Os nossos valores e os das empresas

Há momentos das nossas vidas em que os nossos valores não encontram os das empresas onde trabalhamos. Muitos de nós poderão ter um grau de exigência relativamente a modos de trabalhar que não vemos na rotina profissional da organização, a nossa ética sobre determinados assuntos não se encontra reflectida nas estratégias dos negócios, reportamos ou temos de interagir com indivíduos com visões totalmente distintas das nossas.

E se, muitas vezes, conseguimos gerir as situações, outras haverá em que a nossa capacidade de adaptação seja reduzida. Muitas vezes, dependerá da altura da vida que atravessamos, se estamos mais receptivos a perceber o outro lado ou, simplesmente, não queremos negociar a nossa forma de ver o mundo.

Uma das técnicas que tento utilizar quando o outro lado tem uma forma de atuar muito distinta da minha é tentar perceber de onde ele vem: o seu passado, as suas experiências, as suas motivações. É razoável considerar que os valores das pessoas com quem trabalhamos representem a sua história de vida, a sua educação, quantas vezes a sua cultura (se se tratam de ambientes internacionais). Isto não significa que eu mude o meu valor, mas ter uma explicação para a do outro retira a parte pessoal da equação e ajuda-me a flexibilizar os pensamentos e, provavelmente, tentar encontrar um ponto comum a ambas as partes que facilite o relacionamento.

Mais difícil é quando falamos de valores das empresas, a sua cultura. Nestes casos, conseguir que uma organização inteira modifique um grau dos seus valores é incrivelmente complicado, senão impossível. Se for um movimento com que grande parte dos colaboradores se identifique (estou a lembrar-me talvez da igualdade de género nos ordenados ou na progressão na carreira), talvez os cargos decisores considerem trabalhar nesse sentido. Mas não havendo uma maioria que se identifique com a ideia, considero que é mais simples a pessoa olhar para dentro de si e avaliar quão importante é esse valor para a sua felicidade profissional.

Poderá chegar um ponto em que teremos de ser honestos com nós próprios e assumir aquilo que de facto é importante para nós, e não o que, muitas vezes, a sociedade ou o ambiente profissional nos impõem. Muitas vezes — ou quase sempre? —, não é o dinheiro, carreira, trabalhar para uma marca conhecida. São outras coisas que nem são quantificáveis, que nem eram importantes há uns anos. Porque nós também mudamos.

É nesse momento que os nossos valores se tornam mais fortes e justificáveis. E que nos ajudam a decidir por um caminho diferente.

Definir valores profissionais, a par dos pessoais, é uma grande aprendizagem. E pode ajudar-nos a definir uma carreira mais sustentável e com mais significado.

 

Inês Brandão é fundadora e Global Business Manager da Frenpolymer. Leia mais artigos de Inês Brandão.

Publicado a 28 Novembro 2024

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