Vemos os outros como somos

A maior parte de nós, que tem pouco treinada a leitura das pessoas que tem à sua frente, que faz poucas perguntas sobre a história e vida dos outros, torna pessoal muitas das coisas que lhe são ditas.

Trabalhar na área comercial e ter de lidar com todo o tipo de reações, ensinou-me a maior lição de vida: aquilo que nos fazem é muito mais o reflexo do que o outro é ou sente no momento do que outra coisa qualquer.

Estou numa feira dum nicho de mercado de químicos. Somos poucos, conhecemo-nos todos. Com uns já trabalhei, outros conheço por interposta pessoa, muitos fui guardando no telemóvel e no endereço de e-mail.

Cruzei-me com algumas pessoas com quem já tive histórias especiais. E, como faço sempre, cumprimento e converso. E recordo essas etapas da minha vida, invariavelmente vem um ou outro momento que recordamos juntos. A maior parte das vezes, percorro a memória e sorrio sobre a situação. É bom quando as memórias são felizes.

E é engraçado como, sim, se na altura não tinha percebido tão bem, hoje confirmo: o que as pessoas são é como esperam que os outros sejam. Para o melhor e para o pior. Uma pessoa confiável é franca e aberta nas suas conversas, enquanto o mentiroso espera que lhe mintam. Um aldrabão desconfia, enquanto a pessoa honesta não se preocupa constantemente se o vão enganar. Um manipulador vai ler as frases como tentativas de influência. Alguém calmo gere as situações com serenidade, ao contrário de uma pessoa agressiva que reage em ataque.

Serão sempre pessoas que acreditam ou mentem, que confiam ou aldrabam, que manipulam, que acalmam ou que atacam. E esperam que sejamos como elas.

Por isso, mesmo que percebamos de onde vem a atitude mais negativa, temos de saber proteger-nos. Quanto mais cedo aprendemos de onde vem a ação, mais facilmente lidamos com ela e, naturalmente, deixamos de senti-la como problema nosso.

O problema está neles, na verdade.

Às vezes, o nosso interlocutor apercebe-se que o estamos a ler. Que sabemos onde ele quer chegar. E que se enganou: nós não somos como ele. No fundo, ele sabe como é e o que fez, e ver a sua imagem em quem nunca seria capaz do mesmo, apanha-o desprevenido.

São os que se esquivam e fogem do nosso contacto. A cobardia costuma ser o ponto comum destes indivíduos.

E isso é ótimo para nós.

Porque, então, resta cruzarmo-nos e conversar com quem nos quer bem.

Ao fim de mais de duas décadas de profissão, os parceiros são como os amigos: ficam os que contam. Os que confiam, os que acreditam, os que nos trazem serenidade.

Os bons unem-se, ajudam-se e tornam o trabalho muito mais fácil.

Negócios feitos com boas bases e boas pessoas ficam para sempre.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 11 Julho 2024

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