A paixão pelos “números em movimentos” levou Inês Godinho à licenciatura em Geofísica, na Universidade de Lisboa, mas foi no ensino das ciências, e com um mestrado em Educação em Ciência, que realizou o sonho de impactar vidas. A vontade de conhecer novas culturas, foi o gatilho que mudou o rumo da sua carreira, há mais de uma década ligada à gestão de Recursos Humanos, que teve como ponto de partida a gestão de um centro de formação em Angola, até à função atual como responsável pela estratégia global de aprendizagem e inovação, no Dubai. Com uma experiência muito diversificada em funções e geografias, em Portugal, África e Médio Oriente, garante que têm sido as pessoas o denominador comum da sua carreira, que acredita serem o “verdadeiro sucesso das organizações.” Há vários anos a liderar pessoas de várias nacionalidades, e há oito no Dubai, reconhece que a diversidade cultural tem sido o maior desafio na sua carreira internacional. Mas que também encara como uma vantagem, afirmando que “quase todos somos estrangeiros, deslocados dos nossos países de origem”, e criam-se laços e “sistemas únicos, imprevisíveis e fascinantes.” Com o objetivo de reforçar as competências em gestão e alargar a rede profissional, Inês Godinho escolheu o Global Online MBA, da Porto Business School, que lhe permitiu frequentar aulas em diversas geografias. Garante ter sido uma das experiências mais intensas e gratificantes que viveu. Uma aposta ganha que a impactou pelo netwowking gerado, pela partilha de experiências inspiradoras e pelo boost que deu à sua carreira.
Quando se licenciou em Geofísica e fez o mestrado em Educação em Ciências, o que é que sonhava para o seu futuro?
As ciências, ou ‘números em movimento’, como gostava de lhes chamar, sempre foram a minha grande paixão. No entanto, ao longo do meu percurso, percebi que o meu propósito estava num lugar distante da investigação científica. Sempre sonhei em impactar vidas, e foi na educação que encontrei essa resposta. A verdadeira realização surgiu quando, de forma casual, comecei a lecionar Matemática e Ciências a jovens que se preparavam para o mercado de trabalho ou para entrar na universidade. A oportunidade de partilhar conhecimento fez-me perceber que o ambiente isolado e silencioso dos laboratórios era demasiado estático para mim. Encontrei um significado mais profundo ao contribuir ativamente para o desenvolvimento dos outros, o que me levou a enveredar pelo mestrado na área da educação, com o objetivo maior de ajudar as pessoas a desafiarem-se.
O seu percurso tem sido feito numa área totalmente distinta, a de capital humano e desenvolvimento de pessoas, e com uma experiência muito diversificada em funções e geografias, em Portugal, África e Médio Oriente. Qual tem sido o fio condutor da sua carreira?
Acredito firmemente que o verdadeiro sucesso das organizações reside nas suas pessoas, e foi essa convicção que alinhou o fio condutor da minha carreira à gestão de Recursos Humanos no meio corporativo. As geografias foram mudando, mas percebi que havia um denominador comum: a essência humana. Considero a minha experiência em regiões diversificadas uma oportunidade para aprofundar a compreensão de como o contexto influencia a cultura das organizações e, sobretudo, uma oportunidade para me alinhar com o meu propósito: criar impacto. Em todos os contextos, mesmo nos mais desafiantes e desiguais, tenho-me focado em promover conexões sólidas, fomentar um sentido de pertença e equidade, e assegurar que cada pessoa se sente valorizada, única, ouvida e, acima de tudo, parte integrante de uma cultura maior, a do sucesso coletivo.
Iniciou a carreira em Portugal no ensino das ciências e, poucos anos depois, estava a gerir uma escola – função que muitos consideravam ser o topo da sua carreira. No entanto, a sua perspetiva foi diferente. O desejo de explorar novas culturas levou-a a trabalhar em Angola, no Catar e no Dubai.
Quais as principais etapas do seu percurso até ao cargo que hoje ocupa?
Iniciei a minha carreira em Portugal no ensino das ciências e, poucos anos depois, estava a gerir uma escola – função que muitos consideravam ser o topo da minha carreira. No entanto, a minha perspetiva foi diferente, e o desejo de explorar novas culturas levou-me até Angola, onde assumi a gestão de um centro de formação e desenvolvi planos de carreira para empresas locais e globais. Após seis anos em África, segui para o Médio Oriente para desenhar o processo de onboarding de uma petrolífera a operar no deserto do Catar. Nos últimos oito anos, estabeleci a minha carreira nos Emirados Árabes Unidos, no Dubai, numa nova área para mim: o retalho. Exerci funções regionais na área da gestão de talento, cocriei e internacionalizei uma escola de negócios e, atualmente, sou responsável pela estratégia global de aprendizagem e inovação de uma empresa com atividade em 16 países.
Estando a trabalhar fora de Portugal há mais de uma década, em várias culturas e a liderar pessoas de várias nacionalidades, quais considera serem os grandes desafios a considerar numa carreira internacional? E as principais desvantagens?
A diversidade cultural é o maior desafio, mas também pode ser uma grande fonte de motivação. Na minha experiência, há um fator comum nas organizações com que colaboro: quase todos somos estrangeiros, deslocados dos nossos países de origem. Isso cria sistemas únicos, imprevisíveis e fascinantes dentro de um ecossistema que já é, por definição, dinâmico e incerto. A comunicação torna-se ainda mais desafiante, e a mudança constante exige flexibilidade, empatia e, acima de tudo, a vontade contínua de aprender. Contudo, esta diversidade cultural também traz desvantagens. As diferenças nos sistemas de valores e nas perceções, muitas vezes demasiado distintas, podem dificultar o entendimento mútuo. Manter o equilíbrio nas equipas torna-se um desafio constante, com pequenas tarefas e objetivos a ganharem proporções excessivas. As circunstâncias convidam-nos a fortalecer o músculo da conexão genuína para que o ambiente de trabalho seja coeso, harmonioso e em que todos sintam que pertencem.
Os desafios mais frequentes que tem encontrado surgem na comunicação. Recorda uma reunião de apresentação a uma nova equipa em que toda a conversa decorreu em árabe, o que encarou como um sinal de exclusão. Afinal, os colegas apenas estavam inseguros com o nível de fluência em inglês que tinham e evitaram expressar-se em inglês.
Que qualidades e competências considera essenciais para ser uma boa profissional na sua área?
Na gestão de talento, vejo mais do que uma profissão – vejo uma missão, e acredito que o verdadeiro sucesso desta missão está na capacidade de liderar com autenticidade. A transparência e a escuta ativa são essenciais, permitindo-nos focar na colaboração e na valorização do que nos une, em vez de nos deixarmos dividir pelas diferenças. Para mim, a resiliência é uma competência indispensável, especialmente num mundo onde a mudança é a única constante. Esta capacidade de adaptação preserva a motivação em tempos de incerteza, e inspira quem nos rodeia. Acredito também na importância de uma mentalidade de crescimento contínuo, que nos permita aprender com as falhas, acolher novas ideias e manter-nos abertos à mudança. Contudo, considero que é a sensibilidade que realmente faz a diferença. Ter a sensibilidade para reconhecer o momento do outro, na minha perspetiva, é o que distingue uma liderança de excelência.
Consegue identificar algum erro que lhe tenha trazido uma aprendizagem importante na carreira?
Tenho como princípio de que os erros são excelentes oportunidades de aprendizagem e, ao longo da minha carreira, tenho acolhido muitos como parte do meu crescimento. Num ambiente tão diversificado como o que integro, os desafios mais frequentes surgem na comunicação. Recordo-me de um episódio durante a primeira reunião de um projeto, na qual estava a ser apresentada a uma nova equipa. Toda a conversa decorreu em árabe, o que inicialmente interpretei como um sinal de exclusão por ser a única mulher presente. Decidi sair da reunião de forma discreta. Posteriormente, ao explicar a um dos colegas a razão da minha saída, percebi que a minha interpretação estava enviesada. Não se tratava de uma questão de aceitação ou de género; na verdade, os meus colegas estavam preocupados com o seu nível de fluência em inglês e sentiam-se inseguros para se expressar. Este episódio revelou-se uma lição valiosa sobre a importância de não tirar conclusões baseadas em experiências passadas. Aprendi que, em qualquer contexto, a chave está em procurar compreender antes de assumir, transformando potenciais obstáculos em oportunidades de conexão.
Reconhece que o Global Online MBA foi uma das experiências mais intensas e gratificantes que viveu, que revitalizou a sua confiança para abraçar novos desafios, e impulsionou a sua progressão na carreira para a área de estratégia e inovação, onde encontrou um profundo sentido de realização.
O que a levou a fazer o Global Online MBA e porque escolheu a Porto Business School?
O MBA foi uma decisão estratégica para aprofundar o meu conhecimento do meio corporativo, reforçar as minhas competências em gestão e alargar a minha rede profissional. Optei pela Porto Business School pela sua reputação, pela abordagem holística ao ensino e pela flexibilidade do programa, que disponibilizava aulas em formato online e presencial. A excelência dos docentes, as parcerias com universidades e business schools de renome mundial, bem como a ampla variedade de electives que me permitiram personalizar o percurso académico, foram fatores determinantes na minha escolha. A oportunidade de frequentar aulas em diversas geografias foi igualmente importante e enriqueceu significativamente a minha experiência, permitindo-me estabelecer uma rede diversificada de contactos internacionais que nutro com carinho.
Como é que o MBA contribuiu para definir e implementar o seu propósito e atingir os seus objetivos profissionais?
O MBA teve um impacto profundo no meu propósito e foi uma experiência verdadeiramente transformadora. Ajudou-me a alinhar as minhas ações diárias com os meus objetivos de longo prazo, proporcionando uma clareza renovada sobre o meu percurso profissional. Foi uma das experiências mais intensas e gratificantes que vivi, marcada pelo desafio positivo de gerir o tempo e as prioridades de forma eficaz. Ao longo do trajeto, adquiri ferramentas, frameworks e novas perspetivas que antes não possuía, e construí uma rede valiosa de colegas e professores com quem partilho ideias de forma contínua. Hoje, sinto que tenho uma visão mais abrangente, maior agilidade na análise de situações complexas e uma capacidade reforçada para tomar decisões informadas e estratégicas. Esta evolução não só revitalizou a minha confiança para abraçar novos desafios, como também impulsionou a minha progressão na carreira para a área de estratégia e inovação, onde encontro um profundo sentido de realização.
Para muitas mulheres a falta de tempo é o maior obstáculo para fazer um MBA. Como é que ultrapassou esse desafio?
A gestão do tempo não foi um desafio por ser mulher, mas pelas responsabilidades e prioridades complexas que todos, homens e mulheres, enfrentamos. Superar este desafio exigiu foco e método: estabeleci objetivos curtos e claros e tirei o máximo proveito do apoio da Porto Business School, especialmente da sua rede de suporte ao aluno. O apoio da minha família e da organização onde trabalho também foi crucial. O compromisso e o tempo necessários para concluir um MBA são, sem dúvida, intensos, mas é encorajador perceber que todos estamos a passar pelas mesmas circunstâncias. Ajudamo-nos mutuamente, resgatamo-nos nos momentos mais desafiantes, colaboramos e, ao longo do percurso, construímos verdadeiras amizades. Esta experiência de partilha e apoio torna a jornada mais leve e, sem dúvida, muito mais enriquecedora.
Onde ambiciona estar daqui a cinco anos?
Diria que me foco mais em como ambiciono sentir-me daqui a cinco anos. Regularmente, faço um exercício sobre qual seria o emprego dos meus sonhos, sem considerar o fator remuneração. Imagino-me a liderar equipas, causas, com uma profunda conexão ao meu propósito na área da gestão do talento, numa organização que valorize a inovação e promova uma cultura inclusiva. Aspiro continuar a colaborar com empresas que operam em diferentes mercados, onde a diversidade de perspetivas seja celebrada e o capital humano considerado a sua maior riqueza.
Que conselho deixaria a uma jovem executiva que queira fazer carreira na sua área?
Diria que o mais importante é mantermo-nos fiéis ao instinto e procurar a conexão com o nosso propósito. Na gestão de talento – e quiçá em todas as áreas – as respostas mais valiosas surgem muitas vezes ao explorar experiências fora da zona de conforto, onde se revelam novas perspetivas. Construir uma rede sólida de apoio, que nos traga insights, é também essencial. A autenticidade e a resiliência tendem a ser bons aliados, sobretudo numa área que tem no centro o desenvolvimento e a motivação de pessoas. Por fim, destacaria a importância da sensibilidade na gestão de equipas, valorizando a conexão genuína e a dedicação que essas relações nos exigem enquanto líderes, para criar ambientes onde todos nos sintamos seguros e inspirados a dar o nosso melhor.
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