grande destaque e grande visibilidade no board da EDP, onde tem todos os olhos postos em si.” 

Soledade Carvalho Duarte relembrou ainda o percurso profissional transversal e notável de Dulce Mota no BCP, “numa altura em que se contavam pelos dedos das mãos o número de mulheres que ali trabalhavam”, tendo sido, no entanto, capaz de fazer uma mudança profissional para a liderança do Montepio “numa fase da sua vida em que já não tinha de provar nada a ninguém, muito menos a ela própria, algo absolutamente notável no sentido de sair da sua zona de conforto.” A capacidade de networking da CEO da Castelbel, Marta Carvalho Duarte, “uma mulher que é uma força da natureza, com a sua energia e alegria”, foi também destacada, bem como “o orgulho” no percurso de Cristina Campos, atual presidente do grupo Novartis, “com uma trajetória de carreira que inspira foco, consistência, determinação e sobretudo ideias claras do que quer.”

Primeira mulher presidente do ISEG, uma das escolas com maior prestígio e historial na formação de ministros e governadores do Banco de Portugal, a história de Clara Raposo impressionou Soledade Carvalho Duarte pela postura: “Depois de uma carreira que a fez passar pela London Business School e por Oxford, quando a desafiaram a candidatar-se à presidência do ISEG a pergunta que colocou a si própria foi o que ganharia a instituição com a sua presidência? É absolutamente extraordinária.”

De todas as entrevistadas no livro, Carmo Sousa Machado é aquela que Soledade Carvalho Duarte conhece há mais tempo, revela. “Andámos as duas no mesmo colégio e lembro-me muito bem dela, muito pequenina mas já muito responsável e aprumada. Com 7 anos já era uma CEO.” Por isso, diz, não se surpreende com a carreira extraordinária que fez na Abreu Advogados, da qual é hoje chairman. “As suas armas secretas são a elegância, a vontade e a organização.” A apresentadora finalizou com o comentário a Cristina Rodrigues, administradora delegada da Capgemini, com um percurso ímpar numa consultora na área da tecnologia, “quer por ser mulher, quer por ter um ADN financeiro, o que não é muito comum ainda nesta tipologia de empresas. De toda a sua história o que impressionou mais foi a pergunta que faz frequentemente aos colaboradores: ‘se estivesses no meu lugar, o que mudarias?’”

10 histórias inspiradoras

O lançamento contou com uma animada mesa redonda, conduzida pelas autoras, que levou ao palco do auditório CGD oito das 10 protagonistas do livro, que ali partilharam brevemente alguns dos momentos mais importantes das suas carreiras. 

Ao leme da Novartis, Cristina Campos não tinha a experiência internacional que até então tinha pautado a carreira dos seus antecessores, mas é atualmente a primeira portuguesa na liderança do grupo. “Nas empresas internacionais por onde passei a cultura era a de procurar pessoas com mobilidade internacional para esses cargos. Essa questão foi um desafio para mim, no início, mas já não me limita. Não estava de facto à espera quando surgiu o convite. O facto de a minha família me ter sempre apoiado desde o primeiro momento foi muito importante nesse processo, para continuar a acrescentar valor à empresa. A maior lição que retirei daqui foi a de não nos auto-limitarmos e continuarmos a seguir o nosso sonho, se é isso que realmente queremos.”

Com um percurso académico notável, que a fez passar por algumas das mais reputadas escolas financeiras do mundo, a mobilidade internacional não foi o maior desafio de Clara Raposo, anfitriã na casa que recebeu este lançamento. Mas as barreiras invisíveis que ainda se põe às mulheres na liderança, seja no mundo académico ou empresarial são um dos aspetos que mais se salientam no seu testemunho em ‘Novas Lições de CEO Portuguesas’. “Acho que vivemos hoje com bastante igualdade de oportunidades, mas ainda é nas pequenas coisas como o tratamento por ‘minha senhora’, que se notam as diferenças. E elas têm importância. Algumas mulheres, que normalmente estão menos atentas, até podem gostar de ser tratadas de uma forma um pouco diferente dos seus colegas homens, mas isso geralmente nunca é muito bom. Não se trata uma profissional numa reunião por ‘minha senhora’ – e a resposta aí tem que ser imediata”, observou. O bom humor é a sua arma secreta para quebrar o gelo em circunstâncias em que é a única mulher num ambiente de trabalho masculino. 

Cristina Rodrigues, administradora delegada da Capgemini, acredita que a boa liderança não tem género. Mas reconhece: “Numa sociedade que ainda é bastante patriarcal, as mulheres ainda têm que fazer um esforço maior que os homens para se destacarem profissionalmente.”

Para Ruth Breintenfeld “estar disponível para aceitar desafios” é uma condição inexorável para se chegar ao board de uma empresa. O convite para a vice-presidência da petrolífera chegou quando tinha acabado de aceitar o desafio de ali criar uma área de assessoria jurídica ligada ao negócio. “Aceitei também mais esse desafio. O que os levou a fazer-me o convite  foi o meu conhecimento do negócio, o facto de estar sempre disponível para aceitar os desafios que me eram colocados na minha área específica, mas também é preciso saber agarrar a sorte e estarmos atentos ao que nos é colocado.”  

Como se passa a chefe sem melindrar colegas de trabalho com quem se trabalhou lado a lado? Para Carmo Sousa Machado, que foi em, 20o4, a primeira managing partner de uma sociedade de advogados e é, desde 2017, chairman da Abreu Advogados, o segredo está na consistência. “Não se sai do trabalho de uma maneira numa sexta-feira, para voltar radicalmente diferente na segunda-feira seguinte. Sou uma pessoa muito exigente, desde logo comigo mesma, mas ao mesmo tempo também muito transparente e direta. É muito importante que as pessoas saibam com o que contam e o que podem esperar. A seriedade e consistência são essenciais para se fazer bem essa transição.”

Transições foram uma constante da extensa e rica carreira de Dulce Mota no mundo financeiro, ao assumir 14 funções diferentes no grupo Millennium BCP e que hoje lidera o Montepio. Mas no seu trajeto, aceitar o convite para ser chefe de gabinete de Nuno Amado, presidente do grupo, quando ela própria já tinha liderado equipas e projetos, foi uma decisão que acabou por se revelar muito benéfica, revelou. “Às vezes é preciso dar um passo atrás para poder dar outro em frente. Mas não foi nisso que pensei e antes se teria o perfil ideal para este cargo, eu que sempre estive na linha da frente, habituada a liderar equipas e a levar as pessoas comigo. Mas acabaram por ser os seis anos em que mais cresci na carreira, num período em que muita coisa surgia, novas regulamentações de mercado, muitas mudanças. A minha postura tem sido sempre a de olhar em frente e preparar o futuro, sempre como uma fonte de grandes oportunidades.”

A vocação para criar excelentes redes de networking é uma das características que distinguem Marta Carvalho Araújo, CEO da Castelbel, que começou por se formar em Química, onde esperava fazer um percurso académico ou de investigação, e que hoje lidera uma importante empresa portuguesa de produtos perfumados. “Faço questão de pertencer a várias redes com interesses partilhados, mas a diversidade é o princípio base para eu estar em diferentes fóruns. Faço isto porque me dá prazer e me divirto, mas não a pensar no que vou ganhar com isto a nível comercial, o que é tão ou mais importante. Quero aproximar-me de pessoas giras e interessantes.” No início deste ano fez um curso intensivo em Harvard e no primeiro dia tomou uma importante decisão que a levou a conhecer bem os 147 colegas, de 47 países diferentes. “Quero poder estar à vontade com as pessoas, poder dizer piadas e partilhar boa disposição. No final, num grupo tão grande, há sempre alguém que conhece alguém e que pode ajudar a encontrar a solução.”

Paula Panarra, country manager da Microsoft, falou do desafio enorme que foi aceitar o convite para liderar a subsidiária portuguesa. “Nem percebia como convidaram uma engenheira química de formação para trabalhar na área financeira. Trabalhei 15 anos na área de marketing e de grande consumo e convidam-me para entrar na tecnologia e trabalhar no marketing de empresas. O que me move na vida é a vontade de arriscar e aprender. Acredito no copo meio cheio e que não devemos dizer que não conseguimos, mas que vamos tentar, porque mesmo que não consigamos vamos aprender porquê. Se posso deixar algum conselho é o de nos conhecermos bem a nós próprios, ao que nos faz estar no negócio com a nossa melhor energia para sermos os melhores profissionais e melhores pessoas, e acreditarmos que conseguimos.”

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