Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal
“Através do estudo das dinâmicas entre condutor e uma orquestra sinfónica é possível encontrar qualidades-cha e práticas de liderança que são necessárias para desenvolver equipas de alta performance consistentes. Inspiração, visão e direção é muito diferente de dizer simplesmente às pessoas o que fazer. É muito difícil culpar outra pessoa pelo som do nosso próprio instrumento quando nós somos os únicos na sala. Os melhores maestros conseguem espalhar entusiasmo na forma como comandam a orquestra. A liderança é exercida de um modo muito diferenciado do controlo.
Fazer a orquestra falar a uma só voz. Confiança de que cada um irá fazer a sua parte. Contribuir para algo maior que o próprio. Poder-se-á imaginar que treinar uma orquestra funcione como um relógio mecânico: prática, feedback, repetição. Porém, sem a direção da batuta a orquestra saberá tocar, sincronizada e no tempo certo. Não se consegue pedir a músicos que respondam a uma ordem ou simplesmente sejam colaborativos. Uma grande performance acontece apenas quando os músicos estão tão motivados quanto o maestro. O trabalho do maestro é criar um ambiente onde isso possa acontecer. Cada músico se preocupa em se ajustar a todos os outros músicos e o segredo é criar um sentido de comunidade e responsabilidade partilhada. Enquanto cada músico se concentra no seu papel nunca perdem de vista o objetivo e resultado comum. O maestro dá espaço para que a “história” de cada um seja ouvida. E incentiva que cada um escute com atenção a participação do outro. Trata-se de “ouvir o clarinete”, como refere Roger Nierenberg no seu brilhante livro “Maestro, a surprising story about leading by listening”. Com este princípio simples retira-se a ambiguidade de cena e os liderados aprendem a ouvir o tom, o que automaticamente provoca sintonia e cooperação.
Sendo certo que os músicos sentem uma ligação com o maestro, a mesma nunca será tão forte como a que sentem com o som que eles próprios produzem ou com o dos outros colegas. Um líder sábio capitalizará justamente neste ponto e levará a sua orquestra a atingir a visão do conjunto. Focar o grupo no ponto de alavancagem, ensina-nos o Maestro.
Controlo e propriedade são incompatíveis. Se o líder exercer apenas controlo nunca pode esperar que o liderado se sinta realmente responsável pela missão atribuída. O poder do pódio gera equipas passivas, mas se o local do pódio for bem utilizado, tem um papel decisivo no sucesso da equipa. É, numa orquestra, o ponto focal, visual e acústico, permitindo ao maestro direcionar a intensidade, compasso, tempo e nota dos diversos instrumentos de modo a obter a combinação perfeita que chegará na forma de melodia ao público.”