Vive-se com tanta incerteza e volatilidade provocadas pela pandemia da Covid-19, que parece em extinção, e os efeitos de uma guerra na Ucrânia de que não se prevê o fim, por isso, nunca como hoje a liderança e a diversidade são fundamentais nas instituições e “o papel das mulheres é determinante”, afirmou Patrícia Teixeira Lopes, associate dean da Porto Business School, na abertura da 7.ª Grande Conferência Liderança Feminina, que se realizou a 17 de Março no auditório da PBS no Porto. Contou com a presença de cerca de 300 participantes que, como disse Patrícia Teixeira Lopes, impressionavam pela cor, a diversidade, “não estamos todos de fatos cinzentos e azuis-escuros como é habitual”.
Segundo o estudo “A Diversidade de Género nas Empresas em Portugal”, da Informa D&B, apenas 16,4% de todos os presidentes dos conselhos de administração das empresas portuguesas são mulheres, a função de diretor geral é desempenhada por uma mulher em apenas 13,1% dos casos e nos cargos de direção executiva e de gestão, a representação de mulheres é de menos de 30%, referiu Isabel Canha, diretora da Executiva.
Mulheres foram as principais vítimas das consequências da pandemia
O caminho percorrido foi muito, há estudos que mostram que houve evolução, “a awareness sobre as questões de género hoje é muito grande e não há conferência sobre gestão em que não se fale do tema da equidade e da diversidade no acesso das mulheres às posições de liderança”. Contudo os factos ainda não mostram que se tenham atingido os objetivos. Os estudos empíricos mostram ainda um gap muito grande, e a pandemia da Covid-19 veio “ainda afetar de uma forma mais negativa as mulheres neste percurso”, disse Patrícia Teixeira Lopes.
As mulheres foram as principais vítimas das consequências da Covid-19. Em todo o mundo foram elas quem mais perdeu os seus empregos, se teve de desdobrar no papel de profissionais e cuidadoras da família, e quem mais sofreu de burnout. A dimensão e impacto levaram que se utilize já “a expressão ‘primeira recessão feminina’ para descrever o impacto que a pandemia teve sobre as mulheres”, afirmou Isabel Canha.
A liderança feminina faz a diferença
O mote da conferência era Women Leading Change. O que não foi por acaso, como sublinhou Isabel Canha, porque, apesar da variedade temática dos muitos painéis de debate e palestras, em comum tinham “o facto de as mulheres estarem a fazer a diferença, provando os benefícios de ter um modelo alternativo de liderança, a feminina, e maior diversidade no comando das empresas”.
Citou Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, Jacinta Arden, primeira-ministra da Nova Zelândia, Ângela Merkel, chanceler da Alemanha, Marta Temido e Graça Freitas em Portugal que “mostraram que a liderança feminina pode fazer a diferença”. Acrescentou que “à frente de Estados, de empresas e de outras organizações, as mulheres emergiram como melhores líderes e evidenciaram o seu papel visionário, conciliador, organizador e também cuidador (sim, sempre, também) ”.
No entanto, apesar a igualdade de género ser um dos objetivos do desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, a existência das quotas e de políticas implementadas pelas empresas e outras organizações, as mulheres em funções de liderança continuam a ser uma minoria.
“Não é por falta de estudos, não é por não sabermos, está provado mesmo que maior diversidade, como a de género, nas lideranças das empresas traz mais desempenho no sentido lato que tem a ver com a performance. São empresas mais inovadoras, mais criativas, mais felizes, com mais produtividade, reúnem mais competências e mais capacidades, mais resilientes para o futuro”, afirmou Patrícia Teixeira Lopes. O que à escala de uma economia como a do país se traduz em mais crescimento económico.
Faltam role models femininos
Para Isabel Canha, há “uma escassez de role models femininos, que sirvam de referência para as novas gerações e promovam modelos de sucesso e liderança diversificada, falta de modelos inspiradores que é, segundo diversos estudos, um dos fatores que continua a impedir mais mulheres de chegarem a cargos de liderança. Não conseguimos ambicionar ser aquilo que não conhecemos”.
Um exemplo desta distorção foi revelado por Patrícia Teixeira Lopes e que a ver com o tipo de cases-studies se utilizam nas salas de aula das escolas de gestão, em que os “em 90% das situações são protagonizados por um homem”, isto é, “os roles models são gerados por este material académico” e são sobretudo masculinos. Neste sentido a PBS está a incentivar os docentes a procurarem mais case-studies com diversidade e, por outro lado, dar um impulso à produção de mais estudos em que as mulheres sejam protagonistas.
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