O poder do dinheiro e do conhecimento

O poder está no dinheiro.

Foi sempre assim, assim sempre será.

Uma das formas de manter as mulheres fora do poder foi sempre pagar-lhes menos, dar-lhes menos benefícios, mantê-las em cargos piores pagos. Ainda hoje, por esse mundo todo, seja onde for, as mulheres ganham menos que os homens.

Mas, esta forma de viver na globalidade também atinge o sexo masculino. Aliás, afecta toda a gente. Países inteiros. Discutir a igualdade de género na pobreza mundial é a melhor forma de acabar com ela.

Estive recentemente no Quénia e, curiosamente, tinha acabado de ler o livro da Melinda Gates “Ganhar Asas e Voar”. Aconselho a quem ainda não o fez, que o leia. Nas páginas que devorei nas férias, ela faz um retrato do Mundo, baseando-se no seu conhecimento e nas viagens e pessoas que foi conhecendo através do seu trabalho na Fundação Bill e Melinda Gates em países de Africa e Ásia, transpondo muitas vezes o que via para a sua experiência pessoal. E o que ela concluiu foi muito simples, no entanto tão difícil para os nossos líderes quererem compreender – as comunidades que investiram no conhecimento e apoiaram financeiramente as mulheres foram as que mais cresceram e se desenvolveram. As suas crianças tiveram melhores condições de vida, puderam estudar, e esse conhecimento levou ao desenvolvimento do País. O investimento em micro negócios femininos levou a mais investimento – recentes números do Eurasia Group mostram que políticas que priorizam investimentos no poder económico feminino poderiam levar a um crescimento global extraordinário da economia em 7% em 2030.

Podia ficar aqui a mostrar-vos as estatísticas todas que suportam isto, mas seria cansativo. Procurem. Não há um único estudo que diga o contrário.

Falei que estive no Quénia, porque vim de lá fascinada. O país, independente há 60 anos, está claramente ainda em desenvolvimento, com acessos limitados, alguma turbulência política, pouca indústria. Mas o que me espantou foram as centenas de escolas que vi pelas estradas por onde passei. Fiz centenas de quilómetros, falei com muita gente, e vim surpreendida com o discurso das suas pessoas. Numa tribo Masai, onde se vive como sempre se viveu de há centenas de anos a esta parte, todas as crianças vão à escola. TODAS. Meninos e meninas. As aldeias são construídas o mais perto possível das escolas, quando atingem a idade do secundário, as crianças vão para as cidades mais próximas. Vivem da agricultura e do pastoreio, mas todo o dinheiro que fazem com o turismo é para pagar os estudos dos mais novos. O jovem que nos recebeu, pouco mais velho que o meu filho, era licenciado em contabilidade. À minha pergunta sobre os estudos e as meninas, ele respondeu melhor do que muitos CEOs que andam por aí: “estudam como os rapazes, mas, infelizmente, começaram mais tarde que nós. Chegaram depois às universidades e vamos ter de esperar o impacto do seu conhecimento na sociedade. Temos de esperar…”, dizia, com pena de estar a tomar mais tempo do que gostaria.

Um país que investe no conhecimento e na igualdade de género no acesso a ele é uma nação com uma visão a longo prazo. Demora a ver resultados, mas eles chegarão.

Esperemos que se mantenha este desejo e discurso. E que lá mais à frente o dinheiro seja depois distribuído igualmente.

Que não façam como as nações ditas desenvolvidas, as nossas, onde as mulheres ainda ganham menos que os homens para o mesmo trabalho.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 12 Setembro 2024

Partilhar Artigo

Parceiros Premium
Parceiros