Cartões de visita: um acessório antiquado?

Há quem defenda que os cartões de visita já não se usam e há quem opine que só se justificam se forem em formato digital. Joana Andrade Nunes deixa a sua opinião sobre o tema.

Joana Andrade Nunes é consultora de protocolo, etiqueta e comunicação.

A “troca de galhardetes” protagonizada pelos cartões de visita continua a ser um momento alto na vida executiva. Não é, como tal, de admirar que uma das primeiras preocupações do departamento de marketing de cada organização é (ou deveria ser…)  agilizar a produção de cartões de visita para os novos colaboradores, assim como a atualização dos cartões de visita dos colaboradores garantindo que espelham as novas funções abraçadas.

Atualmente vivenciamos, contudo, uma nova realidade: os cartões de visita em formato digital — idolatrados por uns, odiados por outros — vieram para ficar e, paulatinamente, vão destronando o lugar cimeiro ocupado pelos tradicionais cartões de visita.

Se, como eu, é fã da era digital, acredito que se tem questionado se continuará a “valer a pena” imprimir uma nova “leva” dos cartões de visita ou se, pelo contrário, um cartão de visita em formato digital cumpre o propósito.

A seleção do papel, a escolha cuidada da paleta de cores, a decisão de aplicar/não relevo e a plastificação a considerar no tradicional cartão de visita são elementos que dão vida à nossa personalidade. Tal contribui para que, em pleno século XXI, os cartões de visita tradicionais continuem a ser um acessório de charme inegável que, em segundos, permite reforçar a “fibra” de cada profissional.

 

O que os cartões de visita dizem sobre si

Os cartões de visita, enquanto extensão da nossa marca profissional, são um acessório poderosíssimo que permite apresentar o “eu profissional” ao nosso interlocutor ou, analisando a outra face da moeda, permite, de imediato, reconhecer o nosso interlocutor: quem é, onde trabalha, o que faz e o “tom de excelência” pelo qual se pauta.

Se, atualmente, a linguagem secreta que, outrora, os cartões de visita demonstravam deixou de fazer sentido — o código secreto de cada dobra não é, atualmente, reconhecido pela maioria dos nossos interlocutores — os cartões de visita continuam a ser particularmente úteis aquando do envio de documentos de cariz profissional ou de um “miminho” para surpreender o seu interlocutor.

Diria que há, contudo, uma dobra que continua a ser reconhecida — e, claro, executada  — por muitos profissionais no século XXI. Para marcar que esteve presente num evento fúnebre, o cartão de visita continua a ser deixado dobrado ao meio garantindo que não será utilizado inapropriadamente por terceiros. Como referi, os cartões de visita são uma extensão da nossa marca profissional e a inventividade dos outros consegue sempre surpreender a realidade… A dobra do cartão de visita nestas circunstâncias é altamente recomendável dado que o mesmo não é entregue em mãos e se destina a garantir que estivemos presentes naquele momento.

Salvo a excepção mencionada, entregar um cartão de visita dobrado, rasurado ou com as pontas sujas transmite uma imagem profissional descuidada, desleixada causando uma péssima impressão.

 

As regras básicas no uso dos cartões de visita

A troca de cartões continua, assim, a obedecer, religiosamente, a uma série de boas práticas para que a imagem de excelência profissional seja transmitida e, jamais, cause desconforto ao interlocutor.

Como já referi, o cartão deve ser entregue imaculado: sem dobras nem rasuras. Para que tal seja garantido, aconselho a todos os executivos de excelência que me concedem o seu tempo ao ler este artigo, que abandonem o “péssimo” hábito de guardar os mesmos no bolso das calças ou do casaco; às executivas fãs das tão em voga “Tote bags”, aconselho que deixem de protagonizar o cenário clássico de “procurar” os cartões de visita perdidos no fundo da carteira o que, além de causar um impacto pouco profissional, contribuiu para a danificação dos cartões. Para evitar estes cenários, invista num porta-cartões de visita (encontra várias opções em pele ou metal, com personalização ou sem personalização) — ou dê utilidade aos que lhe foram oferecidos —  garantindo que os cartões estão imaculados, organizados e disponíveis a entregar. Mais uma vez reforço: o cartão de visita — assim como o porta-cartões — são uma extensão da nossa marca pessoal e, como tal, devem estar alinhados com a mesma.  Por sua vez, certifique-se que o cartão está devidamente atualizado: pior do que não ter um cartão para entregar, é entregar um cartão desatualizado…

Se há culturas que entregam, sem mais, os cartões de visita (os americanos são um ótimo exemplo da informalidade com que tratam este ritual), outras valorizam a simbologia que envolve o ritual da troca de cartões contribuindo para o início de uma relação profissional frutífera ou, pelo contrário, aniquilando a mesma à partida. Como tal, aconselho a que saiba ler o tom do momento e pedir licença para entregar o seu cartão de visita apenas quando o interlocutor demonstrar ter interesse no seu percurso profissional ou na sua empresa. Entregar, sem mais, o seu cartão poderá ter o efeito exatamente oposto ao pretendido.

Por outro lado, não se esqueça que o cartão deverá ser entregue com a informação virada para cima: o seu nome, cargo e organização a que pertence são a informação fulcral que pretende partilhar. Quando lhe entregarem um cartão de visita, dedique uns segundos a analisar o mesmo evitando guardá-lo de imediato — uma atitude clássica e de mau tom que continua a ser protagonizada por muitos. Para ganhar pontos “extra” teça um comentário simpático e empático sobre o seu interlocutor ou organização a que pertence. Desta forma, não só garante que leu a informação que lhe foi transmitida como esteve atento à mesma e tem interesse no que foi partilhado.

 

As virtudes dos cartões de visita digitais

Sei que é um executivo de excelência; contudo, acredito que também já vivenciou o clássico momento de se aperceber que acabou de chegar a um evento e não tem os cartões de visita consigo nem tem oportunidade de os ir buscar a casa, ao escritório ou ao carro (aquele momento que já nos “salvou” em diversas ocasiões).

Peço-lhe, encarecidamente: não caia na tenebrosa tentação de escrever os seus dados no cartão de visita de outra pessoa (ainda que o outro o sugira por “simpatia”…). Tal equivale a violar a identidade do outro sendo verdadeiramente deselegante,  inapropriado e, para muitos, ofensivo.

É, aqui, que entra em cena o “brilhante” cartão de visita digital que nos salvará do constrangimento de não termos um cartão de visita para trocar.

Apesar de continuar a não prescindir do charme inigualável que os cartões de visita físicos continuam a oferecer, confesso que o meu cartão de visita digital já me salvou em inúmeras ocasiões. Saiba que pode descarregar o seu através da sua página de LinkedIn (só funciona em ambiente mobile) e o QR Code que lhe será atribuído contém todas as informações precisas e atualizadas que, seguramente, pretenderá partilhar.

Se tiver o cuidado de ter a sua página de LinkedIn atualizada, esta ferramenta revela-se num precioso aliado dado que, em segundos, permite ter toda a informação profissional atualizada — o que nem sempre é possível, de forma imediata, com a “troca de cadeiras”.

 

A outra função dos cartões de visita

Por fim, saiba que continua a ser muito simpático e apreciado o envio de um cartão de visita tradicional a acompanhar um ramo de flores, uns chocolates, um livro ou os documentos que ficou de enviar à contraparte.

Neste caso, deverá escrever uma breve mensagem respeitando, sempre, as boas práticas nesta matéria.

Dependendo do grau de proximidade que paute a sua relação com o interlocutor, poderá apenas escrever uma frase de despedida, antes do nome (Com os melhores cumprimentos,Com estima e consideração; Com um forte abraço) riscando o apelido sempre que o grau de proximidade o justifique. Em alternativa, poderá, tão só e sempre na primeira pessoa, escrever  “Envio / Agradeço / Felicito”.

Por fim, se pretender escrever uma mensagem personalizada, deverá utilizar o verso do cartão. Nesse caso, poderá escrever uma breve mensagem:

Estimado Dr. Lima Lopes,

Tomo a liberdade de lhe enviar o último relatório de contas para que possa partilhar a sua análise brevemente. 

Com os meus melhores cumprimentos,

terminando com a sua assinatura.

Reforço que este gesto de generosidade e cuidado profissional, ainda que em vias de extinção, continua a contribuir para sedimentar a imagem de excelência profissional; demonstra ao interlocutor que dedicou uns minutos do seu tempo a escrever uma breve mensagem e a enviar um documento ou um bonito ramo de flores. Estes pequenos gestos têm um reflexo exponencial ajudando-o a palmilhar o caminho da excelência profissional — algo que o cartão em formato digital dificilmente poderá protagonizar.

 

 

Leia mais artigos da autora aqui.

 

Joana Andrade Nunes, advogada e fundadora da marca de vestuário de luxo infantil Tierno, é  também autora do blogue “Camomila Limão”, no qual partilha, desde 2014, a paixão pela arte de saber estar e receber. O seu livro Quatro Gerações à Mesa foi considerado o melhor livro de culinária de Portugal pelos Gourmand World Book Awards (2016) e o 3.º melhor do mundo pelos Gourmand World Book Awards 2017. Em junho de 2020, fundou o projeto “Etiqueta Moderna”, que promove cursos de etiqueta e protocolo. 

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