Inês de Almeida Albuquerque fundou a Travassos, Albuquerque & Associados, em 2014, e tem exercido a sua atividade sobretudo no âmbito do Direito Comercial e Societário, embora também com experiência nas áreas de Direito Administrativo e Contencioso.
Começou por querer ser médica, depois arquiteta, até que um professor de Português a aconselhou a seguir Humanidades. Licenciou-se em Direito na Universidade de Direito em Coimbra, e como durante muito tempo se imaginou a ser juíza, e não advogada, fez o curso para admissão ao Centro de Estudos Judiciários na Universidade Portucalense, no Porto, e concluiu o mestrado em Ciências Jurídico-Empresariais, com especialização em Direito das Empresas, pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra..
O facto de trabalhar numa sociedade de advogados de que é partner permite-lhe exercer a advocacia “de forma genuína, sem encaixar numa moldura, onde posso trazer para a mesa um conjunto de experiências profissionais e de vida, seja na assessoria a grandes questões societárias, na coordenação de contratos internacionais ou mesmo em assuntos do foro privado, das pessoas. É assim que sou feliz e tento que esse sentimento se transmita aos nossos clientes e, claro, a toda a equipa”. Saiba como são os seus dias.
7h00
O meu despertador são as minhas filhas. Todos os dias, infalivelmente, acordam a esta hora. Segue-se a animação de uma casa com duas crianças pequenas para convencer a levantar, a vestir, a tomar o pequeno-almoço e a preparar para a escola. Como é o meu marido que as leva, em 20 minutos, naquilo que chamo o me time, arranjo-me e saio de casa. Tenho a felicidade de viver perto do escritório e poder ir a pé, sem ter que passar pelo stressedo trânsito e dos transportes.
8h30
Definitivamente sou uma morning person, prefiro começar a trabalhar cedo, aproveitar aquela hora calma, enquanto o escritório está em silêncio, para pensar, planear o dia e resolver muitos problemas. Isto porque o resto do dia é sempre cheio de imprevistos. Estar nesta profissão, como nós estamos, é ter a certeza de que nenhum dia vai ser igual ao outro. Rotina? Não aqui.
10h00
Reuniões com clientes, preparação de processos, redação de peças e alegações e sessões em tribunal, gosto desta diversidade de desafios. Mas gosto mesmo é das pessoas e das relações que a advocacia nos proporciona. Quando acabei o curso de Direito, o sonho era (ainda) ser juíza e cheguei mesmo a fazer, no Porto, um curso de preparação para acesso ao CEJ. Mas foi durante um período em que o CEJ não abriu novos cursos e, para não ficar parada, decidi candidatar-me a um estágio e procurei escritórios de advocacia. Foi assim que comecei o meu estágio a sério, já na segunda fase, no escritório do João de Travassos, em 2010 e, em 2014, tornei-me sócia, fundando a Travassos, Albuquerque & Associados com o João.
Adoro o que faço. Acabei por encontrar nesta profissão e na forma como a posso exercer, a minha vocação. O que me motiva todos os dias é o contributo que posso dar a quem me procura para a resolução de uma determinada questão jurídica e, tantas vezes, para um desabafo e um conselho. Mais do que a convicção, tenho a felicidade de ver reconhecida pelos meus clientes, com exagerado carinho, até, um traço de diferença, de fazer bem, mas diferente. Sabemos que temos sobre nós a responsabilidade de mudar vidas, de definir o futuro das relações comerciais, dos conflitos e litígios. Sem medo do amanhã, é para isso que lutamos todos os dias e é aqui que encaixo e defino o impacto do meu curso e da minha vida profissional.
11h00
Desde que era advogada estagiária que me foram alocadas pessoas para gerir e projetos para coordenar. Hoje, na Travassos, Albuquerque & Associados somos uma equipa de 10 pessoas e faço questão de participar em toda a fase de recrutamento, de receção de novos colegas e de acompanhamento de estágios ou de integração no escritório. Liderar, para mim, é envolver-me, fazer parte e ter, como tenho sempre, a porta aberta.
12h00
A pandemia trouxe-nos novos desafios. O teletrabalho obrigou-nos a alterar a dinâmica do escritório e a gestão das equipas. A sua implementação não foi difícil uma vez que a média de idades dos nossos advogados é muito jovem e todos têm as necessárias habilitações digitais para colocar em prática este modelo de trabalho. O desafio foi manter a equipa unida, integrada e motivada. Fazíamos videochamadas com regularidade e eram momentos de descontração, como se estivéssemos na porta ao lado. O saldo é francamente positivo, pois todos se mantiveram próximos, com amor à camisola e prontos para enfrentar os constrangimentos que a pandemia trouxe ou outros que possam surgir. Neste momento, privilegiamos o trabalho presencial, a proximidade, as relações interpessoais que surgem do convívio nos locais de trabalho. Até porque esta é uma profissão de e para pessoas. Não conseguimos transmitir o mesmo conforto a um cliente através de um computador.
Alterar métodos de trabalho não foi a nossa única preocupação quando a pandemia começou. Sabíamos que podíamos enfrentar alguns reveses, nomeadamente a nível financeiro, sendo o core dos nossos clientes empresas e, por isso, muito suscetíveis aos seus efeitos. Organizámos as nossas contas, para garantir que conseguiríamos, durante pelo menos 12 meses, pagar a todos os nossos colaboradores e assegurar as despesas fixas, mesmo sem receber. Felizmente, os nossos clientes cresceram ou conseguiram manter-se estáveis, em especial por trabalharmos o setor tecnológico. Apareceram novos e importantes clientes. Na verdade, acabou por não ser necessário aplicar nenhum plano de contingência. O que não significa que não tenhamos ponderado todas as hipóteses, tendo os nossos colaboradores como primeira preocupação.
13h00
O almoço não me ocupa muito tempo. Geralmente, como qualquer coisa rápida e continuo a trabalhar. Sinto-me muito bem no escritório, que é parte de nós e da nossa personalidade. Foi sendo decorado com detalhes que me dizem muito e que são o reflexo de experiências e locais, que fazem a minha vida. Nasci em Viseu, estudei em Coimbra, vivi no Porto e vivo há 10 anos em Lisboa. Trago comigo um bocadinho de cada local por onde passei. A minha sala é um refúgio e uma extensão de casa. Nem podia ser de outra maneira. Tenho fotografias das minhas filhas e de família, peças que me foram oferecidas, desenhos recortados, tudo coroado por um par de ilustrações penduradas atrás da minha secretária, em que “relocalizei” a Torre da “Cabra” da Universidade de Coimbra na Praça do Marquês de Pombal e levei a estátua do Marquês de Pombal ao local da precedente, no terreiro do Paço das Escolas, no Páteo da Universidade de Coimbra. É uma ideia minha, executada pelo meu marido, um artista de mão cheia!
15h00
Por princípios não fechamos a porta quando nos contactam, a menos que seja uma causa perdida (infelizmente também existem) ou que não tenhamos realmente disponibilidade. Estes casos dão-nos chão e devolvem-nos parte da motivação pela qual não queremos transformar-nos numa fábrica de advocacia, mas manter-nos fiéis à génese que nos trouxe aqui. Estes clientes vêm de todos os setores com os quais trabalhamos, seja por referência de clientes de empresas do sector tecnológico ou entidades públicas, nomeadamente autarquias, o nosso trabalho pro bono é diversificado e, em regra, redunda em casos pessoais, problemas privados, seja junto de associações com os mais diversos fins, seja em situações de regulação de responsabilidades parentais ou até de sucessões.
É uma premissa que tentamos incutir em toda a equipa e, sempre que assumo um processo destes, chamo alguém para me ajudar. Facilita o facto de termos um escritório em Santarém, uma escolha que teve por base a descentralização do nosso trabalho, e onde são muito mais profusas as situações de precariedade e o temor gerado em ambientes mais rurais onde pessoas mais isoladas, sem conhecimento jurídico ou prático, que não sabem como lidar com situações reais em que se pensam indefesas e não cobertas por medidas legais que estão, de facto, subjacentes a um Estado de Direito. É parte do nosso trabalho e do nosso contributo, ajudarmos a ultrapassar esta iliteracia jurídica.
16h00
Gosto mais do trabalho de secretária. Confesso-me uma apaixonada pela escrita e por pensar o Direito. Prefiro que um problema nunca chegue a tribunal e por isso tento resolver os temas extrajudicialmente. É melhor para o cliente, na maioria das vezes, e implica poupar muito tempo e muito dinheiro. Se é melhor para o cliente, é melhor para nós! Por isso, ocupa-nos mais um trabalho vocacionado para o escritório, de estudo, preparação, consulta jurídica, negociação e assessoria, mas quando vou a tribunal é sempre um dia diferente. Quando regresso, há dezenas de e-mails por ler e uma imensidão de temas que estão a solicitar presença e resolução, e normalmente, como na maioria das profissões, urgentes. Nesses dias, ou regresso ao escritório depois de deitar as minhas filhas ou há que “negociar” em família quem pode estar presente, e, para isso, conto com uma outra “supermulher”, a minha sogra, já que a minha mãe não vive em Lisboa, ou com um “super-homem” – também os há, sim! – o meu marido.
18h00
Tento, antes de sair, reorganizar a caixa de e-mails e responder a todos. É um princípio de organização que me ajuda a não perder os assuntos. É acima de tudo uma questão de respeito pelos clientes que esperam uma resposta. Nunca deixamos um assunto sem resposta. Por isso, ocupo a última hora de trabalho assim. Para além disso, somos uma equipa que trabalha “de portas abertas” e nunca saio do escritório sem visitar todas as salas e falar com toda a equipa. Não podemos liderar sem dar um bom exemplo de trabalho, de esforço e de dedicação. Somos um escritório informal, com uma média de idade muito jovem, mas há dias que o trabalho é tanto que quase não conseguimos falar uns com os outros. Por isso, não abdico destes 5 minutos de conversa e partilha.
19h30
Como todas as mulheres, consigo conciliar a vida profissional com a familiar, com muita “ginástica” e organização. Tento sair sempre do escritório por volta das 19h30, e as horas seguintes são dedicadas às minhas filhas, uma com um ano e outra com três, e ao meu marido. Mesmo que, depois dos jantares, dos banhos e da brincadeira, quando as crianças dormem, acabe por voltar ao trabalho, para fechar temas que não consegui durante o dia ou me dedicar a casos mais complicados, consigo desligar quando chego a casa. Aliás, é esse o meu momento de atividade física, puro cardio: rebolar e brincar com as crianças. Seja o dia da dança ou das expressões plásticas, na vida como na advocacia, não há um dia igual ao outro!
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