Carla Rebelo é diretora-geral do Adecco Group em Portugal
“Vivemos presentemente o início de um novo e definitivo salto na vida das organizações.
Este salto, só comparável a um salto quântico, também designado de transição eletrónica atómica, em linguagem da física/química, consiste no movimento de aceleração dos eletrões, levando-os a afastarem-se do seu núcleo. Pela descrição, fica-se com a impressão de um fenómeno algo disruptivo e microscópico… Pois é assim mesmo na história da evolução das organizações: causas às vezes microscópicas e consequências disruptivas, o que nos transporta para a necessidade de reforçar os nossos mecanismos de monitorização. Ver, olhar e reparar, para citar o nosso ilustre Prémio Nobel, José Saramago.
Reza a lenda que o Deus Romano Janus tinha dois pares de olhos: um focava no que lhe aparecia em frente e outro, no que ficava para trás (uma espécie de câmara de 360 graus). Também o gestor atual terá aprendido há muito tempo que não pode funcionar eficazmente sem estas duas perspetivas em “transmissão simultânea”, que lhe permita por um lado garantir a permanente qualidade dos processos e produtos do passado mas, ao mesmo tempo apostar na inovação que lhe garanta poder galvanizar as oportunidades do futuro. A isto se chamou de ambidestria organizacional (Duncan, R., 1976 e March, J.G, 1991)
Aplicado ao ser humano, a ambidestria é a capacidade de ser igualmente habilidoso com ambas as partes do corpo. A ambidestria não se limita apenas à capacidade de escrever com as duas mãos, ou de rematar com ambos os pés. Aliás, a etimologia da palavra “ambidestro” revela-nos o seu sentido, tendo origem no Latim, em que ambi significa ambos e dext significa certo.
Parecendo fácil, requer foco e determinação, uma vez que exige que o gestor mantenha este equilíbrio mental entre a constante exploração de novas oportunidades, ao mesmo tempo, que trabalha afincadamente na melhoria das capacidades e processos existentes. As linhas de drama descritas nos case study nas Escolas de negócios, que contam sobre o passado estão repletas de exemplos de empresas que falharam nesta busca de “breakthrough innovation while also making steady improvements”.
A robustez e a flexibilidade, parecem, à primeira vista conceitos antagónicos mas são, na verdade, os pilares em que assentam, hoje e no futuro todas as empresas de sucesso.
O paralelo para a carreira existe e corresponde na perfeição aos mesmos axiomas. Procurar aprender novas competências sem descurar a melhoria contínua (geralmente incremental) na execução dos processos atuais é condição essencial para a progressão de carreira, senão atual, certamente no futuro. Ginásios para a ambidestria procuram-se!”