The Great Breakup

A primeira vez que me despedi tinha 35 anos. Trabalhava há 13 anos na mesma empresa, tinha as mesmas chefias desde sempre. Estava num estado de insatisfação já há bastante tempo, avisei-os da minha infelicidade, ao que me respondiam que as coisas iriam melhorar, que tinha uma carreira na empresa pela frente, uma oportunidade de liderança assinalada. Mas, a verdade, é que não vivemos apenas do que vamos ter no futuro, a nossa realidade é o presente. Por isso, ao fim de dois avisos de que não estava bem, preparei-me e, quando disse “vou-me embora” na minha cabeça, era como se já tivesse ido. Isto foi há 12 anos.

Tenho muitas amigas que se encontram agora onde eu estava. Pelo que diz a Forbes, somos cada vez mais e as mulheres estão a demitir-se em maior número do que os homens. O movimento, como quase tudo, até tem um nome: The Great Breakup.

Se, durante décadas, as mulheres eram um género que, tendencialmente, tinha menos probabilidade de se demitir (pela insegurança no emprego, a falta de apoio familiar, o risco associado a ficar sem um rendimento), nos tempos que correm, para uma mulher que aposta na sua carreira, isso mudou. Elas não deixam as suas empresas para deixar de trabalhar, mas sim para procurar melhores oportunidades.

E são estas as principais razões que as levam a sair sem olhar para trás:

Desigualdade salarial – Por muito que se discuta e se batalhe a verdade é que as mulheres ainda ganham menos do que os homens. E negociar internamente uma promoção revela-se mais difícil do que negociar melhores condições num novo emprego. Assim, muitas mulheres procuram novas oportunidades ou até decidem dedicar-se ao seu próprio negócio. Curiosamente, há 12 anos, foi isso mesmo que eu fiz.

Stress e Burnout – De acordo com um estudo da Deloitte, as mulheres estão num estado maior de burnout do que os seus colegas masculinos. Ainda são as que garantem o trabalho de casa, o apoio aos filhos e, a nível profissional, é-lhes exigido o mesmo empenho. A falta de flexibilidade que as empresas revelam na gestão do tempo é um dos principais motivos de rutura.

Assédio e micro-agressões – Não duvidem, ainda acontece e muito. Estas agressões podem ser coisas tão simples como um colega homem ficar com o crédito das suas ideias. Um estudo norte-americano revelou que 37% das mulheres dizem que isto já lhes aconteceu, comparativamente com os homens, cuja resposta rondava os 27%. Além disso, ainda prevalece a tendência de tentar gerir estas situações internamente e “sem levantar ondas”, o que denota falta de qualidade na chefia. E é uma das principais razões da saída das organizações.

Falta de reconhecimento – As mulheres são, tendencialmente, mais vezes consideradas juniores na função, não vêem o seu trabalho nas equipas de DE&I reconhecido ou tido em conta na hora da promoção. Um estudo recente da McKinsey revelou que apenas 60% das mulheres recebiam feedback útil das suas chefias, só 40% acreditava que o seu gestor se preocupava com a sua carreira e meramente 50% recebiam crédito pelo trabalho que tinham alcançado.

 

No fundo, a falta de diversidade e qualidade nas lideranças, de equidade nos projetos de crescimento, nos esforços de inclusão serem poucos e com baixo impacto, leva a que muitas mulheres questionem o limite da sua lealdade, e mesmo num mundo onde a economia revela incerteza e insegurança, se sintam fartas e decidam sair.

Será, com certeza, uma perda para as empresas onde trabalhavam: formar novos trabalhadores é sempre um desafio e leva tempo, equipas mistas são as que produzem melhores resultados e exemplos femininos em cargos de liderança são fatores-chave para que outras mulheres queiram ir trabalhar para essas organizações.

Não esperem que as vossas mulheres saiam, mesmo antes de avisar. Olhem para elas e ouçam-nas. Estejam atentos aos sinais. Não esperem pelo let’s breakup.

Se acham que estou a exagerar, aconselho a leitura deste relatório.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 31 Outubro 2024

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