Boas alunas sentem-se discriminadas

Segundo uma associação inglesa de professores as meninas inteligentes e boas alunas sentem-se na corda bamba porque se parecerem espertas e fizerem muitas perguntas nas aulas não são consideradas atraentes e sentem-se incapazes de mudar este estereótipo.

As meninas receiam a opinião dos rapazes.

Na sala de aula, as raparigas têm de escolher entre ser atraentes ou inteligentes e espertas. Se demonstram esperteza “ainda passa” mas se “dão ares” de inteligentes e estudiosas já não são consideradas atraentes. A afirmação é de Mary Bousted, uma ex-professora de inglês e dirigente de uma associação inglesa de professores e leitores, que apresentou recentemente esta conclusão numa conferência. Resultado: as meninas temem parecer inteligentes e sentem-se sob pressão quando estão nas aulas. Por isso ficam quietas, caladas e quem fala são os rapazes.

Nesta conferência Mary Bousted reforçou a necessidade de travar esta questão do bullying de sexos e de assédio a estudantes – um tema que não tem sido falado, diz ela – e espera agora que os outros membros da associação de professores não só lamentem tal comportamento como se disponham a receber formação para ajudar e prevenir estes atos.

“O sexismo está generalizado nas escolas e começa logo na escola primária”, acusa um professor.

Eles falam e elas ouvem

A ex-professora contou, num encontro com a imprensa, que uma vez decidiu gravar algumas aulas dadas numa escola onde lecionou em Londres e que foi só quando ouviu mais tarde a gravação é que percebeu como era diferente a participação oral das raparigas e dos rapazes nas salas de aula: os meninos falavam e as meninas ouviam. “Para as raparigas há uma linha muito evidente que sublinha um facto: as meninas inteligentes, que respondem a muitas perguntas, não são atraentes. E há uma grande pressão em muitas escolas para elas ficarem quietas a ouvir os rapazes falar”. Outro professor acrescentou que “o sexismo está generalizado nas escolas e começa logo na escola primária. As redes sociais e a partilha de mensagens sexuais, com fotos e vídeos, entre os alunos é grande e os professores não podem policiar tudo isto.”

Na corda bamba

As raparigas sentem-se inibidas de falar e têm medo de parecer “espertinhas” e inteligentes e por isso sentem-se constantemente na corda bamba. Além disso, acham que é muito difícil mudar estes estereótipos e não acreditam que serão bem sucedidas se o tentarem fazer.

As autoridades inglesas acreditam que as boas escolas apoiam todos os seus alunos.

Mas o Ministério da Educação inglês tem outra opinião. “São histórias como estas”, começou por dizer um porta-voz, “que fazem com que o sexismo ainda exista. Nós deveríamos estar a celebrar as realizações e os talentos de mulheres e raparigas em vez de nos concentrarmos em noções ultrapassadas. As raparigas estão a superar academicamente os rapazes e sabemos que as boas escolas apoiam todos os seus alunos e promovem a independência e a autoestima nas salas de aula. Estamos absolutamente certos que o bullying sexista, como qualquer forma de bullying, não deve ser tolerado e cada escola é obrigada, por lei, a evitá-lo. Além disso estamos a garantir que todas as crianças estão mais informadas sobre os perigos da internet e a segurança nas redes sociais faz parte do currículo educativo”.

Resta saber quem tem mais razão: o gabinete ministerial ou os professores que diariamente lidam com os alunos nas escolas.

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