O título do livro de Tomas Chamorro-Premuzic pode parecer desafiador, mas não se trata exatamente de um ataque aos homens, mas sim de perceber quais as competências dos bons líderes e porque razão o mundo e as empresas não estão a ser governados por pessoas com essas características. “A incompetência é a norma quando se fala de liderança, e os líderes homens também são a norma. O meu livro explora se há uma relação entre o facto de a maioria dos líderes serem homens e o facto de a maioria dos líderes serem incompetentes”, foi assim que o chief talent scientist começou por justificar o título do livro Why Do So Many Incompetent Men Become Leaders? (And How to Fix It) numa entrevista que deu à rádio da Universidade de Wharton. Deixamos algumas ideias fortes partilhadas durante essa conversa.
Como o excesso de confiança conduz a uma má liderança
“Temos décadas de pesquisa que nos indicam como deve ser um bom líder. São, em média, pessoas mais competentes, mais humildes, mais autoconscientes e mais preocupados em desenvolver os outros, têm mais competências sociais e são mais íntegros. Ainda assim, e apesar de a maioria das pessoas concordar teoricamente que estas qualidades e competências são inerentes a uma liderança efetiva, continuamos a selecionar líderes com um perfil diferente. Tendem a ser mais confiantes do que competentes, mais carismáticos do que humildes e mais narcisistas do que íntegros.”
“Repare nos conselhos que se dão às pessoas que querem ser líderes. ‘Não se preocupe com o que pensam de si. Se acha que é ótimo, é porque é. Concentre-se apenas em si próprio. Pode ser tudo aquilo com que sonha’, etc. Todas estas coisas promovem pessoas auto-centradas e mentes narcísicas. Por oposição, não se ouvem coisas que deveríamos ouvir se os concelhos fossem mais sensatos: ‘Cuide da sua reputação para que os outros confiem em si para fazer negócios, tenham consideração por si, o julguem como uma pessoa altruísta e preocupada com os outros’. Claramente, nenhuma sociedade pode funcionar se todas as pessoas estiverem focadas em si próprias e pensarem que podem fazer o que quiserem porque têm esse direito.”
Porque Angela Merkel é o exemplo de um bom líder
“Considero que Angela Merkel reúne muitas das qualidades que, por um lado, são muito óbvias no potencial de liderança, mas por outro, são muitas vezes negligenciadas ou não são suficientemente apelativas para lhes darmos atenção. Em primeiro lugar, [os líderes] precisam de ser compententes. Em seguida, precisam de ser objetivos, justos, sem preconceitos nem ideologias. Existe uma serie de skills altamente valorizados, como o altruísmo, a humildade, a capacidade de desenvolver os outros para evitar que tomem decisões ideológicas, emocionais ou impulsivas. Se pensarmos nos verdadeiros líderes de hoje, são na sua maioria aborrecidos, como Angela Merkel. Não há qualquer excitação nem escândalos à sua volta. São muito previsíveis. As suas equipas sabem o que esperar deles. Se juntarmos a isso a integridade e competência, temos um gestor de elevado desempenho, e essas coisas não se perdem na liderança ao mais alto nível. As pessoas querem trabalhar com quem não seja auto-centrado, que seja competente e objetivo, que seja capaz de as compreender e julgar com objetividade para poder extrair o melhor de si.
As diferenças de interpretação consoante o género
“O ser humano é demasiado confiante, em geral, mas os homens são mais do que as mulheres e são premiados por isso. Se um homem se tiver em muito boa conta – mesmo que sem razões válidas para tal -, não tiver a noção das suas limitações e ainda assim parecer confiante, as pessoas estarão mais propensas a dizer: “Uau, ele tem potencial de liderança. Vamos contratá-lo! Ele parece saber do que fala”. Mas se estes sinais de excesso de confiança forem detetados em mulheres, iremos dizer que são “patologicamente ambiciosas”, “uns bulldozers” e temos medo delas. O que devemos fazer não é encorajar as mulheres a serem excessivamente confiantes como os homens, mas sim corrigir os nossos padrões e os nossos critérios de avaliação, para nos focarmos na competência, e não no excesso de confiança.”
Como conseguir melhores líderes (e mais mais mulheres na liderança)
“O que defendo é que a melhor intervenção para a diversidade de género é focarmo-nos mais no talento e menos no género. Se for capaz de identificar, selecionar e desenvolver pessoas com o maior talento ou potencial de liderança, não só terá mais mulheres na liderança, como terá também um pouco mais de mulheres do que homens na liderança.
Finalmente, penso que muitos homens são hoje rejeitados no acesso a programas de liderança porque não encaixam nos arquétipos masculinos tradicionais de um líder. Ou seja, são mais femininos do que esperamos. Mas isso também significa que têm mais capacidade de auto-crítica, mais humildade, são mais autoconscientes e preocupados em ensinar os outros. E precisamos de líderes com estas características.”