Reconhecer e dar visibilidade ao talento e à excelência no feminino com rigor, sem prescindir da empatia e do bom humor, foi o mote da entrega do Prémio As Mulheres Mais Influentes de Portugal em 2022, que decorreu no passado dia 13 de abril, na CUPRA City Garage Lisboa.
A oitava edição do evento promovido pelo site Executiva, que partiu do estudo anual realizado pelo jornalista Filipe S. Fernandes, tornou a colocar Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, no topo do ranking das portuguesas mais influentes. A iniciativa dedicada a exaltar o poder de influência e o impacto positivo gerado pelas 25 profissionais que mais se evidenciaram no nosso país, em 2022, nos mais diversos campos de atuação, dos negócios, à ciência, à política, passando pela comunicação, cultura ou desporto, contou com o patrocínio da CUPRA e o apoio da Sogrape e da Arcádia.
Diante de uma plateia composta por mulheres ilustres, Isabel Canha, diretora da Executiva, inaugurou a cerimónia conduzida pela locutora Sónia Santos recordando que este prémio é o “único em Portugal” que distingue a influência das mulheres nos mais diferentes quadrantes da sociedade. Segundo Isabel Canha, ao aplaudir o talento, a criatividade, a capacidade empreendedora e o mérito que estão na base da influência destas 25 mulheres, o galardão visa igualmente “inspirar outras a seguirem carreiras de sucesso” nos seus setores de atividade. Afinal, justificou, a “falta de role models femininos é um dos fatores que continua a impedir mais mulheres de chegarem a cargos de liderança”. Lamentando os múltiplos “exemplos desta invisibilidade das mulheres” transversal a todas as áreas de atuação, a diretora da Executiva destacou, em particular, o reflexo da falta de referências femininas na toponímia, apontado pelo autor do estudo que está na base do Prémio As Mulheres Mais Influentes de Portugal. “Em Lisboa e no Porto, 44% das ruas têm nomes de homens e apenas 5% têm nome de mulheres; 75% das escolas têm nomes de homens e apenas 25% de mulheres; nos hospitais estes números são ainda mais díspares: 82% têm nomes de homens e somente 18% têm nomes de mulheres”, precisou Isabel Canha, manifestando o compromisso assumido pela Executiva de contribuir para “mudar esta narrativa”.
“Continuamos a precisar de prémios como este”
Num ano em que as mulheres que mais se notabilizaram na área dos media voltaram a ocupar um espaço de relevo na lista das mais influentes, Ana Garcia Martins, autora do blogue e marca digital A Pipoca Mais Doce, foi a primeira premiada a subir ao palco, para agradecer o facto de ter merecido esta distinção pela sétima vez. Parabenizando a Executiva por levar adiante esta iniciativa, a influencer salientou o quanto “continuamos a precisar de prémios como este” para colocar em evidência as conquistas das mulheres nos mais variados domínios.
“A Altice quer ter, no mínimo, 40% de mulheres em cargos de gestão”
A edição de 2022 do galardão ficou ainda marcada pela estreia de Ana Figueiredo, CEO da Altice Portugal, no lote das Mulheres Mais Influentes de Portugal. Apesar de se dizer “surpresa” por receber esta distinção no primeiro ano de regresso ao país depois de oito anos fora, a número 1 da gigante das telecomunicações em Portugal sublinhou a importância de momentos como este para “criar role models que possam ser seguidos por outras meninas e mulheres”. Garantindo que a organização por si liderada está empenhada em promover a equidade de género, Ana Figueiredo anunciou que, para o alcançar, “a Altice quer ter, no mínimo, 40% de mulheres em cargos de gestão” nos próximos anos.
“Fala-se muito em empatia, mas praticamo-la pouco”
Integrando este ranking pela sétima vez, a atriz Rita Pereira deixou, por seu turno, um apelo “à empatia e à tolerância”. Sendo uma das principais influenciadoras digitais em Portugal, com um milhão e meio de seguidores só no Instagram, a atriz revelou que, embora 2022 tenha sido para si “incrível” a nível profissional, em termos pessoais foi um ano pontuado por alguma “falta de confiança”. “Sei que muita gente me vê como uma mulher forte e confiante, mas também sofro, choro e perco a confiança”, confessou Rita Pereira. “Se realmente tenho poder de influenciar alguém, apelo a que sejam mais empáticos – fala-se muito em empatia, mas praticamo-la pouco.”
“Fico muito feliz por ver jovens mulheres a afirmarem-se na minha profissão”
Apesar do reconhecimento conquistado em 30 anos de carreira, em seguida, a jornalista Clara de Sousa admitiu já ter sentido a mesma falta de confiança. “Há quem olhe para nós como máquinas que não podem falhar, mas a verdade é que falhamos e a proporção desse falhanço pesa cada vez mais à medida que os anos passam”, confidenciou. Ainda que este seja uma distinção individual, a pivot do Jornal da Noite, na SIC, ressaltou, todavia, o seu caráter “coletivo”. “Ninguém é uma ilha: se hoje estou aqui é porque, em momentos decisivos, contei com o apoio da minha família e colegas”, concluiu, congratulando-se, de igual modo, por ser distinguida como uma das Mulheres Mais Influentes de Portugal “numa altura em que fico muito feliz por ver jovens mulheres a afirmarem-se na minha profissão e a conquistarem o seu espaço de influência”.
“Pugnar por uma sociedade baseada no conhecimento”
Dando também voz às portuguesas que mais se evidenciaram no domínio da Ciência, a cerimónia de entrega de prémios às 25 Mulheres Mais Influentes de Portugal prosseguiu com a intervenção de Maria Manuel Mota, diretora executiva do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes, internacionalmente reconhecida como uma referência no âmbito da investigação sobre a malária. Lembrando que decidiu ser cientista “movida pela curiosidade”, a investigadora frisou que o seu trabalho se tem regido pelo “princípio de pugnar por uma sociedade baseada no conhecimento”. “Como sociedade civil, temos de tomar decisões importantes e não as podemos deixar apenas nas mãos dos decisores políticos, todos temos de procurar influenciar as decisões que estes tomam, mas para isso precisamos de estar informados e basear essa informação no conhecimento”, reforçou.
“As novas gerações têm a sorte de ver reconhecidas mulheres nas mais diversas áreas”
Assumindo a direção da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome e do Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa há 29 anos, Isabel Jonet fez o pleno: oito distinções em oito anos do Prémio As Mulheres mais Influentes de Portugal, da Executiva. Desta feita, a líder do Banco Alimentar fez-se acompanhar pela neta para receber aquele que vê como “um prémio tão importante” no panorama português. “É uma oportunidade para transmitir às novas gerações a sorte que têm de ver reconhecidas mulheres nas mais diversas áreas”, notou, aproveitando, paralelamente, para “agradecer em nome de todas as mulheres que, no setor social, dão o seu contributo para ajudar outras pessoas em situações difíceis a terem a sua vida um pouco mais facilitada”.
“Ter influência com 60 anos é sinal de uma sociedade que se quer mais inclusiva e representativa”
Dona de um nome e de um percurso que dispensam apresentações na história da televisão e dos media em Portugal, Júlia Pinheiro, apresentadora da SIC e diretora da SIC Caras e SIC Mulher, saudou a Executiva “pela persistência em dar visibilidade às mulheres e às suas carreiras”. Quanto ao significado da distinção de que foi alvo, Júlia Pinheiro defendeu que “ser influente é ser responsável por procurar transmitir todos os dias mensagens positivas, bons valores, ser empático e compassivo” e apontou o dedo à “cultura de ódio e agressividade que temos à nossa volta, sobretudo nas redes sociais”. Admitindo sentir responsabilidade acrescida por ser “mais velha e mais experiente”, a comunicadora congratulou-se ainda por ser reconhecida como uma das portuguesas mais influentes aos 60 anos. “Ter influência com 60 anos é um excelente sinal de uma sociedade que se quer mais inclusiva e representativa”, enfatizou.
“É importante valorizar o trabalho feminino, porque ele ainda é muito invisível”
A sessão solene de entrega do Prémio As Mulheres Mais Influentes de Portugal contou ainda com a presença de Elvira Fortunato, ministra da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, que também tem vindo a ser agraciada com este galardão deste o início. Afirmando que as questões da igualdade de género “sempre a preocuparam”, a investigadora de carreira chamou a atenção para as estatísticas que traduzem a “disparidade de oportunidades” das mulheres no ensino superior. “As mulheres receberam apenas 3% dos Prémios Nobel, a nível mundial. E em Portugal, a percentagem de mulheres com doutoramento honoris causa é muito similar”, alertou a ministra, argumentando, contudo, que “está nas nossas mãos reverter esses números”. “Uma das iniciativas que já tomámos nesse sentido foi financiar projetos de investigação científica de jovens mães”, adiantou Elvira Fortunato, reiterando que “o quão importante é valorizar o trabalho feminino, porque ele ainda é muito invisível”.
Prémios aquém e além da cerimónia
Apesar de não poderem comparecer à atribuição dos galardões, três das premiadas fizeram questão de partilhar o seu testemunho em breves vídeos exibidos durante o evento. Foi o caso de Daniela Braga, fundadora e líder da Defined.ai e uma das 12 pessoas escolhidas pela Administração do presidente norte-americano, Joe Biden, para uma task force que vai ajudar a desenhar a estratégia de dados para a inteligência artificial nos Estados Unidos. “Este é um prémio muito especial para mim”, assumiu no seu vídeo a empreendedora, que afirmou “saber o que é ser mulher numa área como a tecnologia e, em especial, na área da inteligência artificial: tenho muito orgulho em dizer que fui a CEO mulher em inteligência artificial que levantou mais capital de risco em todo o mundo”.
Por sua vez, Clara Raposo, vice-governadora do Banco de Portugal, assegurou no seu vídeo que este é um “prémio partilhado com muitas outras mulheres”, enaltecendo, designadamente, “as jovens estudantes” que a acompanharam no seu percurso profissional enquanto professora universitária, assim como todas as mulheres que trabalham no Banco de Portugal “como reconhecimento da nossa importância para o desenvolvimento do setor financeiro e para o equilíbrio da vida em sociedade”.
Já a humorista Joana Marques aproveitou para lançar farpas à disparidade entre homens e mulheres no que diz respeito à conciliação da carreira com o trabalho doméstico, com o humor acutilante que lhe é característico. Num divertido vídeo gravado “diretamente da lavandaria”, acabada de chegar de uma viagem, confessou estar a lavar roupa, “que é uma coisa que as mulheres influentes também fazem. Os homens normalmente não, porque das duas uma: ou são influentes ou conseguem tratar de coisas práticas – normalmente não acumulam”.
Ausentes da cerimónia, Cláudia Azevedo, CEO da Sonae, Paula Amorim, presidente da Galp e administradora do Grupo Amorim, Cristina Ferreira, administradora da Media Capital e diretora de Ficção e Entretenimento da TVI, Maria Lúcia Amaral, provedora de Justiça e a atleta Patrícia Mamona, fizeram-se representar, respetivamente, por: Maria João Oliveira, coordenadora de Comunicação Corporativa da Sonae, Margarida Correia, CEO da Amorim Fashion, Manuel Santana Lopes, associate partner & chief of operations da Notable, Eva Gaspar, chefe do gabinete da provedora de Justiça e Flávia Lourenço da Agência Polaris Sports.
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