Carla Soveral descobriu a moda ao ver a mãe costurar e desde cedo que começou a adaptar as peças que ‘herdava’ ao seu estilo. Quando teve de escolher um futuro, não hesitou e decidiu-se por Design de Moda, na Faculdade de Arquitetura. De então para cá já fez um pouco de tudo. Começou na produção e comunicação de moda, primeiro na agência XN e depois na Global Press, colaborou com as revistas FHM, Vogue e Vidas, organizou eventos, como o lançamento da Hugo Boss em Portugal, fez guarda-roupa para publicidade e ópera, foi aderecista na ModaLisboa e no Portugal Fashion, florista com o Maurício no espaço Em Nome da Rosa, e criou a sua própria agência de comunicação, a Triângulo das Bermudas, onde esteve durante 9 anos. Em paralelo, e durante 15 anos, criou e desenvolveu a Poufmamma, marca de design e produção de poufs, e um projeto de venda de roupa e acessórios em segunda mão a que chemou O Que É Teu É Meu.
Em março do ano passado, Carla Soveral decidiu mudar de vida e dedicar-se ao seu projeto de manufatura de carteiras em formato de envelope, feitas em pele e forradas a tecido: Envelope Lisboa. Sem pressas, vai fazendo o seu novo caminho e está satisfeita com as mais de 400 carteiras que já vendeu. Em breve, prepara novidades, como duas parcerias: uma com Anna Westerlund, que apresentará envelopes personalizados através das técnicas que a artista usa no seu trabalho, e outra que dará origem a uma coleção com peles em cores pastel e doces como os macarons onde os padrões foram criados em exclusivo por Lu Haddad.
Conhecemos a Carla Soveral quando era produtora de moda na revista masculina FHM e fomos seguindo o seu percurso. A Carla é uma daquelas pessoas com quem se simpatiza à primeira, pois tem imensa energia, uma gargalhada sonora e é muito profissional naquilo que faz. Por isso, não podíamos deixar de a entrevistar a propósito deste novo projeto.
Como surgiu a ideia
Sempre gostei de fazer acontecer, imaginar e pôr em prática. Tendo o curso de Design de Moda, sempre estive envolvida em projetos em que de alguma forma conseguia através da minha imaginação e aptidão manual, construir ideias, como fazer guarda-roupa para encenações de ópera ou uma marca de poufs que tive durante 15 anos.
Há 3 anos, incentivada por uma amiga, comecei a pensar num produto que fosse óbvio mas ao qual pudesse dar uma nova vida. Ao pesquisar, vi envelopes de papel personalizados com impressão de flores e outros padrões no interior e fiquei a pensar que seria fantástico se conseguisse transpor essa ideia para um objeto de moda, que pudesse fazer parte do nosso dia, com uma vida mais longínqua que os envelopes em papel.
Que passos deu antes de decidir avançar
Assim que identifiquei esta ideia, o entusiasmo fez-me criar vários protótipos até encontrar o formato, técnica e materiais ideais para o que eu tinha imaginado.
Quais as fases mais importantes na concretização do negócio
Foram as fases de planeamento. Calendarizar lançamentos e parcerias. Por norma, há um período de maturação entre a ideia e a concretização. Durante este processo, imagino tudo, desde as cores, aos padrões, a estratégia de comunicação, o ambiente das fotografias, o lançamento: quando? onde? como? Com esta fase bem trabalhada, a concretização é rápida.
Qual o investimento inicial
Desde o início que decidi trabalhar com pele verdadeira. Não queria trabalhar com plásticos, imitações. Queria que as carteiras fossem uma extensão do nosso corpo, pele com pele. Não tinha orçamento definido porque nem sabia o preço das matérias-primas. No início tudo era um mundo novo. O investimento cresceu de forma orgânica. Conforme vendia, retirava cerca de 50%/60% do valor para investir.
Quais as principais dificuldades que enfrentou
Felizmente, tenho vários anos de experiência em várias áreas que convergem neste projeto e a pouco e pouco vou ultrapassando os vários desafios. Como não pretendo ter uma marca de sucesso de um dia para o outro, não sinto dificuldades que me impossibilitem de evoluir. Aceito que o crescimento seja como o de uma planta que semeamos e temos de cuidar para ir vendo crescer.
Que características tem que são fundamentais como empreendedora
Acredito em mim, sou positiva e tenho gosto em fazer acontecer. Ao longo da minha vida profissional sempre fui atenta, sempre gostei de aprender e não tenho qualquer problema em fazer de tudo um pouco acreditando que amanhã será sempre melhor.
Em que medida as suas experiências anteriores a têm ajudado
A minha experiência agrega várias áreas que se complementam como comunicação, assessoria de imprensa, produção de eventos, responsável de guarda-roupa, stylist e até vendedora de flores. Todas estas experiências são agora aplicadas na Envelope.
Qual o principal erro e o que aprendeu com ele
Não considero que alguma vez tenha cometido um grande erro. Por vezes saí do meu caminho mas consegui tirar o melhor de cada uma das experiências. Ao longo destes três anos a marca já evoluiu bastante. No início usava peles de cabra por serem mais pequenas e por isso, mais baratas. Porém, percebi que estas peles não são as ideais por não terem a espessura necessária à estrutura das carteiras e acabei por, aos poucos, começar a usar peles de vaca e hoje são as únicas que uso. Também comecei por mandar fazer um cunho da marca e gravava eu o logo na pele de uma forma amadora, passei para o uso da marca em metal, mas não tinha poder económico para produzir em tamanhos diferentes consoante a dimensão da carteira e por isso também não funcionou a 100%. Atualmente, trabalho com um dourador e os elementos da marca são todos gravados manualmente, conferindo uma acabamento mais elegante.
Uma outra aprendizagem que fiz foi em relação à consignação dos produtos nas lojas. Com o lançamento da coleção, terminei com esta situação. A loja que queira vender Envelope, terá de efetuar uma compra com um valor mínimo e assim evito devoluções ou trocas. Também tenho a certeza que quem passar por este processo, valoriza mais a marca e a sua presença no seu espaço comercial.
Quando teve a certeza de que estava no caminho certo
Quando lancei a primeira coleção da Envelope. Percebi que as relações que desenvolvi ao longo destes anos são sólidas e positivas. Têm sido um apoio imprescindível no lançamento da marca.
Quantas carteiras já vendeu e quem é a sua cliente-tipo
Calculo que ao longo destes 3 anos já tenha vendido cerca de 400. O cliente-tipo são mulheres entre os 30-45 anos, urbanas, com gosto pela qualidade e peças únicas.
Qual o seu sonho para a Envelope
Que se torne uma marca de referência. Que encontre mulheres por todo o mundo felizes com as suas Envelopes.