Sonhava ser psicanalista, quando terminou a licenciatura em Psicologia, no Instituto Superior de Ciências da Saúde – Norte, e um emprego na Escola de Moda do Porto ditou o início da sua ligação ao mundo da gestão e das vendas. A moda e os têxteis têm sido o fio condutor da carreira, de mais de duas décadas, de Marta Pacheco. Depois de uma breve passagem pela indústria do calçado, liderou a área das vendas em empresas do setor têxtil mais técnico, na Sonae e Skypro. Ingressou depois na Pedrosa & Rodrigues, como business development manager, antes de assumir a direção comercial da Triwool. A executiva juntou-se recentemente à Riopele, como diretora de Vendas de uma das mais antigas empresas têxteis portuguesas.
A aposta no Global Online MBA da Porto Business School, na primeira edição do programa, revelou-se uma experiência transformadora. Permitiu-lhe uma especialização à medida, “que também podia ser feito ao meu ritmo”, podendo gerir de forma mais equilibrada o impacto do MBA na vida familiar e profissional. Considera que foi uma jornada muito enriquecedora para o seu crescimento pessoal e da carreira: “Tornei-me uma profissional diferente, com uma abordagem diferente perante o trabalho e os problemas do dia a dia.”
Quando se formou em Psicologia, e começou a sua carreira na prática clínica, o que sonhava para o seu futuro?
Na altura em que terminei o curso de Psicologia sonhava tornar-me psicanalista. Sabia que seria um percurso longo, de muita dedicação, mas dar consultas trazia-me grande satisfação, principalmente com as crianças. A melhoria dos seus sintomas ao longo da terapia parecia, por vezes, magia, o que me fazia sentir muita alegria e orgulho, embora nem sempre fosse um caminho fácil para eles e para mim.
Dirigiu, no entanto, o seu percurso para uma área totalmente distinta, vendas e gestão. Qual o percurso que fez e o que atraiu nesta área?
Em 2004, além das consultas, fui também trabalhar para a Escola de Moda do Porto, como psicóloga. Na altura, os fundos europeus contemplavam um serviço de psicologia e eu tornei-me a psicóloga da escola. Durante duas tardes, recebia os alunos que queriam ter consultas e que, de outro modo, não teriam acesso a este tipo de apoio.
A Escola de Moda do Porto é uma escola profissional, fundada a partir da primeira escola de moda em Portugal, que surgiu em 1972. Como escola profissional a sua missão é a formação especializada de jovens, na área da moda, numa articulação com empresas e outras instituições, que garantam a ligação ao mundo do trabalho, sendo o seu funcionamento assegurado por Fundos Europeus.
E é aqui que entro no mundo da gestão. Além de psicóloga e formadora, fui convidada para fazer parte da direção da escola, na componente não letiva, tornando-me responsável pela gestão dos fundos europeus que a escola necessitava receber para poder manter a sua atividade. Fiquei responsável pelas candidaturas ao POPH, pela gestão de fornecedores e empresas parceiras, e pela prestação de contas à entidade pagadora do Estado. Nessa altura, para conseguir estar à altura deste desafio, recorri à Porto Business School (PBS) para ganhar novas competências, e tirei os cursos de Finanças para Não Financeiros e o Curso Geral de Gestão. Foi nesta altura que percebi que a gestão, além das relações humanas, é também uma das minhas ciências favoritas.
Depois de 10 anos na Escola de Moda, comecei a sentir algum desgaste, devido às grandes dificuldades de gestão que as escolas financiadas enfrentam. Por esta altura, não fazia ideia onde se poderia encaixar os meus skills no mercado de trabalho. Recorri, mais uma vez à PBS, para um programa de gestão de carreira e foi lá, através da bolsa de emprego da escola, que tive o primeiro emprego na área das vendas. Fui contratada como gestora de Vendas numa empresa de calçado, em São João da Madeira, que pretendia profissionalizar um pouco mais a sua ação comercial e procurava alguém que tivesse estudado algumas ferramentas atuais de gestão e de desenvolvimento de negócio. Deram-me esta oportunidade e foi uma experiência muito enriquecedora. Percebi quanto gosto de vendas, do contacto com clientes internacionais, de produto e de estar dentro da indústria transformadora. Depois desta breve passagem pelo calçado, trabalhei sempre com têxteis de todos os tipos: mais técnicos na Sonae e na Skypro, e mais moda nas outras empresas por onde passei, muito focadas nos segmentos premium e de luxo, onde está, sem dúvida, o valor acrescentado da indústria têxtil portuguesa.
O negócio da indústria têxtil está numa fase de transição, impulsionado por mudanças tecnológicas, demandas por sustentabilidade, novos comportamentos do consumidor e das marcas, que são os nossos clientes.
Qual a sua missão que lhe foi entregue na Riopele?
A missão que a Riopele me entregou foi a de profissionalizar a sua equipa comercial, ou seja, trazer para a equipa um modelo de trabalho mais adaptado às exigências atuais. Até há pouco tempo, não havia uma formação específica na área comercial. Atualmente já não é assim. Há muitas ferramentas e muitas técnicas que nos tornam comerciais mais focados e com melhores resultados. Não obstante, acredito haver muitos soft skills necessários a estas funções comerciais, mas isto seria uma outra conversa.
O negócio da indústria têxtil está numa fase de transição, impulsionado por mudanças tecnológicas, demandas por sustentabilidade, novos comportamentos do consumidor e das marcas, que são os nossos clientes. A capacidade das empresas de se adaptarem a essas mudanças, investirem em inovação e operarem de forma mais ética e transparente será decisiva para seu sucesso no futuro, tornando-se a sustentabilidade, a digitalização e a eficiência na cadeia de suprimentos pilares essenciais para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades deste novo cenário.
Por outro lado, a Riopele é uma empresa quase centenária, vertical, e única na Europa. Isto traz-nos muitas vantagens comerciais, mas grandes desafios em termos de eficácia e rentabilidade produtiva. Neste sentido, o grande desfio da ação comercial é encontrar o melhor equilíbrio entre aquilo que é o foco no cliente e as necessidades de uma empresa tão grande, que trabalha 24 horas por dia, emprega mais de 1200 pessoas e produz 40 km de tecido por dia. Tudo isto com uma carteira com mais de 250 clientes, com necessidades muito específicas em todas as características do nosso produto, como por exemplo a cor, o peso ou o desenho de cada um dos seus tecidos.
Pela sua história, pelas suas pessoas e pela sua administração, não tenho dúvidas que conseguiremos, mais uma vez, adaptarmo-nos a mais uma mudança, e tudo farei para que a minha missão seja bem-sucedida. Tenho uma equipa dedicada, muito conhecedora e que também ela se tem vindo a adaptar às novas necessidades dos nossos clientes e do mercado, tornando-se mais uma força interna catalisadora da mudança. O foco na inovação e a presença mundial que temos, permite-nos perceber que somos até criadores de tendências no setor.
A minha missão é aproveitar tudo isso e trazer o melhor de mim para que esta transformação seja bem-sucedida, trazendo novas ferramentas e uma perspetiva nova que possa juntar-se e adicionar valor a quem já cá está. Em 2027, a Riopele fará 100 anos e almejamos os 100M€ de faturação.
Na Escola de Moda aprendi como a educação é o garante do nosso futuro e quão descurada tem vindo a ser. Aprendi a ser mais resiliente e a sair da minha zona de conforto para fazer um melhor trabalho.
Que mais-valias retira de cada experiência profissional?
Cada experiência profissional que tive trouxe-me competências novas, pessoais e profissionais. É incrível a riqueza e a diversidade de experiências que vivi a cada mudança. Cada empresa é um ecossistema. Na Escola de Moda aprendi como a educação é o garante do nosso futuro e quão descurada tem sido. Aprendi a ser mais resiliente e a sair da minha zona de conforto para fazer um melhor trabalho. Na empresa de calçado desenvolvi e experimentei o mundo incrível da internacionalização, conheci novas pessoas e novas culturas e aprendi o reconhecimento que Portugal tem lá fora, por vezes bem maior do que nos damos conta. A Sonae trouxe-me o mundo da profissionalização, de fazer parte de uma equipa com uma liderança forte. Digo muitas vezes que a nossa vida profissional é também definida pelos chefes diretos que temos, e na Sonae tive os melhores.
A partir daí, estive sempre em empresas familiares têxteis onde aprendi o valor da experiência. Fiquei muito surpreendida com know-how incrível que existe nestas empresas onde a maioria das pessoas trabalharam quase toda a vida e a pela agilidade a que se permitem. Aprendi a ser rápida, a fazer parte das soluções e o valor que tem uma história e uma família com paixão pelo que faz.
Que qualidades e competências considera essenciais para ser uma boa profissional na sua área?
Temos hoje um novo paradigma de entendimento da realidade dos negócios, definida como BANI, ou seja, vivemos numa realidade frágil, ansiosa, não-linear e incompreensível. Concordo totalmente, e isso faz com que o trabalho de um comercial seja ainda mais desafiante, quando o seu principal objetivo é construir relacionamentos de longo prazo que permitam o estabelecimento de verdadeiras parcerias estratégicas, onde ambas as partes se entreajudam naquilo que são as suas maiores dificuldades e tentam crescer um conjunto.
Nesse sentido, são muitas as qualidades e competências que considero essenciais para um bom desempenho comercial. Além das mais técnicas, relacionadas com a função em si, como por exemplo ter conhecimento do produto, conhecimentos digitais e de técnicas de negociação e capacidade analítica, as mais importantes para mim recaem em necessidades transversais a todas as funções de hoje em dia. Na verdade, todos temos clientes, nem que sejam só os internos da nossa própria empresa.
Neste campo, diria que é essencial ter uma comunicação eficaz, saber escutar ativamente e transmitir mensagens de forma clara e persuasiva, ter empatia e criar relações genuínas e transparentes, ser resiliente e orientado para os resultados, proativo, criativo, aprender a gerir o tempo e adotar uma mentalidade de aprendizagem contínua. A adaptabilidade e a proatividade de cada um de nós torna a empresa mais ou menos capaz de enfrentar e ultrapassar os maiores desafios num contexto tão instável, onde a previsibilidade que tínhamos noutros tempos, deu lugar à incerteza e à ansiedade e, por isso, à necessidade de que cada um de nós seja capaz de trabalhar bem dentro de limites tão ténues. Voltando à psicologia, todos nós precisamos desde que nascemos de estabelecer laços relacionais de segurança, por isso, penso que uma boa forma de ultrapassar esta instabilidade, é o estabelecimento de relações fortes e de confiança dentro das equipas, dentro das empresas e, claro, com os nossos clientes.
Apesar de todo o esforço envolvido, aprendi muito, ganhei uma visão holística dos negócios, das empresas e das relações que não tinha até então.
Porque decidiu fazer o Global Online MBA e porque escolheu a Porto Business School?
Já andava há alguns anos a pensar num MBA e a PBS foi sempre a escola onde ponderei inscrever-me. Além da proximidade, a minha confiança na escola e nos seus docentes é total, até porque já lá tinha feito várias formações, como referi. Na altura em que foi lançada a 1ª edição do Global Online MBA, as suas premissas iam exatamente ao encontro daquilo que me tinha impedido anteriormente de me inscrever. As aulas podiam ser online, mas também presenciais, o currículo permitia uma especialização à minha medida e também podia ser feito ao meu ritmo, uma vez que nos podíamos inscrever nas disciplinas que nos propuséssemos a fazer a cada termo. Tudo isto permitiu gerir de forma mais equilibrada o impacto do MBA na vida familiar e profissional.
Qual o impacto do MBA na sua carreira e na sua vida?
O impacto foi brutal. Mudou mesmo muita coisa, numa jornada que considero incrível. Apesar de todo o esforço envolvido, aprendi muito, ganhei uma visão holística dos negócios, das empresas e das relações que não tinha até então. Tornei-me uma profissional diferente, com uma abordagem diferente perante o trabalho e os problemas do dia a dia. Além disso, também foi uma jornada muito gratificante em termos pessoais, porque o grupo era incrível. Com o peso de sermos pioneiros do programa, muito empenhados para que tudo funcionasse e com uma solidariedade única entre todos, ficou bem claro que juntos somos todos muito mais fortes.
Houve alturas em que escolhi o MBA, houve outras em que escolhi a família.
Para muitas mulheres a falta de tempo é o maior obstáculo para fazer um MBA. Como é que ultrapassou esse desafio?
Digo sempre que um MBA é também um master em gestão de tempo, um grande desafio que implica uma gestão de prioridades eficaz. Caso contrário, é fácil entrar em ansiedade com tudo o que nos é exigido durante essa jornada. Implica também uma entidade empregadora que entenda e que permita esta gestão de tempo e um apoio familiar extra, ao longo de muitos meses. Confesso que, por vezes, foi difícil, até porque tenho dois filhos pequenos, mas a verdade é que tudo se faz quando temos apoio daqueles que nos rodeiam e quando escolhemos, sem culpa, a que é que vamos dar prioridade a cada desafio. Houve alturas em que escolhi o MBA, houve outras em que escolhi a família.
Que conselho deixaria a uma jovem?
Que construa uma carreira sólida, focada no seu crescimento pessoal e profissional. A sociedade atual é muito acelerada e exigente, onde saber lidar com pessoas é tão importante quanto ser tecnicamente competente. Por isso, aconselho as jovens a investirem no desenvolvimento das suas capacidades interpessoais, na sua aprendizagem contínua, a serem flexíveis, adaptáveis e resilientes. As empresas e as equipas precisam de pessoas focadas, com iniciativa e proatividade, dispostas a trabalhar em equipa, para atingir melhores resultados. Por outro lado, penso ser importante, também, que procurem mentoria com quem as possa realmente ensinar, que construam uma rede sólida de contactos e, claro, que cuidem da sua saúde física e mental. Com o passar dos anos apercebi-me quão importante é termos alguma atividade física que nos divirta e não abdicarmos daquilo que nos faz felizes quando não estamos a trabalhar.
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