As lideranças femininas e mistas são mais inclusivas

Na 11.ª Grande Conferência de Liderança Feminina, que se realizou no auditório da Porto Business School, fez-se um balanço de um caminho longo em que as mudanças se fazem sentir, mas em que os desafios ainda são extensos.

As executivas do Porto não faltaram à 11ª Grande Conferência Liderança Feminina.

“A evidência científica mostra que, nos boards e nas equipas, uma maior diversidade, como a de género, tem impacto na performance, na criatividade, no bem-estar das empresas e das equipas”, sublinhou Patrícia Teixeira Lopes, vice-dean da Porto Business School. Foi no seu auditório que mais de 250 mulheres assistiram à 11ª Grande Conferência de Liderança, organizada pela Executiva, e que decorreu na manhã de 21 de Março.

Para Isabel Canha e Maria Serina, fundadoras da Executiva, o seu foco está na valorização da liderança feminina e na igualdade de género no mundo do trabalho. Por isso, desde 2016 que a Executiva faz das histórias e dos conhecimento sobre a liderança feminina uma forma de inspirar as mulheres e as empresas para o desígnio da paridade, pois apenas 27% das empresas têm lideranças femininas em Portugal, quando 57% dos médicos, 56% dos advogados e 54% da magistratura são mulheres.

Estes números mostram os desafios para as lideranças atuais das organizações para abrirem os seus níveis mais altos de gestão, porque, mais tarde ou mais cedo, têm de responder à ambição das mulheres pelos lugares de topo e de poder.

Nestes processos de grandes mudanças, as mulheres também têm de alterar as suas visões e atitudes. “A mulher não é ambiciosa porque é perfeccionista e hesita porque julga que não vai estar à altura de novos desafios, mas ser capaz não é fazer tudo bem feito”, disse Mafalda Vasconcelos, administradora da EDP Comercial. “A mulher tem de ter 100% de skills para aceitar um desafio novo; ao homem bastam 60% de skills porque considera que o que falta se suplementa, se resolve e aprende-se”, aduziu Cristina Almeida, women empowerment coach.

Há também dureza neste percurso dentro das organizações. “Uma mulher que se prepara e faz tudo pelas suas ambições, mas depois é afetada pelas micro-agressões que podem afetar duramente a sua carreira”, afirmou Cristina Almeida na sua talk, “She’s a b*”. Estas micro-agressões ou atos subtis de exclusão, que como diz Cristina Almeida não tem nada “de micros nem de subtis” podem reduzir a autoconfiança, afetar o bem-estar emocional, aumentar o stress e o isolamento e até provocar burnout. Por isso, este é um tema que as empresas têm de colocar na sua agenda. Citou um estudo de 2023 que abrangeu 4700 mulheres de 103 países em multinacionais e concluiu que 68% das inquiridas afirmou que as micro-agressões provêm de outras mulheres. Disse ainda que as organizações têm de ter preocupação como estes fenómenos.

Soledade Carvalho Duarte, managing partner da Transearch, alertou para a necessidade que as mulheres têm de autoconhecimento, de formação para compreender e reforçar as competências, e que o caminho do middle management para o C-Level, nível de administração, “é crescentemente solitário, por isso é necessário contar com acompanhamento através de mentoring e de coaching. É preciso apoio para crescer”.

 

“Temos de nos rodear dos futuros líderes e fazer o empoderamento e a preparação tanto de homens como de mulheres para poder atingir a paridade”, Cristina Rodrigues, CEO da Capgemini.

 

Demográfico e geracional

Na talk “Onde param as mulheres? Retrato da presença feminina nas organizações”, Teresa Cardoso de Menezes, managing partner da Informa DB, assinalou que este tema, que há 30 anos se debate, é “demográfico e geracional pelo que evolui lentamente, embora possa haver medidas para que seja mais rápido”. Deu o exemplo das quotas nas empresas cotadas, que tiverem “um efeito de acelerador e de mudança na diversidade de género”, e, ainda, no setor empresarial do Estado em que atualmente existem 82% das equipas de gestão mistas contra 11% em 2017. Uma das suas conclusões é que as lideranças feminina e mista são mais inclusivas, e “há uma maior valorização da diversidade e da riqueza do capital humano”.

Para Teresa Cardoso de Meneses, o caminho para a paridade de género passa por uma multiplicidade de instrumentos e políticas, não se limita às quotas. Por outro lado, a presença das mulheres é “mais do que um gesto, e não é uma reivindicação, mas uma necessidade de participação nas decisões e na gestão das empresas e dos negócios”. Como sublinhou Cristina Almeida, “diversidade é estar no baile, inclusão é convidar para dançar”.

Ainda existem estigmas em relação às mulheres na liderança, lembrou Cristina Rodrigues, CEO da Capgemini, e que muitas vezes quando se entra num mundo de homens é-se assinalada. Para Cristina Rodrigues, que fez passar a empresa de 24 milhões de euros de volume de negócios em 2018, ano em que chegou a CEO, para 220 milhões de euros em 2023, as mulheres têm de ter impacto e não apenas nos resultados. Acrescentou com alguma ironia que “o dificil é manter-se cá em cima, e fazer crescer a faturação porque, provavelmente, antes de ter decréscimno já cá não estou”. Defendeu que “temos de nos rodear dos futuros líderes e fazer o empoderamento e a preparação tanto de homens como de mulheres para poder atingir a paridade”, referiu Cristina Rodrigues. Mas não deixou de sublinhar que as mulheres “têm de se preparar para o sucesso e não ser mazinhas umas com as outras ao não nos ajudarmos. Temos de nos ajudar a empoderar”.

Vontade de ser empreendedora

“Se têm vontade de ser empreendedoras façam-no mas preparem-se. Não tenham medo de ter objetivos audazes mas façam formação para ter ferramentas para enfrentar a multiplicidade de desafios que vão ter”, afirmou Ana Luís Pereira, cofundadora da Healthy Smart Cities, que trocou a medicina familiar num centro de saúde pela ciência e tecnologia em startups na saúde e que participou na mesa redonda, “Empreendedorismo feminino: pequenas empresas, grandes desafios”. No seu caso foi uma pós graduação em Digital Business que a levou a lançar a sua primeira startup.

Por sua vez Marisa Louro, franquiada da McDonald’s, fez uma formação em gestão de carreiras, que foi o factor decisivo para se tornar empreendedora. A engenheira química passou pelas tecnologias da saúde da Siemens e da General Elétrica, e através do autoconhecimento, iniciou um novo percurso, mas sentia que queria manter uma ligação a um multinacional. Na McDonald’s encontrou um desafio empreendedor apoiado por uma marca.

Nesta mesa redonda, Marta Carvalho Araújo lembrou que a dimensão das empresas implica diferentes desafios de liderança e que no empreendedorismo como nas empresas é a capacidade de resolver problemas e de “sermos pragmáticos e escolher bem as batalhas em que nos metemos, e que mais vale feito do que perfeito”. Revelou ainda que fez um MBA, em que a formação foi importante, mas que foi sobretudo para ter “tempo para pensar”.

Quando há 30 anos, Soledade Costa Duarte foi a primeira mulher a ser nomeada managing partner da Transearch na Europa, o responsável europeu disse-lhe que se falhasse não havia problema porque Portugal tinha pouco peso nos negócios da empresa, lembrou a gestora durante a mesa-redonda “Women on leadership: breaking barriers and shaping the future”. Hoje, a empresa é uma das mais importantes empresas de colocação de executivos em Portugal.

Salientou que as gestoras devem ter um plano de vida e um plano carreira, sublinhando que este deve ter em conta que é a médio e longo prazo, mas que o mais importante é “saber o que se quer e como é que se quer para servir de orientação e ajudar a fazer as escolhas, que só com o tempo se sabe se foram boas ou más”.

A história de Raquel Santos, CEO de A Metalúrgica Bakeware Production, líder munidal na produção de formas para pastelaria e panificação, não é de ambição mas de destino porque, aos 23 anos e recém-licenciada em Psicologia, o pai pediu-lhe que viesse trabalhar com ele para a empresa. Decidiu que sim porque mais tarde ou mais cedo teria de agarrar o património que um dia será seu e das suas irmãs. “Tive um foco na aprendizagem com humildade, porque sabia muito pouco de gestão de empresas, e uma visão transformadora, mas sem esquecer o que foi feito pelos meus quatro antecessores desde 1896”, acentuou Raquel Santos.

“Fomos treinados para a lógica, mas há muita coisa ilógica neste mundo” começou por afirmar Alexandre Real durante a talk “Inteligência paradoxal: desconstruir mitos”. Logo a seguir aconselhou “a colocar em causa o lógico e o óbvio porque é uma forma de chegar a outros resultados”. Numa apresentação baseada na desmontagem de paradoxos considerou que “hoje estamos infotoxicados, temos excesso de informação e devemos expor-nos ao mínimo de informação necessária porque a nossa memória não é infinita”, concluiu Alexandre Real.

A atriz Abbadhia Vieira, trouxe o humor empresarial à conferência para rir com algumas particularidades que marcam a gestão sobretudo de pessoas através de uma performance denominada Gargalhadorismo. Mas, a brincar a brincar, chamou a atenção da importância do humor para o bem-estar das empresas e das pessoas, como o revelam os vários papers que nas últimas duas décadas se têm publicado, como  o citado pela atriz: The Value of Happiness, publicado pela Harvard Business Review, em Janeiro de 2012. Como assinala o autor, Shawn Achor, “as investigações demonstram que, quando as pessoas trabalham com uma mentalidade positiva, o desempenho melhora a quase todos os níveis – produtividade, criatividade, empenhamento”. Acrescenta Shawn Achor que “as pessoas que cultivam uma mentalidade positiva têm um melhor desempenho perante os desafios”, a que chamou “vantagem da felicidade” porque “todos os resultados empresariais registam melhorias quando o cérebro é positivo”.

 

Veja a fotogaleria da 11.ª Grandę Conferência Liderança Feminina (Porto).

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