Maria de Lurdes Pintasilgo, que fez a sua carreira profissional como engenheira na CUF, foi a primeira mulher primeira-ministra em Portugal embora por pouco mais de 100 dias, em 1979, foi a primeira embaixadora, nomeada para a UNESCO, em 1975, depois de ter sido a primeira mulher ministra quando assumiu os Assuntos Sociais no II e III Governo Provisório e a primeira mulher candidata à presidência da República.
Em 1998 escrevia: “a mobilidade económica e social das mulheres constitui um dos acontecimentos mais importantes do século XX, tendo dado origem a um verdadeiro terramoto cultural no contrato social”. De facto, o 25 de abril de 1974 e a democratização de Portugal abriram as portas às mulheres a inúmeras atividades, desde o voto ao divórcio, o subsídio de maternidade, o planeamento familiar, a interrupção voluntária da gravidez, o fim do conceito jurídico do homem pai de família, passando pelo acesso às várias profissões como a magistratura, a carreira administrativa local, a carreira diplomática, a militar, a policial, leis de paridade, entre tantas outras conquistas pela equidade e a diversidade.
No entanto os maiores efeitos sobre as placas tectónicas da dominação masculina apenas chegaram no século XXI. Por exemplo, a Assembleia da República só foi presidida pela primeira vez por uma mulher em 2011 com Assunção Esteves, que foi, em 1989, a primeira mulher a ser juíza do Tribunal Constitucional. Só em 2012 o posto máximo dos diplomatas foi ocupado por uma mulher quando Ana Martinho assumiu o cargo de secretária-geral. Maria Laura Leonardo foi a primeira juíza conselheira quando em 2004 foi empossada no Supremo Tribunal de Justiça. Manuela Ferreira Leite foi a primeira mulher líder de um Grupo Parlamentar (PSD), entre 2001 e 2002, ano em que foi a primeira mulher portuguesa a ser ministra das Finanças e, em 2008, foi a primeira mulher portuguesa a chefiar um partido, ao ser eleita como presidente do PSD.
Mas ainda há algum caminho por fazer porque nunca houve uma mulher na Presidência da República, nem mais nenhuma primeiro-ministro no tempo que vai deste século. Mais longe no tempo, Maria Barroso foi em 1973, a única mulher a intervir na sessão de abertura do III Congresso da Oposição Democrática. Maria Barroso foi, ainda, a única presença feminina na fundação do Partido Socialista, em 1973, na Alemanha.
Hoje as lideranças partidárias, com exceção do Partido Socialista e do PCP, já contam ou contaram como mulheres, como o PSD com Manuela Ferreira Leite, o Bloco de Esquerda com Catarina Martins e Mariana Mortágua, o PAN como Inês Corte Real e o CDS com Assunção Cristas.
O Nobel e as mulheres
O ano passado o Prémio Nobel da Economia foi atribuído a Claudia Goldin, investigadora da Universidade de Harvard, pelo seu contributo “para a compreensão da participação das mulheres no mercado de trabalho”. Mas como escreveu Pinelopi Koujianou Goldberg, “What Economics Was Missing, “o muro que se rompeu foi outro: o significado do prémio deste ano vai para além de Goldin, porque representa o reconhecimento, há muito esperado, de que a experiência económica de cerca de 50% da população mundial é digna de investigação científica. O que hoje pode ser óbvio nem sempre o foi. Até há cerca de uma década, os professores de economia desencorajavam sistematicamente os seus alunos de pós-graduação a estudar questões relacionadas com o género. Sem surpresa, os estudantes mais interessados nestes temas eram as poucas mulheres que frequentavam os programas de pós-graduação em economia na altura”.
A atribuição do Prémio Nobel, que existe desde 1901, mostra o mesmo padrão, ou seja, é o no século XXI que a paridade de torna um princípio ativo. Em 1903 Marie Curie foi a primeira mulher a receber o Prémio Nobel, na área da Física com seu marido, Pierre Curie, e Antoine Henri Becquerel, e, até 2023, foram galardoadas mais 63 mulheres, mas sublinhe-se 50% entre 2001-2023. O Prémio Nobel da Economia existe desde 1969 e a primeira mulher premiada foi quarenta anos depois, em 2009, a norte-americana, Elinor Ostrom, “pela sua análise da governação económica, especialmente a comum”, e só dez anos depois se seguiu a segundo mulher, Esther Duflo, pela abordagem experimental para aliviar a pobreza global.
Os benefícios das mulheres na administração das empresas
No mundo dos negócios, das empresas, da gestão, e como vimos da Economia, foi também neste século que se deram pessoas decisivos, por isso se diz que o “futuro é feminino”. O crescimento da presença das mulheres nos cargos executivos tem aumentado, mas a um ritmo baixo, apesar de ser rentável para as empresas, sobretudo em Portugal. Um relatório da McKinsey de 2023 referia que Portugal lidera em termos de paridade da força de trabalho na União Europeia (50% mulheres/50% homens) mas, apesar das políticas que fomentam a equidade laboral, a desigualdade de género no mercado de trabalho mantém-se e as mulheres continuam a enfrentar uma situação de disparidade na progressão profissional ocupando apenas 6% dos cargos de liderança. O mesmo acontece para as posições superiores onde as mulheres portuguesas ocupam apenas 16% destes lugares.
A Bolsa em Portugal teve menos mulheres CEO que os dedos de uma mão. A mulher que mais tempo geriu uma empresa cotada foi Esmeralda Dourado. Esta engenheira com carreira industrial e financeira foi presidente da comissão executiva da SAG de 2000 até agosto de 2009. Nessa época Ana Maria Fernandes foi CEO da EDP Renováveis entre Outubro de 2007 e Fevereiro de 2012. Seguiu-se Isabel Vaz que entre 2014, quando a Espírito Santo Saúde entrou em Bolsa, e 2018, quando a agora Luz Saúde foi retirada da Bolsa pela acionista Fidelidade.
“O lento progresso das mulheres em cargos de direção parece contraintuitivo quando se considera que existe uma grande investigação sobre os benefícios de ter mulheres nos conselhos de administração”, referia um relatório do World Economic Forum,”More than DEI: Why it pays to get women in the boardroom”, publicado em 2 de maio de 2023. Citava um relatório da McKisney de 2020 que revelou que as empresas do quartil superior em termos de diversidade de género nos seus conselhos de administração tinham 25% mais probabilidades de obter uma rentabilidade acima da média do que as empresas do quartil inferior.
Esta ligação entre as mulheres nos conselhos de administração e a rentabilidade foi corroborada pelo Women Count 2022, um estudo sobre as empresas FTSE350 realizado pela consultora de diversidade The Pipeline. Este estudo demonstrou que as empresas com mais de um quarto de mulheres nos conselhos de administração executivos obtiveram uma margem de lucro de 16%, ou seja, mais de 10 vezes superior à das empresas que não têm mulheres nos seus conselhos de administração.
Mas estes manifestos de esperança esbarram com o ritmo da mudança, apesar dos benefícios para as empresas e a sociedade. Como disse Isabel Capeloa Gil, “o problema não é permitir mulheres nas empresas, mas incluir políticas que permitam às mulheres conciliar entre o trabalho e a sua vida familiar” e acrescenta que existem tantos bons profissionais que não querem dar o último passo até ao topo porque sentem que não têm condições de conciliar a vida familiar com o compromisso que a liderança de uma empresa exige”.
Na carreira das mulheres a ascensão ao topo pode ser perturbada pela maternidade. Como escreveu Stephanie Lowry em “How I Navigated My First Pregnancy as a Rising Leader”, no site da Harvard Business Review, em 3 de Maio de 2022, “apesar de ser uma experiência universal, o mundo nem sempre é muito simpático para as mães, sobretudo quando o bebé ainda não chegou. As mulheres grávidas são muitas vezes privadas de promoções e vistas como passivos ou fardos, com base na sua decisão de ter um bebé. Tudo isto, apesar do facto de as mulheres representarem 50% da força de trabalho e de cerca de 85% virem a ser mães durante as suas carreiras”.
O handicap da maternidade
Por vezes a carreira das mulheres em direção ao topo tem mais custos que o percurso profissional dos executivos homens. “Há um segredo doloroso e bem guardado: na meia-idade, entre um terço e metade de todas as mulheres com carreiras de sucesso nos Estados Unidos não têm filhos. De facto, 33% dessas mulheres (executivas de negócios, médicas, advogadas, académicas e afins) na faixa etária dos 41 aos 55 anos não têm filhos – e esse número sobe para 42% na América corporativa. Estas mulheres não escolheram ficar sem filhos”, referia Sylvia Ann Hewlett em “Executive Women and the Myth of Having It All”, na Harvard Business Review de abril de 2002. Por outro lado, um estudo de Harvard de 2013 indicava que a percentagem de pessoas divorciadas nos conselhos de administração era mais elevado nas mulheres que nos homens.
Claudia Goldin mostrou a penalização da maternidade com o gap salarial entre mulheres e homens que exercem a mesma profissão a surgir com o nascimento do primeiro filho. Em 2022, as mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 34 anos ganhavam 92% do que ganhavam os homens da mesma idade, segundo a Pew Research. Mas as mulheres com idades compreendidas entre os 35 e os 44 anos ganhavam apenas 83% do que os homens da mesma idade levavam para casa. Um estudo recente divulgado em fevereiro de 2024 pelo Expresso refere que em Portugal, as mulheres tendem a manter o seu vencimento após serem mães, enquanto o salário dos homens aumenta em 15%, em média, quando se compara o ano anterior e os dois anos posteriores ao nascimento do primeiro filho. É uma conclusão do estudo projeto MERIT, desenvolvido pelo Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), em parceria com o Centro de Investigação em Pandemias e Sociedade (PANSOC) da Noruega a partir de dados recolhidos entre 2004 e 2020. Segundo o estudo, na Europa as mulheres perdem, em média, 29% do seu rendimento após serem mães e os homens ganham, em média, 12%. O estudo concluiu que o distanciamento de Portugal em relação à média europeia se relaciona com o facto de quase todas as mães permanecerem com contratos a tempo inteiro para “responderem às necessidades financeiras da família” e pela existência de um “mercado de trabalho pouco flexível”, com “pouco acesso a contratos a tempo parcial”.
Quem são As 25 Mulheres Mais Influentes de Portugal
1. Cláudia Azevedo, 54 anos, presidente da Sonae SGPS
Em 2023 a Sonae, de que Cláudia Azevedo é CEO desde 21 de Março de 2019, lançou uma oferta pública de aquisição sobre a Musti, empresa finlandesa especializada em produtos de cuidado e alimentação para animais de estimação nos mercados nórdicos, ficando com 80,65% do capital por 700 milhões de euros. Já em 2024 a Sonae anunciou a compra de 89% do capital da francesa Diorren, empresa detentora da BCF Life Sciences, por 152 milhões de euros, que “produz ingredientes para a indústria de nutrição através de um processo de produção inovador apoiado nos princípios da economia circular”.
São mil milhões de investimentos para dar um cunho mais europeu ao conglomerado e entrar em novas áreas de negócio. A Sonae MC controla o segmento de retalho alimentar, saúde e bem-estar. Já a Worten tem a parte eletrónica, enquanto a moda fica na Zeitreel e a alimentação na Sparkfood. O Universo é a marca de serviços financeiros do grupo e a Brightpixel faz gestão de investimentos, o imobiliário é controlados pela Sonae Sierra, e tem ainda uma posição de controlo na Nos SGPS nas telecomunicações.
Através da Efanor a família Azevedo (Maria Margarida e os filhos Nuno, Paulo e Cláudia) controlam 53,01% da Sonae, que fatura de 7,7 mil milhões de euros, 100% da Sonae Capital e 50% da Sonae Arauco. Cláudia Azevedo detém 25,11% da Efanor Investimentos, holding que partilha com a mãe, Margarida, os irmãos Paulo e Nuno, e que controla a Sonae sgps, a Sonae Capital e a Nos e 50% da Sonae Arauco.
Em 17 de Janeiro de 2024 participou no painel “The Race to Reskill”, no Fórum Económico Mundial, em Davos, tendo considerado que para a transição verde na Europa os governos têm um maior papel financiador das empresas para superarem os desafios tecnológicos e de transição energética. “Há um enorme ‘gap’ de financiamento público e os governos vão ter de desempenhar um papel”, disse.
Referiu-se ainda à necessidade de uma reforma no financiamento do ensino superior. “A requalificação é algo que temos de fazer ao longo da nossa vida. O modelo tradicional de educação subsidiada e de universidades tem de mudar. Se tiro um curso aos 20 anos e se me quiser requalificar aos 30, 40 ou 50 anos, ou se precisar porque mudo de emprego, já não existem os subsídios públicos como quando eu tinha aos 18″, disse Cláudia Azevedo. Afirmou ainda que “há empresas que há seis meses diziam que tinham valores enormes e agora estão a despedir cinco mil ou dez mil pessoas em chamadas de Zoom”.
2. Maria João Pires, 79 anos, pianista
Em 23 de Julho próximo Maria João Pires faz 80 anos, continua ativa e com uma agenda internacional intensa, que só o coração fez a pianista cancelar os seus espetáculos. Como escreveu no seu Instragram a 6 de fevereiro passado: retomei as minhas longas caminhadas diárias e, esta semana, vou começar a tocar piano e a praticar de forma séria de novo. Espero poder retomar os meus concertos e viagens em Abril”. Já em Setembro de 2023 cancelou a sua digressão sul-americana devido a “problemas de saúde e à recomendação médica de não viajar”.
Recentemente, numa entrevista mostrou-se contrária à dominação da ideia de mercado, onde se mistura a competição com a arte, na música clássica: “todos somos únicos. Um artista e a sua arte são únicos, por isso não pode ser remetida à competição”. Como tinha dito al El Pais: “Competir em arte converteu-se numa doença”.
Depois de uma “zanga” com Portugal por causa do fim do seu projecto educativo para Belgais, em Castelo Branco, que fechou em 2009, regressou porque tinha muitas saudades da casa. “Principalmente, por isso. Depois tinha uma grande vontade de fazer os meus próprios projetos e não só as coisas que vinham das ideias dos outros”, disse Maria João Pires. Ativou o Centro de Artes de Belgais que funciona com retiros musicais, cursos internacionais, alojamento e até produção de azeite, ciclo de recitais e aulas online. Sinal deste novo recomeço Maria João Pires foi condecoração com Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique pelo Presidente da República em 26 de janeiro de 2020.
3. Paula Amorim, 53 anos, chairwoman da Galp Energia e presidente do Amorim Luxury
O JNcQUOI, que é um dos projetos bandeira do Amorim Luxury de Paula Amorim, gerido pelo marido Miguel Guedes de Sousa, define-se como o “enfant terrible do luxo”, que está longe da imagem que Paula Amorim tem cultivado. A Amorim Luxury tem as suas raízes na Fashion Clinic, que foi criada em 1990 e adquirida por Paula Amorim em 2005, através de um empréstimo bancário de dois milhões de euros. Deu-lhe uma nova orientação estratégica de modo a assumir só primeiras linhas e ir buscar marcas de topo de luxo ao nível dos maiores designers em termos de luxo e com tradição no mercado. Além da loja online, tem lojas físicas em Lisboa (duas), Porto, Quinta do Lago no Algarve, e no verão na Comporta.
Em 2017 o luxo alargou-se à restauração com a abertura do JNcQuoi Avenida na Avenida da Liberdade, em Lisboa. Hoje, são três restaurantes (Avenida, Ásia e Frou Frou), um clube privado, uma loja de roupa, outra de decoração e agora vem aí o hotel (JNcQUOI House), que ocupam vários espaços na avenida da Liberdade, uma das mais caras da Europa, e na Comporta villas, um Beach Ckub e o Deli Comporta. Em 2017, a Amorim investiu na PlatformE, tecnológica da indústria da moda da qual José Neves, que recentemente saiu da Farfetch, que estava em risco de insolvência, foi cofundador em que tem 11,5%.
Mas a este lado luxuoso dos negócios juntam-se os mais tradicionais herdados por Paula Amorim, irmãs e mãe, no Grupo Américo Amorim, como os da cortiça que vão na quinta geração e os mais recentes como a Galp Energia, que em 2023 teve mais de mil milhões de euros de lucro. É vice-presidente da Amorim Investimentos e Participações, holding partilhada em 50% entre as família herdeira de Américo Amorim e António Amorim e filhos, e que controla 51% da Corticeira Amorim. Nos últimos anos as remunerações de Paula Amorim como chairwoman da Galp Energia têm sido doadas à Fundação Galp.
O Grupo Américo Amorim é detido hoje por Maria Fernanda Amorim e pelas filhas Marta Amorim Barroca de Oliveira, que lidera a holding do grupo, a Amorim Holding II, Paula Amorim, que preside à Galp Energia, e Luísa Amorim que está à frente da Quinta Nova no Douro e é administradora na Corticeira Amorim.
4. Mariza, 50 anos, cantora
Em 3 de agosto de 2023 Mariza cantou “Foi Deus” no palco do Parque Eduardo VII durante as Jornadas Mundiais da Juventude, diante do Papa Francisco, que, no final, aplaudiu com sorriso e sinal de aprovação. Foi um dos momentos marcantes para a carreira de Mariza, que já tem vários momentos históricos.
Nasceu em Moçambique, e, em 1979, os pais vieram para Portugal e foram viver para a Mouraria, um caldo cultural do fado. Começou a cantar fado em ambientes profissionais aos sete anos pela primeira vez na Casa de Fado Adega Machado, mas depois seguiu outro percurso e envolveu-se com outros estilos musicais como pop, gospel, soul, jazz, música brasileira e ligeira portuguesa, e participou em bandas como a Vinyl e a Funkytown. Regressou ao fado e iniciou a sua carreira profissional de fadista no Srº Vinho e, em 2001, Mariza editou o seu primeiro álbum, “Fado em Mim”, inicialmente em Portugal e depois em 32 países, o que a projetou em termos mundiais.
Quando gravou os seus primeiros discos e fez as primeiras digressões “queria uma vida tranquila, atuando em pequenos recintos e convivendo com os seus amigos por Lisboa. Demorou uns anos a aceitar a peregrinação por hotéis, aviões e salas como o Royal Albert Hall, onde atuou nos Proms de la BBC, ou o Teatro Real de Madrid, onde se celebrou o Festival de Fado. Ao fim de 23 anos, convertida numa estrela internacional da world music, fez as pazes com a sua vida e a sua carreira”, escreveu Tereixa Constenla, no El País de 22 de Setembro de 2023.
5. Lucília Gago, 67 anos, Procuradora-Geral da República
A 7 de novembro de 2023 a Procuradoria-Geral da República emitia um comunicado com cerca de cinco mil palavras sobre a investigação de factos relacionados com: as concessões de exploração de lítio nas minas do Romano (Montalegre) e do Barroso (Boticas); um projeto de central de produção de energia a partir de hidrogénio em Sines, apresentado por consórcio que se candidatou ao estatuto de Projetos Importantes de Interesse Comum Europeu (IPCEI), o projeto de construção de “data center” desenvolvido na Zona Industrial e Logística de Sines pela sociedade “Start Campus”.
Este comunicado fechava com um parágrafo escrito pela própria Lucília Gago, eque dizia: “no decurso das investigações surgiu, além do mais, o conhecimento da invocação por suspeitos do nome e da autoridade do Primeiro-Ministro e da sua intervenção para desbloquear procedimentos no contexto suprarreferido. Tais referências serão autonomamente analisadas no âmbito de inquérito instaurado no Supremo Tribunal de Justiça, por ser esse o foro competente”. Tem 363 caracteres e levou à demissão do primeiro-ministro, António Costa, e à convocação de eleições antecipadas para 10 de março de 2024.
Lucília Gago terminou o curso de Direito em 1978 na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, e, dois anos depois ingressava no Centro de Estudos Judiciários, que tinha sido criado no ano anterior, onde fez o primeiro curso especial de procuradores. Tornou-se magistrada do Ministério Público em 1981 e foi promovida a Procuradora da República em 1994, tendo exercido funções numa Vara Criminal de Lisboa, no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Lisboa e no Tribunal de Família e Menores de Lisboa.
Em Setembro de 2005 chegou a Procuradora-Geral-Adjunta, e assumiu funções de coordenadora da área de família, no Centro de Estudos Judiciários, onde dá aulas até 2016. Foi diretora do Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa, em 2016 e 2017 até chegar ao topo da Procuradora-Geral da República para um mandato de seis anos, que cessa em Outubro próximo, tendo anunciado já que não é candidata a um segundo mandato. Desde Cunha Rodrigues, que esteve entre 1984-2000, que os mandatos são de seis anos: Souto de Moura (2000-2006); Pinto Monteiro (2006-2012); Joana Marques Vidal (2012-2018) e Lucília Gago (2018-2024). É casada com Carlos Manuel Gago, Procurador-Geral-Adjunto jubilado, e tem dois filhos.
6. Cristina Ferreira, 46 anos, diretora de entretenimento e ficção da TVI e administradora executiva da Media Capital Digital
Em 30 de Agosto de 2023 “a Media Capital renovou a sua confiança em Cristina Ferreira dando continuidade ao seu vínculo com a TVI“, referia a estação televisiva em comunicado. Manteve-se diretora de entretenimento e ficção, e, foi nomeada administradora executiva da Media Capital Digital. Segundo o Correio da Manhã, com este novo contrato, Cristina Ferreira passou a ser a figura mais bem paga da televisão em Portugal, auferindo um salário anual fixo de um milhão e duzentos mil euros líquidos, ao qual acrescem “vários extras”. Segundo o mesmo jornal, Cristina Ferreira terá de estar disponível para ir para o ar 60 horas mensais e o contrato contempla uma parceria de partilha de receitas entre a Media Capital e os produtos e serviços da marca própria Cristina Ferreira.
O seu Instagram tem 2 milhões de seguidores, edita a revista Cristina, e no site/blogue Daily Cristina alberga lojas para venda de vernizes, roupas e sapatos como a sua marca. No domínio da sua marca pessoal, Cristina, tornou-se uma presença habitual na Web Summit e lançou as Cristina Talks, que hoje se apresentam como “um momento de reflexão, aprendizagem e incentivo à mudança que já conquistaram milhares de pessoas”.
Licenciou-se em História e foi professora no ensino secundário durante dois anos. Fez também os cursos de Ciências da Comunicação e de apresentação, este lecionado por Emídio Rangel na extinta Universidade Independente. Em 2004 começou a sua viagem para o estrelato com a apresentação do “Você na TV!” ao lado de Manuel Luís Goucha. Em Janeiro de 2019 tornou-se apresentadora das manhãs da SIC e ajudou a que a SIC em fevereiro de 2019 se tornasse a líder mensal de audiências, o que já não acontecia. desde 2007. Em 17 de julho de 2020 regressou a TVI e desde então mantém um litígio com a estação de televisão da Impresa.
Ouça o discurso de Cristina Ferreira na cerimónia deste ano.
7. Clara Raposo, 53 anos, vice-governadora do Banco de Portugal
“Nem sempre a discreta “melhor aluna”, que segue uma carreira académica, é vista como potencial executiva com funções de liderança. Talvez tenha quebrado essa barreira”, salientou a vice-governadora do Banco de Portugal quando recebeu em 2023 o Prémio Executiva do Ano, na categoria gestora, concedido pela Executiva.
Clara Raposo licenciou-se em Economia pela Nova School of Business & Economics (1992), fez o mestrado em Economia pelo Queen Mary & Westfield College (1994) e doutorou-se em Finanças pela London Business School (1998). Fez grande parte da sua carreira na investigação teórica e no ensino universitário na área de Finanças. Mas a carreira universitária não foi resultado “de uma escolha consciente. Foi simplesmente acontecendo. Como tive a melhor média do curso foi simples ficar na faculdade. Gostei muito da experiência de dar aulas de macroeconomia e estatística ao 1º e ao 2º ano na Nova SBE”. Seguiu-se o doutoramento na London Business Scholl, e, depois, a contratação para professora na Universidade Oxford, tendo lecionado na Said Business School. Regressou a Portugal tendo lecionada como professora auxiliar no ISCTE e, depois, como professora catedrática no ISEG.
Chegou à gestão prática quando se tornou presidente do ISEG entre 2018 e 2022, ano em que foi nomeada vice-governadora do Banco de Portugal. Mas, como refere, a área de Finanças “era a área do curso de Economia que mais se aproximava de uma componente de gestão”. Antes de chegar a vice-governadora do Banco de Portugal, foi chairwoman da Greenvolt, administradora não executiva da Nos, membro da direção do IPCG – Instituto Português de Corporate Governance e chegou a ser indigitada para a administração do Millennium BCP.
Ouça o agradecimento de Clara Raposo ao prémio deste ano.
8. Maria Manuel Mota, 52 anos, diretora executiva do IMM e do GIMM
“Eu acho que sou uma pessoa muito ambiciosa, portanto não quero mostrar modéstia, porque eu adorava receber o Prémio Nobel, ok? Portanto, a ambição vai a esse ponto. Mas eu sempre tive muito prazer a fazer ciência”, disse Maria Manuel Mota, numa entrevista ao Observador quando recebeu em 2023 o Prémio Ferreirinha, atribuído para a Sogrape.
Revelava ainda que quando chegou a diretora executiva do IMM, não sabia se ia gostar, se tinha capacidade e se poderia continuar a fazer ciência. “Tenho que dizer que foi uma experiência fantástica fazê-lo e gosto imenso de ser diretora. Claro que me tirou tempo à minha ciência, mas até recentemente acho que tenho conseguido conciliar as coisas”, confessou.
Mas agora chega um grande desafio. Maria Manuel Mota é a presidente do Conselho de Administração e da Comissão Executiva da Fundação GIMM – Gulbenkian Institute for Molecular Medicine, que foi criada por escritura pública de 12 de setembro de 2023, e reconhecida por despacho de 07/12/2023 do Secretário de Estado da Presidência do Conselho de Ministros. Esta nova instituição resulta da fusão do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), que tinha como directora a cientista Mónica Bettencourt-Dias, e do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (IMM), que é dirigido por Maria Manuel Mota, que, em conjunto, têm mais de 500 investigadores de várias nacionalidades e funcionam nos campus de Lisboa (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa) e Oeiras.
A Fundação GIMM funcionará durante pelo menos quatro ou cinco anos nos dois campi, segundo as informações relativas à reunião de meados de maio. Depois, terá um novo edifício e os 98 milhões de euros oriundos da Fundação Calouste Gulbenkian.
Maria Manuel Mota licenciou-se em Biologia e obteve o grau de Mestre em Imunologia pela Universidade do Porto em 1992 e 1994, respetivamente. Em 1998 doutorou-se em Parasitologia Molecular pela University College London (Reino Unido) com trabalho realizado no National Institute for Medical Research. Entre 1999 e 2001 desenvolveu investigação como pós-doutoranda no Laboratório da New York University Medical School onde lecionou.
Regressou a Portugal em 2002 para liderar o grupo de investigação do Laboratório de Biologia Celular da Malária no Instituto Gulbenkian de Ciência em Oeiras. Em 2005 passou a estar à frente da Unidade de Malária do Instituto de Medicina Molecular (iMM), além de lecionar na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. É diretora executiva do iMM, Visiting Scientist em Immunology and Infectious Diseases na Harvard School of Public Health.
Ouça o discurso de Maria Manuel Mota na cerimónia deste ano.
9. Joana Marques, 38 anos, humorista e guionista
“Acho que antes de ver o ridículo nos outros – no fundo é o meu trabalho aqui, é andar à procura de ridículo, que todos temos -, eu ando há muitos anos a ver o ridículo em mim, não desde que nasci, mas desde que sou gente e que penso, vejo sempre primeiro o meu ridículo. E por isso acho que não corro nunca o risco de me achar o máximo”, disse Joana Marques numa entrevista feita por Manuel Luís Goucha na TVI. A autora da rubrica “Extremamente Desagradável”, que começou no Antena 3 em 2017, mas está desde 2019 na Rádio Renascença e é o programa de rádio da Rádio Renascença e podcast mais ouvido em Portugal. Faz parte do programa As Três da Manhã, da Rádio Renascença, com Ana Galvão e Inês Lopes Gonçalves.
Tem feito parte das equipas dos programas apresentados por Ricardo Araújo Pereira como o atual “Isto É Gozar com Quem Trabalha”, a quem substituiu como colunista semanal na revista Visão. Já assinou crónicas semanais no Jornal de Notícias. Em março deste ano fez Desconfia, um evento anti-ajuda, inspirado nas talks de Cristina Ferreira e Susana Torres, gurus do desenvolvimento pessoal, mas o seu show como coach de baixa performance, foi, como prometia, a maior palestra de desmotivação jamais feita em Portugal.
Tem participado em várias galas de atribuição dos Dragões de Ouro, do Futebol Clube do Porto, cujo presidente Pinto da Costa prefaciou o livro “O Meu Coração Só Tem Uma Cor” (2018). Com Susana Romana escreveu “Viver com Um Adepto — Manual de Sobrevivência” (2009). Escreveu os livros “Apontar é Feio” (2022) e “Vai Correr Tudo Mal” (2019).
Estudou Ciências da Comunicação na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Em 2007, começou a trabalhar como guionista e, em 2012, criou e apresentou o programa Altos e Baixos, do Canal Q, canal por cabo das Produções Fictícias, junto com Daniel Leitão, seu atual marido, que teve cinco temporadas. Em 2022 e em 2023, recebeu o Globo de Ouro de Personalidade do Ano – Digital, apesar de não ter qualquer conteúdo exclusivo na Internet.
Ouça o agradecimento de Joana Marques ao prémio deste ano.
10. Joana Vasconcelos, 52 anos, artista plástica
“Sou uma artista contemporânea e nunca teria sonhado expor ao lado de obras de Leonardo da Vinci, Michelangelo ou Caravaggio. Este convite do diretor dos Uffizi é uma grande honra. Porque, independentemente de os artistas estarem vivos ou mortos, o mais importante é o diálogo que se gera entre as obras”, disse Joana Vasconcelos sobre a sua a expoisção Entre o céu e o coração que entre outubro de 2023 e janeiro de 2024 se distribuiu pela Galeria das Estátuas e das Pinturas dos Ofícios e o Palácio Pitti, e que era uma selecção de obras de grande formato e deu continuidade à iniciativa da instituição florentina de mostrar o trabalho de mulheres artistas, iniciada em 2016.
“Joana Vasconcelos – A artista das obras XXL” era o título de um perfil na revista F Luxury enquanto no seu site se faz o balanço de 2023 com o título “o ano mágico de Joana Vasconcelos”. Em fevereiro de 2023 a sua obra Valkyrie Miss Dior foi apresentada no Jardin des Tuilleries como cenário para a apresentanção da coleção outono/inverno 2023-2024 da Dior, e que depois foi apresentada em Schenzhen na China.
Em abril inaugurou a Árvore da Vida criada para a Temporada Portugal-França na Sainte-Chapelle de Vincennes (Paris), que é uma monumental escultura têxtil com treze metros de altura, 354 ramos e mais de 110 mil folhas bordadas à mão, em muitas das quais foi aplicada a tradicional técnica do canotilho de Viana do Castelo.
Em junho apresentou o Bolo de Noiva desenvolvido para a Fundação Rothschild em Waddesdon Manor (no Reino Unido) que foi considerada, pelo crítico Jonathan Jones para o The Guardian, a segunda melhor exposição de 2023. Foi Jacob Rothschild que a encomendou para o jardim da mansão que a sua fundação administra — mas que pertence desde 1957 ao National Trust britânico. O também quarto barão Rothschild tem na mesma propriedade outras duas peças da portuguesa, um bule em ferro forjado de nome “Salon de Thé”, e dois candelabros gigantes compostos por garrafas de vinho Château-Lafite, com o título “Lafite”. “Apaixonei-me pelo seu trabalho”, afirmou.
Em junho, esteve entre os 200 artistas do mundo inteiro escolhidos para a audiência com o Papa Francisco no Vaticano, foi também uma das artistas escolhidas para desenvolver o Postal de Natal do Vaticano. Em setembro regressa à cidade onde vive e trabalha com Plug-In no MAAT de Lisboa, estabelecendo um novo recorde de bilheteira.
Foi o regresso em grande depois de 2020, devido à situação pandémica de Covid-19, o atelier da artista, em Lisboa, encerrou e abriu um processo de lay-off para cerca de 50 trabalhadores. Hoje o Atelier Joana Vasconcelos conta com 57 pessoas em áreas como desenho, arquitetura, engenharia, eletricidade, têxtil, transporte.
11. Elvira Fortunato, 58 anos, investigadora
Elvira Fortunato integrou o terceiro governo liderado por António Costa que tomou posse em Março de 2023 mas que, por força da demissão de António Costa em 7 de Novembro de 2023 e a marcação de eleições, cessou funções em 1 de abril de 2024. “Há uma coisa que nunca faço: não antevejo o futuro. Há 21 meses não sabia que ia estar aqui e daqui a meses também não sei onde vou estar”, disse num entrevista ao Público em Janeiro passado.
Nessa entrevista defendeu que na área da ciência “o emprego científico foi a grande prioridade”, porque tinha de dar estabilidade à precariedade de todos estes investigadores que andam há anos com bolsas e normas transitórias”. É licenciada em Física e Engenharia de Materiais e doutorada em Engenharia de Materiais: Microelectrónica e Optoelectrónica pela FCT/Universidade Nova de Lisboa, é professora catedrática no departamento de Ciência dos Materiais da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, onde foi vice-reitora e onde coordenou a área de investigação entre 2017 e 2022. Era também diretora do Laboratório Associado Instituto de Nanomateriais, Nanofabricação e Nanomodelação.
Ouça o discurso de Elvira Fortunato na cerimónia deste ano.
12. Daniela Braga, 44 anos, CEO da Defined.ai
Em 26 de Novembro de 2023, um artigo de opinião publicado na Forbes referia-se a Daniela Braga como uma das dez mulheres que poderiam ajudar a resolver a crise de liderança que a Open AI do ChatGTP então vivia. A sua empresa era considerada “the largest marketplace of ethically-sourced training data for AI”, porque fornece bases com dados de qualidade com diversidade, precisão, sem erros e autorizados para testar sistemas de inteligência artificial. Por sua vez Daniela Braga tinha “experiência em IA, processamento de linguagem natural e curadoria de dados”.
Depois de contribuir para moldar a estratégia nacional de Inteligência Artificial (IA) nos EUA e defender o desenvolvimento responsável e ético da IA, Daniela Braga participa no esforço português e europeu de não ficar atrás dos Estados Unidos no desenvolvimento da Inteligência artificial. Por isso está muitas vezes em trânsito entre os seus projetos sobre Inteligência Artificial na Defined.ai em Seatle, onde está radicada, e em Lisboa, e no Porto, e sobretudo, devido ao ambicioso novo projeto de Inteligência Artificial (IA), o Accelerat.Ai, uma iniciativa co-financiada com 34,5 milhões de euros pelo Programa de Recuperação e Resiliência (PRR) que foi lançada em Novembro de 2022 por Daniela Braga, como responsável da Defined.ai.
Licenciou-se em Estudos Portugueses e Literaturas Modernas pela Faculdade de Letras (FLUP). No fim da licenciatura, conseguiu uma bolsa na Faculdade de Engenharia para investigar a interseção entre a linguística e a engenharia. Esta ligação às tecnologias de voz levou à sua aprendizagem de programação, e a agulha da carreira académica mudou de rota e seguiu para a área da engenharia de 2001 a 2006, como investigadora da Faculdade de Engenharia (FEUP).
Fez o mestrado em Linguística Aplicada na Universidade do Minho, período em que deu aulas na Escola Superior de Educação e doutorou-se em Linguística e Engenharia, uma parceria entre as universidades da Corunha, do Minho e Federal do Rio Janeiro. Em 2006 ingressou na Microsoft, onde trabalhou na área de voz e texto, primeiro em Portugal, depois nos EUA e na China. Em 2015, Daniela Braga saiu da Microsoft, e depois de uma curta passagem pela VoiceBox, criou a DefinedCrowd, hoje Defined.ai., plataforma inteligente de dados para Inteligência Artificial e Machine Learning. Tem 200 colaboradores nos Estados Unidos e em Portugal e os clientes são algumas das maiores empresas do mundo como clientes como a Google, a IBM, a Microsoft, a Amazon, a dona da assistente de voz Alexa.
Ouça o agradecimento de Daniela Braga ao prémio deste ano.
13. Leonor Beleza, 75 anos, presidente da Fundação Champalimaud
Designada presidente da Fundação Champalimaud desde a sua criação em 2004 por convite do seu criador, António Champalimaud, Leonor Beleza é também conselheira de Estado, nomeada pelo presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Nasceu no Porto a 23 de Novembro de 1948 numa família ligada à burocracia do regime e com acções na empresa de Vinhos Borges. É a mais velha de cinco irmãos. Licenciou-se em Direito, em 1972, na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, onde começou uma carreira como assistente em Direito da Família, e entre 1975 e 1982, foi técnica superior principal da Comissão da Condição Feminina, precursora da atual Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG).
Em 1977 entrou em vigor o novo Código Civil, que fora preparado por uma comissão presidida por Isabel Magalhães Colaço, professora da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, a primeira mulher a doutorar-se em Direito em Portugal e em que Leonor Beleza participou e que modernizou o Direito da Família. Foi secretária de Estado da Presidência do Conselho de Ministros, em 1982, da Segurança Social e, em 1985, tornou-se a primeira mulher a ser ministra da Saúde e foi Leonor Beleza que exigiu que nos despachos de nomeação surgissem “secretária de Estado” e “ministra”.
Pertenceu aos quadros do Centro Jurídico da Presidência do Conselho de Ministros, de 1994 a 2005. Acumulou essa função com o desempenho dos cargos de coordenadora do Serviço Jurídico da TVI, entre 1994 e 1997, de presidente do Conselho Fiscal do Banco Totta & Açores, de 1995 a 1998 e de membro do Conselho Geral e de Supervisão do BCP, entre 2011 e 2013. Foi deputada do PSD e vice-presidente da Assembleia da República entre 1991-1994 e 2002-2005.
Ouça o agradecimento de Leonor Beleza ao prémio deste ano.
14. Elisa Ferreira, Comissária Europeia com a pasta da Coesão e das Reformas
“A boa estratégia para todos os países é trabalhar para não depender de fundos. Acho que essa ambição deve ser muito clara e muito explicitada politicamente, de maneira a contaminar, no sentido positivo, todos os atores que estão envolvidos na utilização de fundos”, disse Elisa Ferreira numa conferência de imprensa em Santiago de Compostela, na Galiza (Espanha) em Outubro de 2023. “A dependência é sempre algo de mau. Portanto, o objetivo dos fundos estruturais não é — utilizando aquele velho e muito estafado provérbio chinês — dar peixe, é dar canas de pesca. Têm de ser utilizados numa perspetiva de não precisarmos deles no futuro“, assinalou. Esta tem sido uma das suas mensagens mais consistentes pois em entrevista ao jornal Público em Julho de 2022 dissera que “temos de nos convencer que temos de viver sem fundos, que temos de pensar num desenvolvimento normal, que o nosso objetivo é ter uma dinâmica económica e empresarial e de inovação, que se liberte desta dependência”.
Elisa Ferreira foi a arquiteta do PRR (Programa de Recuperação e Resiliência), mas perdeu protagonismo. Como escreveu então o El País: “numa Europa com crescentes vozes femininas poderosas, o desenho do futuro fundo de reconstrução económica após a crise da Covid 19 recaiu em grande parte em Elisa Ferreira”. Este apagamento também está relacionado com o novo contexto, com duas guerras às portas da Europa, Ucrânia e Palestina, o combate à inflação, à crise e à insatisfação dos europeus, e as questões colocadas pela Agenda 2030 em termos ambientais.
Comissária Europeia para Coesão e Reformas desde 2019, na equipa liderada por Ursula von der Leyen, Elisa Ferreira licenciou-se em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade do Porto em 1977. Completou a formação académica na Universidade de Reading, no Reino Unido, onde fez o mestrado e o doutoramento na mesma área em 1981 e 1985, respetivamente. Militante do Partido Socialista, foi ministra do Ambiente e ministra do Planeamento nos dois governos liderados por António Guterres, deputada à Assembleia da República e deputada em três legislaturas ao Parlamento Europeu, vice-governadora do Banco de Portugal.
15. Ana Figueiredo, 50 anos, presidente e CEO da Altice Portugal
Em Julho de 2023 as autoridades judiciais e policiais desencadearam a operação Picoas que levou à detenção de Armando Pereira, um dos fundadores do grupo Altice e antigo administrador em Portugal, e levou Alexandre Fonseca, presidente da Altice Portugal, a suspender as suas funções no Grupo Altice. Ana Figueiredo foi apanhada no meio do tufão e passou a acumular, a partir de julho, quando Alexandre Fonseca saiu, a função de CEO com a de chairwoman. É CEO desde abril de 2022 e procurou manter o sangue frio e o pulso no negócio, até porque, como disse à Exame, “nestes 20 anos já passámos por muita coisa”, desde a expansão internacional à quase debacle com a venda em 2015 da PT Portugal à Altice, que agora se prepara para vender as suas operações em Portugal, o que lança novas incertezas.
É licenciada em Administração e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior de Economia e Gestão e possui um MBA pela Universidade Católica e Nova Business School. Iniciou a carreira profissional no departamento de auditoria da Galp. Seguiu-se a Ernst & Young, na área de auditoria e consultoria financeira. Entrou para o grupo PT em 2003, onde desempenhou funções nas áreas de auditoria, consultoria operacional e transformação organizacional, tendo liderado equipas e projetos em Portugal, Brasil, Cabo Verde, Marrocos, Namíbia, São Tome e Príncipe, Moçambique, Quénia e Timor Leste, e em 2016, foi escolhida como chief audit executive do grupo Altice na Suíça, supervisionando as operações em França, Estados Unidos, Israel, Portugal e República Dominicana. E seria nesta operação em 2018 que chegaria a CEO.
É a segunda mulher a assumir a liderança executiva da Altice Portugal, depois de Cláudia Goya no verão de 2017.
16. Júlia Pinheiro, 61 anos, apresentadora de televisão
É apresentadora do programa “Júlia” e foi durante cinco anos diretora da SIC Caras e SIC Mulher tendo sido substituída por Nélson Furtado em Maio de 2023, mantendo-se no podcast “A Noite da Má Lingua”. Numa entrevista à SIC Mulher em Março de 2023 fez uma reflexão sobre o poder das mulheres na televisão. Considerou que ao longo da sua vida profissional houve mudanças nos cargos de poder efetivo, mas o glass ceiling continua a existir: “nós chegamos até às chefias, as últimas da hierarquia, antes dos conselhos de administração, das Comissões Executivas. Nós conseguimos subir isso tudo, somos altamente eficazes, temos quase sempre uma relação de paridade com os nossos colegas masculinos, mas depois quando chegamos às decisões na parte mais alta da nomenclatura, não entramos ou entramos com grande dificuldade”.
Fez a licenciatura em Línguas e Literaturas Modernas. Posteriormente, completou uma pós-graduação em Comunicação Social, na Universidade Católica Portuguesa e, em 1981, entrou como estagiária para a RDP onde esteve dois anos e fez um programa na RTP. Em 1984 passou para Rádio Renascença e, em 1992, ajudou a fundar a SIC. Em 2002, com a mudança de Emídio Rangel para a RTP, regressou à televisão pública portuguesa e no ano seguinte passou para a TVI onde chegou a subdiretora de Programação. Em 2011 regressou à SIC onde teve lugares de apresentação e de direção.
“Não tenho queixas nenhumas a fazer sobre a televisão, a única coisa é que o ‘daytime’ é muito castigador em matéria de tempo, todos os dias há uma parte do dia que não nos pertence. Nós temos de estar aqui todos os dias e, às vezes, acontecem coisas na tua vida pessoal, às vezes limita-te muito e há uma certa exasperação. Por exemplo, eu sou filha única e no acompanhamento dos vários problemas de saúde que os meus pais tiveram não pude estar tão presente quanto gostaria”, disse Júlia Pinheiro em entrevista a Daniel Oliveira, no Alta Definição em Outubro de 2023.
Ouça o discurso de Júlia Pinheiro na cerimónia deste ano.
17. Sandra Felgueiras, 47 anos, jornalista e pivot da TVI
Sandra Felgueiras é um dos apresentadores do Jornal nacional da TVI que vai para o ar às 20 horas e é coordenadora do Exclusivo TVI, um dos seus espaços de jornalismo de investigação da estação controlada por Mário Ferreira, empresário da Douro Azul. A 3 de Novembro de 2023 a TVI emitiu uma reportagem de investigação da equipa que liderou, que aludia a uma alegada interferência de Marcelo Rebelo de Sousa, que terá sido iniciada pelo seu filho, Nuno, para que gémeas luso-brasileiras com atrofia muscular espinhal recebessem um tratamento de quatro milhões de euros no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, e que colocou o Presidente da República sob um olhar de suspeita.
As investigações da jornalista também estiveram na base da queda do primeiro-ministro, António Costa, a 7 de Novembro de 2023, quando houve buscas e detenções na sua residência de trabalho relacionadas com as concessões de exploração do lítio e projetos de produção de hidrogénio em Sines. Esta alegada teia de influências tinha sido objeto de reportagens no extinto programa Sexta às 9 na RTP e que espoletou um conflito na RTP entre a então diretora. Maria Flor Pedroso, e Sandra Felgueiras que chegou a ser ouvida na Assembleia da República. Como disse numa entrevista à TVI: “não tenho nenhum preço. Não quero nenhum cargo, nem quero dinheiro”.
Em novembro de 2021 trocou a informação da RTP onde estava desde 2000 e coordenava o programa Sexta às 9 desde 2012, pela Cofina, hoje Medialivre, para assumir em Janeiro de 2022 a direção da revista Sábado, e a apresentação do programa Investigação Sábado na CMTV. Oito meses depois saiu para a TVI e interpôs uma ação contra a Cofina no Tribunal do Trabalho, exigindo 90 mil euros de indemnização, que perdeu em primeira instância. Sandra Felgueiras nasceu no Porto, em março de 1977. Fez Ciências da Comunicação na Universidade Nova de Lisboa, passou pelas redações do Expresso e da SIC e antes tinha trabalhado numa televisão espanhola – Barcelona Television. Em 2010 foi o momento do seu primeiro caso de investigação mediático na RTP sobre o desaparecimento da menina inglesa Madeleine (Maddie) McCann tendo mais tarde participado no documentário da Netflix, “O Desaparecimento de Madeleine McCann” lançado em março de 2019.
Ouça o agradecimento de Sandra Felgueiras ao prémio deste ano.
18. Isabel Vaz, 58 anos, CEO do Grupo Luz Saúde
Dez anos depois de a Fidelidade, detida pela Fosun de Guo Guangchang, ter arrebatado em OPA da Espírito Santo Saúde, que mudou o nome para Luz Saúde, por quase 460 milhões de euros 96%, a empresa de saúde prepara-se para voltar à bolsa Euronext Lisboa, depois de uma primeira entrada em bolsa em fevereiro de 2014 e a saída em 2018.
Isabel Vaz é licenciada em Engenharia Química pelo Instituto Superior Técnico e um MBA pela Nova SBE e iniciou a sua vida profissional como investigadora no Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (IBET). Foi Engenheira de Projeto Fabril no Grupo Atral Cipan. Em 1992, ingressou na McKinsey, empresa de consultadoria estratégica de alta direção, onde foi senior consultant durante sete anos, participando em projetos essencialmente na área da banca e seguros. Em 1999 a convite de Ricardo Salgado, que estava à frente do Banco Espírito Santo, que ruiu em Agosto de 2014, liderou, a partir da Esumédica, empresa de cuidados médicos às empresas do Grupo Espírito Santo, a criação do atual Grupo Luz Saúde.
Esta sua longa experiência na área da saúde levou-a a dizer que “ninguém manda nos médicos. Na saúde não há chefias, há liderança ou não se chega a lado nenhum”. E isso, vinca Isabel Vaz, “é um desafio fascinante para qualquer gestor” em entrevista ao podcast “O CEO é o limite”, de Cátia Mateus. Em 2017 Isabel Vaz recebeu o prémio Maria de Lurdes Pintassilgo, que distingue as engenheiras que se destacam na sociedade, e foi instituído pelo Instituto Superior Técnico em 2016. É administradora não executiva da Mota-Engil e dos CTT e membro do Strategic Board da Católica-Faculdade de Medicina.
19. Maria João Carioca, 53 anos, Chief Financial Officer (CFO) da Galp Energia
É atualmente Chief Financial Officer (CFO) da Galp, cargo que ocupa desde maio de 2023, o mesmo cargo que ocupara na Caixa Geral de Depósitos (CGD) nos dois anos anteriores. Licenciou-se em Economia pela Nova SBE (1989-1993), a que se seguiu um MBA pelo INSEAD em 1996, e fez também formações na Harvard Business School, Massachusetts Institute of Technology e Columbia Business School.
O seu currículo como gestora tem muitos cargos e ocupações de um caminho que começou em 1993 pela McKinsey onde esteve dez anos. Quando era Associate Principal passou então a coordenar o Gabinete de Análise Estratégica (GAE) da Unicre, onde esteve até 2008. Seguiu-se, entre 2009 e 2013 a função de diretora do Gabinete Corporativo e de Estratégia da SIBS Foward Payment Solutions e SIBS SGPS, data a partir da qual ingressou na CGD como administradora executiva da Caixa Geral de Depósitos (2013-2016). Em 2016 tornou-se a primeira mulher a liderar a Bolsa de Lisboa como presidente do Conselho de Administração da Euronext Lisboa, da Interbolsa e da Euronext Technologies, onde esteve até 2017, quando regressou como administradora executiva à Caixa Geral de Depósitos, onde em 2021 assumiu as funções de CFO.
Num pequeno vídeo gravado na Nova SBE numa Future Talks em 2019 dizia que gostava de que tudo o que faz se traduza num “um número, um resultado, possa realmente medir e ver o que está a acontecer”. Disse ainda que tinha sido convidada para falar sobre qualidades de liderança e acabou por falar na alegria. Confessou que se lhe tivessem pedido o mesmo uns anos antes teria sido politicamente correta e falado do que as pessoas esperam de um grande líder, das suas qualidades de liderança e das suas capacidades de influenciar os outros. “Os momentos em que me sinto feliz na liderança das equipas são quando estamos a atingir objetivos, a fazer um caminho a bom ritmo, e estamos orgulhosos, contentes e nos sentimos bem com o que estamos a fazer”.
Ouça o agradecimento de Maria João Carioca ao prémio deste ano.
20. Isabel Jonet, 64 anos, presidente Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa, da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome
“Consagro muito do meu tempo à gestão, mas à gestão com amor e com sentido. Estou aqui sentada, no Banco Alimentar, há 29 anos e tenho tido experiências extraordinárias, tenho uma vida rica”, disse ao Observador numa entrevista em Agosto de 2023. Lembrava ainda que desde os 12 anos, quando nas férias de verão visitava crianças doentes no Hospital de Santana na Parede, que o voluntariado faz parte da sua vida.
Licenciada em Economia, pela Universidade Católica Portuguesa entrou em Março de 1983 para a Sociedade Portuguesa de Seguros até 1986, quando rumou a Bruxelas integrando a Assurances Général de France, durante um ano e meio, a que se seguiu o Comité Económico e Social das Comunidades Europeias, em Bruxelas até julho de 1993.
Quando regressou a Portugal ofereceu-se como voluntária, mas acabou por assumir a sua liderança. Recorda que “o Banco Alimentar era muito pequenino, na altura apoiava 16 instituições, e aquilo que eu fiz aqui foi um modelo de gestão que é hoje o modelo seguido no resto da Europa. É um modelo de gestão de uma instituição de solidariedade social, mas que se baseia naquilo que é a gestão profissional de qualquer empresa de logística. Porque os Bancos Alimentares são empresas de logística da caridade”.
Desde então, tem liderado o crescimento e a consolidação desta rede de solidariedade, que atualmente conta com 21 Bancos Alimentares e apoia mais de 2600 instituições e cerca de 400 mil pessoas carenciadas e distribuem quase 30 mil toneladas de alimentos. Em 2004, criou a ENTRAJUDA, que, nas suas palavras, “o que faz é, com base no mesmo modelo de gestão, levar gestão às organizações do setor social, mobilizando voluntários qualificados. Lançámos a Bolsa do Voluntariado para mobilizar estas pessoas e é hoje o maior site português de voluntariado”.
Participa na Comissão de Responsabilidade Social do BPI e ao Conselho estratégico da Missão Continente e no Conselho Superior da Universidade Católica.
Ouça o discurso de Isabel Jonet na cerimónia deste ano.
21. Rita Pereira, 42 anos, atriz e influencer
Entre setembro de 2023 e 8 de fevereiro Rita Pereira esteve no Brasil, a gravar a novela ‘Dona Beija’, para a HBO Max, plataforma de streaming, onde assume a personagem Siá Boa, uma mulher exótica e sensual. Na versão original, de 1986, foi Maitê Proença quem deu vida a esta icónica personagem.
Rita Pereira é atriz, apresentadora e influenciadora digital. As suas plataformas do Instagram, TikTok e Facebook perfazem uma comunidade de mais de 3 milhões e 500 mil seguidores. Recebeu em Novembro o Prémio Personalidade de Excelência 2023 na categoria influencers, da Superbrands Portugal. No estudo do Grupo Marktest deste ano “Os Portugueses e as Redes Sociais”, Rita Pereira fica no Top 5 das personalidades mais seguidas pelos portugueses nas redes.
Nascida em Carcavelos, fez ballet clássico durante sete anos e mais tarde danças contemporâneas e modernas, foi modelo e promotora e licenciou-se em Comunicação e Jornalismo, na vertente de Publicidade, na Universidade Autónoma de Lisboa. Estreou-se em televisão como apresentadora do programa infantil SIC Altamente, para a SIC. A atriz fez a sua estreia na representação na telenovela Saber Amar.
Começou a sua carreira na televisão pela SIC como apresentadora de um programa juvenil e a sua carreira como atriz na TVI, com uma participação em Coração Malandro, onde se fixou, tendo integrado o elenco de várias novelas, como Doce Fugitiva, Destinos Cruzados, Feitiço de Amor, Quero é Viver, entre muitas outras. Esteve nos novos Morangos com Açúcar, onde voltou a dar vida a Soraia Rochinha.
22. Ana Garcia Martins, 43 anos, blogger e influencer
Está há cerca de 20 anos no mundo digital, que é o seu modo de vida, mas considera que ainda é apoquentada pelo síndrome do impostor: “às vezes, em relação aos prémios que recebo, penso sempre que um dia me vão bater à porta e dizer que têm de os recolher porque perceberam que eu não tenho mérito”, disse Ana Garcia Martins ao programa Alta Definição da SIC. Nessa entrevista recordou a frase que o pai lhe dizia: “tens de sair da mediania”, que tem sido um acicate para a sua carreira.
Foi jornalista até 2011, quando resolveu aventurar-se a tempo inteiro no seu blog “A Pipoca Mais Doce”, que conta já com 100 milhões de visitas. Conta com quase 900 mil seguidores no Instagram.
Na TVI foi comentadora das galas do Big Brother e apresentou o programa “Betclic Mano a Mano”. Fez dois podcasts com David Cristina o “Separados de Fresco” e o “Pijaminha de Cenas”, e tem na Rádio Observador, o programa “O que é que sucede”. Em 2023 participou no programa de cozinha Hell’s Kitchen Famosos, na Sic.
Em Setembro de 2019 fez o seu primeiro espetáculo a solo de stand-up comedy, “Agora Deu-me para Isto”. Em novembro de 2021 publicou com David Cristina, o livro, “Separados de Fresco – Dicas Infalíveis Para uma Relação Falhada”(Contraponto), um dos sete livros que já escreveu. Em 2022 foi considerada a influenciadora com maior notoriedade pela Marktest. Já em 2023 ganhou o prémio 5 Estrelas na categoria “Influenciadores Digitais”.
Ouça o discurso de Ana Garcia Martins na cerimónia deste ano.
23. Lídia Jorge, 77 anos, escritora e conselheira de Estado
O romance “Misericórdia”, publicado em França pela Métailié, valeu-lhe o prémio de melhor livro estrangeiro, o prémio Médicis (ex-aequo). É a primeira vez que a distinção recai sobre um autor de língua portuguesa. Este prémio foi como um renascimento literário de autora que publicou o primeiro livro em 1980, “O Dia dos Prodígios”, que ganhou o Prémio Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa.
Em 2020 foi criada a Cátedra Lídia Jorge por protocolo entre o Instituto Camões e a Faculdade de Letras da Universidade de Genebra e dá seguimento ao trabalho de promoção e divulgação da língua portuguesa e das culturas de expressão portuguesa do Centre d’Etudes Lusophones, criado a 25 de abril de 2009.
Em dezembro de 2023 Lídia Jorge foi uma dos quatro escritores convidadas pelo El País a escrever uma crónica mensal para substituir o espaço de Mario Vargas Llosa, que anunciou a sua retirada do jornalismo de opinião. Os outros autores são Leonardo Padura, Juan Gabriel Vásquez e Irene Vallejo.
Natural de Boliqueime, Lídia Jorge é licenciada em Filologia Românica, foi professora liceal em Lisboa, Angola e Moçambique – durante a guerra colonial, experiência que se plasmou no livro A Costa dos Murmúrios (1988). Em 2022 publicou O Vento Assobiando nas Gruas, que venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003.
É conselheira de Estado nomeada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, foi professora convidada da Faculdade de Letras de Lisboa, e membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social, entre 1990 e 1994.
Como disse numa entrevista em 2014 ao jornal Sol “sinto-me perante a escrita como antes de ter escrito ‘O Dia dos Prodígios’. É a mesma vontade de criar um universo paralelo que questiona o universo real. A mesma ideia de que posso organizar sobre o papel um mundo que questiona este mundo, que pode ter instrumentos de inquietação e de denúncia lá dentro, mas que é envolto numa estrutura de beleza. Se vou usar as palavras para tocar o sino a rebate, então que o faça com um bom som, com um bom timbre. E que chegue o mais longe possível”.
24. Patrícia Mamona, 35 anos, atleta de triplo salto do Sporting Clube de Portugal
Em Novembro de 2023 Patrícia Mamona, atleta do Sporting, que foi vice-campeã olímpica do triplo salto em Tóquio 2020, regressou, após lesão, aos treinos com os olhos postos em Paris 2024. “Estes podem ser os meus últimos Jogos. Eu sinto-me jovem, sinto-me com energia, com muito para dar e, por isso, talvez não sejam, mas tenho de pensar nessa possibilidade. Estou a fazer tudo para que esta época corra da melhor maneira possível”, disse.
Em 2022 a atleta disputou os mundiais e os europeus condicionada por lesões. Conquistou a medalha de bronze dos Europeus em pista coberta em Istambul 2023, mas agravou uma lesão no adutor, que impediu a sua presença nos Mundiais de 2023 em Budapeste. “Embora ache que sou bastante forte psicologicamente, há sempre a dúvida se vamos conseguir voltar e voltar ao nosso melhor. Neste momento, estou melhor do que estava, na mesma altura, há dois anos, até comparado com o ano dos Jogos estou melhor”, disse Patrícia Mamona que também participou numa conferência na Web Summit em Novembro de 2023.
Começou a fazer atletismo, na especialidade de triplo salto, na Juventude Operária de Monte Abraão (JOMA), entre 2002 e 2010, tendo pulverizado recordes, incluindo os juvenis em 100 metros barreiras e salto em comprimento. Em 2008 foi para a Universidade Clemson na Carolina do Sul estudar Ciências Médicas, passando a competir no circuito universitário americano e nas provas em Portugal. Em fins de 2010 tornou-se atleta do Sporting. Tem feito campanhas publicitárias para a CGD, Pingo Doce, Fitness Cereais, Multicare Vitality, marca de água Refix, Bettery.
25. Isabel Capeloa Gil, 58 anos, reitora da Universidade Católica
“Nós temos igualdade de oportunidades por lei, mas o problema é a prática, é a cultura que ainda não permite que as mulheres avancem”, refere Isabel Capeloa Gil em entrevista ao Alley Oop, considerando que as universidades têm um papel fundamental, não apenas na educação das mulheres sobre questões de liderança, mas também na promoção de autoconsciência e autoestima. “O problema não é permitir mulheres nas empresas, mas incluir políticas que permitam às mulheres conciliar entre o trabalho e a sua vida familiar” e, acrescenta, que existem tantos bons profissionais que não querem dar o último passo até ao topo porque sentem que não têm condições de conciliar a vida familiar com o compromisso que a liderança de uma empresa exige.
Em Setembro de 2016 tornou-se, por proposta de D. Manuel Clemente, então Patriarca de Lisboa, a segunda mulher a ser nomeada reitora da Universidade Católica Portuguesa, e tomou posse a 28 de outubro de 2016, sucedendo a Maria da Glória Garcia. Como Isabel Capeloa Gil disse numa entrevista à Executiva nunca sonhou ser reitora porque o cargo com que sempre sonhou “era ser diretora de um centro de investigação, porque é ali que se modela o futuro”. Em 2005 chegou a diretora da Faculdade de Ciências Humanas e entre 2012 e 2016 foi vice-reitora da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa. Os cargos de gestão foram surgindo e apercebeu-se da capacidade de transformar que poderia ser o cargo de reitora.
Isabel Capeloa Gil é, desde 2023, administradora não executiva da Fundação Calouste Gulbenkian e preside ao conselho de curadores da nova empresa pública, Museus e Monumentos de Portugal, em que se incluem colecionadores como Álvaro Sequeira Pinto e António Cachola, o diretor do Museu Calouste Gulbenkian, António Filipe Pimentel, e o galerista Philippe Mendes. Em 2018 foi a primeira mulher a ser nomeada presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas (IFCU), que este ano faz 100 anos e que agrupa cerca de 250 universidades católicas de todo o mundo.
Licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde fez o mestrado em Estudos Alemães. Estudou na Ludwig Maximilian Universität, em Munique, Baviera, e na Universidade de Chicago, em Chicago, Illinois, doutorando-se em Estudos Alemães na Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa de Lisboa.
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