Paula Rios: Saúde mental e trabalho – a aliança necessária

A saúde mental no trabalho está na ordem do dia, mas ainda há muito a fazer. Paula Rios traz novidades nesta área.

Paula Rios é jurista e profissional de seguros.

Texto de Paula Rios, jurista e profissional de seguros

 

Vivemos um momento em que, por um lado, a doença mental já não é algo escondido e envergonhado como ainda há bem pouco tempo era, mas por outro é uma realidade que aumentou exponencialmente com a pandemia, levando à necessidade de uma maior atenção, com foco sobretudo na prevenção. E porque o trabalho é, sem sombra de dúvida, um espaço essencial na vida dos seres humanos, onde passamos muitas horas dos nossos dias, cumpre promover a saúde mental nessa vertente. Foi o que pensaram a Encontrar+se – Associação para a Promoção da Saúde Mental e a ANJE – Associação Nacional de Jovens Empresários, que entenderam ser este o momento para lançar um projeto de promoção da saúde mental no local de trabalho. Nasceu assim a ASM – Aliança para a Promoção da Saúde Mental no Local de Trabalho, com o objetivo de contribuir para ultrapassar o silêncio e o estigma em torno da saúde mental e para a adopção de boas práticas ajustadas à natureza e desafios dos diferentes sectores de atividade. Para ambas as entidades, “é urgente colocar as pessoas no centro das organizações e o envolvimento de líderes comprometidos, que apostem no desenvolvimento e bem-estar mental das pessoas, criando locais de trabalho saudáveis, organizações prósperas e uma sociedade mais saudável e inclusiva.”

Os números falam por si. Uma em cada cinco pessoas passa pela experiência de um problema de saúde mental; 800 mil pessoas suicidam-se anualmente em todo o mundo (sendo o suicídio a segunda causa de morte entre os jovens dos 15 aos 29 anos); e, por último, mas não menos importante, 50% do custo que as doenças mentais têm para a sociedade resulta de custos indiretos como a redução da produtividade. No entanto, para além do estigma e discriminação que ainda existem, só 10% das empresas em Portugal têm procedimentos para gestão de riscos psicossociais, sendo sabido que o contexto de trabalho é determinante da saúde mental.

Num momento em que surgem desafios como os novos modelos de trabalho, a crise económica, a instabilidade financeira, e se verifica o agravamento de situações de ansiedade, burnout e depressão, a ASM vê a oportunidade, e assume o compromisso, de combater o estigma, de atuar, testar e validar boas práticas, partilhá-las e disseminá-las com a sociedade. Para tal, visa unir esforços entre vários stakeholders, como as universidades, as organizações do trabalho, as empresas, os trabalhadores, o público em geral, e a Saúde, promovendo sinergias multissectoriais que transformem compromissos em ações, e integrando o tema da saúde/doença mental nas organizações por forma a permitir a continuidade da sua promoção/combate, respetivamente. Foca-se no estudo, reformulação e validação de boas práticas ajustadas a cada sector, através de vários aspectos, nomeadamente:

. intervenções na organização – avaliar, mitigar e remover os fatores de risco para a saúde mental;

. formação de líderes e colaboradores – literacia de todos

. intervenções a título individual – desenvolvimento de competências e estratégias promotoras de saúde mental;

. diversidade e inclusão – integração de pessoas com problemas de saúde mental no mercado de trabalho.

A ASM conta já com um impressionante conjunto de membros fundadores, representantes de diferentes setores de atividade, como a Banca / Finanças, Seguros, Saúde, Consultoria, Indústria, Construção Civil, Associações e Fundações, Indústria Farmacêutica, Advocacia, Serviços, bem como académicos e personalidades de diferentes áreas que pretendem colaborar nesta missão.

Sendo a missão da ASM  a de contribuir para ultrapassar o silêncio e o estigma em torno da doença, e para a adopção de modelos de trabalho promotores da saúde mental, torna-se essencial difundir a sua mensagem e trazer para este projeto mais entidades que queiram fazer a diferença neste âmbito. Aliar saúde mental e trabalho é, hoje, mais necessário, e urgente, do que nunca.

 

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