Vinhos e comida para saborear no tempo quente

Agora que o calor e o bom tempo parecem ter vindo para ficar, nada como os sabores da comida simples e dos aromas dos pratos com sabor a mar acompanhados por bons vinhos.

 

Há poucas coisas que me saibam tão bem como petiscar à mesa, na companhia de um bom vinho servido no copo e à temperatura certa. A família e amigos são indispensáveis, como é evidente.

Em julho e agosto são as saladas de ovas, polvo, orelha ou bacalhau, na companhia de um branco com personalidade, como o da casta Encruzado que falo abaixo, mas também camarões azuis ou gamba branca cozidos, borrifados com flor de sal ou as últimas fritas em azeite com alho e piripiri, e regadas depois com lima ou limão para acrescentar frescura. Não me canso disto, principalmente quando estou de férias no Algarve, tal como de uns carapaus ou umas cavalas alimados, que devem ser saboreados devagar para se sentir bem o prazer que dão. Tudo apreciado com tempo, e de preferência numa mesa posta cá fora para sentir melhor o benefício de estar em férias.

A moxama de atum também é imprescindível, porque gosto da textura, do sabor salgado quase a couro e posso escolher o que mais gosto na praça de Olhão quando lá vou comprar peixe e mariscos. Para sua companhia, prefiro um rosé como os que indico em baixo.

 

Arroz e peixinho frito

Para o repasto propriamente dito gosto sempre de saborear arroz de lingueirão ou berbigão, sobretudo na companhia de carapaus, petingas ou biqueirões albardados fritos, também na companhia de um rosé ou de um tinto como o Pinot Noir que sugiro. E de pastéis e pataniscas de bacalhau com arroz de tomate ou de feijão, tudo pratos que é difícil de parar de repetir.

Gosto imenso de ostras e perceves, ainda com aquele cheiro e sabor a mar que apetece sempre apreciar com um espumante bruto nacional, como os que falo abaixo.

No tempo quente nada há como a cozinha simples, que me sabe bem saborear durante o mês de agosto, que passo quase sempre em Lisboa, porque geralmente não está cá quase ninguém e parece que o trânsito tirou férias. Nesse período as ameijoas e as conquilhas à Bulhão Pato são indispensáveis, tal como as lulinhas ou chocos fritos ou a sardinha assada, que gosto de ir comer a Setúbal, porque somente conheço um restaurante onde são muito satisfatórias em Lisboa, tanto na qualidade como na assadura.

Depois, há muitas vezes secretos ou tirinhas de porco preto na grelha nas minhas escolhas, ou um bife da vazia, de preferência mal passado, sempre com batatas fritas e mais esparregado, salada mista e grelos ou brócolos a acompanhar. São sempre melhores com os vinhos certos, entre eles os tintos que selecionei para esta crónica.

 

Presuntos e queijos

Mas há mais coisas que me fazem perder, como um presuntinho ou paleta de porco ibérico ou bísaro, chouriços fumados, queijos de ovelha ou cabra nacionais, de preferência secos ou meio secos, mas também de Espanha, já que gosto muito de um bom Manchego e de um Idiazabal, este produzido no norte de Espanha a partir de leite de ovelhas das raças autóctones latxa e carranzana. São sempre boas companhias para petiscar à mesa de forma distraída em qualquer altura do dia, para mim, de preferência com pão algarvio ou alentejano, tal como umas boas azeitonas, britadas ou não.

São algumas das minhas sugestões de aromas e sabores para saborearem à mesa, de preferência com gente boa, para que a conversa seja tão agradável como os vinhos e a comida. Boas férias.

 

Os vinhos recomendados

 

Casa de Santar Vinha dos Amores Espumante 

Produtor: Casa de Santar
Casta: Touriga Nacional
Ano de colheita: 2017

Espumante de aroma contido, fresco, onde se salientam notas de frutos vermelhos, alguma geleia, croissants e pão. Na boca é elegante, equilibrado e fresco, com boa mousse de bolhas e final longo e agradável. Servido entre os 6 e os 8ºC é um bom vinho para a companhia de marisco e pratos de peixe e carnes com alguma gordura, que ficará bem com presunto de porco ibérico e bísaro com muitos meses de cura. Servir a 6-8ºC.

 

Espumante Família Hehn Velha Reserva 

Produtor: Hehn & Meireles
Castas: Cerceal, Malvasia Fina e Touriga Nacional
Ano de colheita: 2011

Espumante da Região de Távora Varosa, de aroma fino e complexo, onde se salientam notas delicadas de fruta citrina, geleia, alguma mineralidade, brioche, nozes e avelãs torradas. Boca fresca, com mousse suave, num vinho elegante e de final longo, bem prazeiroso. O vinho certo para a companhia de toda a refeição, sobretudo se tiver ostras e perceves no início. Servir a 6-8ºC no copo.

 

Quinta do Carvalhido

Produtor: Quinta do Carvalhido´
Castas: Gouveio, Viosinho e Rabigato
Ano de colheita: 2023

Branco de aroma contido, fresco, com mineralidade, limão e tangera e algum fumado de barrica. Boca muito fresca, elegante e longa, num vinho que ficará muito bem com conquilhas ou ameijoas à Bulhão Pato. Servir a 10-12ºC.

Madame Pió 

Produtor: Cas’Amaro
Casta: Arinto
Ano de colheita: 2021

Branco da Região de Lisboa de aroma intenso, onde se salientam notas de ameixa, resina, folhas secas, baunilha e apetroladas. Na boca é fresco, com textura e final longo com persistência de folhas secas e madeira. Uma boa companhia para queijos de pasta mole e para um arroz de lingueirão, por exemplo. Servir a 12ºC.

 

Quinta de S. Sebastião Reserva 

Produtor: Quinta de S. Sebastião
Castas: Arinto, Cerceal e Sauvignon Blanc
Ano de colheita: 2022

Branco de aroma contido, fresco e intenso, com notas de tangerina, pêssego e alperce, alguma palha seca e mineralidade. A boca é fresca, com boa acidez, sedutora, com final longo onde sobressaem notas citrinas e de madeira que fazem dele uma boa companhia para uma posta de bacalhau assado na brasa, na companhia de batatas com pele e feijão verde. Servir a 10ºC.

 

Quinta da Lapa Retro Fernão Pirão

Produtor: Agrovia

Casta: Fernão Pires

Ano de colheita: 2021

Branco de aroma contido, notas de melão, pera madura e cozida, folhas secas e amêndoas. A boca é fresca e envolvente, com textura, persistência e um toque apetrolado no final, que lhe acrescenta sedução. Belo vinho para carapaus ou linguadinhos fritos com arroz de berbigão.

 

Titan of Beira Interior INDIEgente 

Produtor: Luís Leocádio
Casta: Síria
Ano de colheita: 2021

Aroma intenso, fresco, marcado por notas minerais e de limão e ameixa branca, num vinho da Beira com boa textura, boca harmoniosa, elegante e fresca, longa, com um toque de pedra molhada. Uma boa companhia para lingueirões grelhados ou uma canja de ameijoas. Servir a 12ºC.

 

Pedra Cancela Vinha da Fidalga 

Produtor: Lusovini
Casta: Terrantez
Ano de colheita: 2022

Branco do Dão de aroma fresco, onde se salientam notas de toranja, tangerina, ameixa branca e folhas secas. Boca fresca, com corpo e harmonia e um final longo com alguma doçura. Um vinho de eleição para um peixe branco grelhado com batatas gratinadas e feijão verde cozido. Servir a 10-12ºC.

 

Ipiranga 

Produtor:  António Braga
Casta: Alvarinho
Ano de colheita: 2022

Vinho produzido com uvas da casta Alvarinho cultivadas na região de Monção, de aroma fino, onde se salientam notas de fruta citrina e de caroço, com boca fresca e elegante, com boa acidez e volume e uma persistência envolvente que dá prazer sentir. Um belo vinho para a companhia de ostras abertas ao natural e saboreadas numa esplanada qualquer.

 

Envelope

Produtor:  Magnum Wines
Casta: Encruzado
Ano de colheita: 2019

Branco sedutor logo que se sente o seu aromas no nariz, onde se salientam algumas notas de ameixa amarela, casca de laranja, folha seca, especiarias, um toque amanteigado e pedra molhada. Na boca tem estrutura, um volume envolvente e um final persistente que fazem dele uma bela companhia para pratos de massa com peixe e marisco e muito mais. Sugiro carabineiros grelhados no carvão.

 

Rosa Celeste

Produtor: Alves de Sousa
Casta: Tinto Cão
Ano de colheita: 2021

Um rosé do Douro de aroma contido, fresco e elegante, onde se salientam algumas notas florais de rosas e de fruta vermelha e silvestre. A boca é fresca, fina e elegante, com alguma textura e persistência. Um belo vinho, muito harmonioso e equilibrado, um bela companhia para uma ceviche de peixe branco, sushi, sashimi e tempura. Servir a 10-12ºC.

 

Quinta da Alameda Torreão 

Produtor:  Quinta da Alameda
Casta: Pinot Noir
Ano de colheita: 2022

Vinho rosé do Dão onde se salientam notas de cereja e morango no nariz. Boca fresca, com acidez, longa, com persistência de fruta vermelha e uma nota de ameixa branca. Um grande parceiro de camarões fritos e de açorda de marisco. Servir a 12-14ºC.

 

Casa de Saima

Produtor: Casa de Saima
Casta: Pinot Noir
Ano de colheita: 2022

O tinto experimental da Bairrada, mais leve e fresco, com aroma marcado por fruta silvestre e preta, geleia de cereja e ginja, pederneira e madeira avinhada e uma boca fresca e elegante, longa, com perfeita textura. Fez grande companhia a umas tirinhas de porco grelhadas no carvão, com batatas fritas, mas ficará sempre bem com peixe frito com arroz de feijão, por exemplo.  Servir a 15-16ºC.

 

 

Sonhador 

Produtor: Howard’s Folly
Castas: Field Blend, mais Alicante Bouschet, Aragonez e Trincadeira
Ano de colheita: 2018

Vinho de aroma contido, onde se salientam notas de fruta silvestre e vermelha, caixa de charutos e frutos secos. Boca com estrutura de taninos finos bem integrados, longa, com persistência de fruta silvestre e seca. Um belo vinho para uma posta ou uma costeleta de vitela grelhada, saboreada com o tempo como só as férias permitem. Servir a 18ºC.

Howard’s Folly

 

 

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Publicado a 18 Julho 2024

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