Em crianças, os nossos brinquedos preferidos podem ter condicionado as nossas aptidões e até a profissão que escolhemos, de uma forma ainda mais acentuada do que esperaríamos.
Brincar tem um profundo impacto no desenvolvimento físico e mental das crianças e diferentes tipos de jogos e brinquedos ajudam a desenvolver capacidades diferentes. Um estudo norte americano de 2015, publicado pela Association for Psychological Science, concluía que as crianças que brincam mais com puzzles, blocos de construção e jogos de tabuleiro apresentavam capacidades de raciocínio espacial mais desenvolvidas. Segundo os responsáveis pela pesquisa, “raparigas e crianças de meios socioeconómicos desfavorecidos normalmente têm piores resultados nestas áreas”.
Estas aptidões são particularmente importantes para os domínios académicos e profissionais da ciência, tecnologia, engenharia e matemática (ou STEM, da suas iniciais em inglês). Mas a verdade é que as ofertas nos corredores das lojas de brinquedos continuam a ser muito estereotipadas por género: bonecas e serviços de chá para elas; super-heróis e jogos de construção para eles.
Em Portugal, 23% dos alunos em cursos superiores de TIC e de Engenharia são mulheres, segundo a OCDE.
Os resultados podem bem refletir-se nas estatísticas da presença profissional feminina em Ciência, Engenharia e Tecnologia. Em Portugal, e segundo dados deste ano da OCDE, 23% dos alunos em cursos superiores de TIC e de Engenharia são mulheres, valor ainda assim superior aos 19% da média da OCDE. Nos Estados Unidos, apenas 26% dos postos de trabalho na área de STEM são ocupados por mulheres.
Brincar às construções e às programadoras
No entanto, alguns fabricantes de brinquedos norte-americanos estão motivados a mudar estes números, através da criação de jogos que puxem as raparigas para estas disciplinas, segundo a Forbes. É o caso da Roominate, que cria peças modulares, circuitos e motores para as meninas construírem casas de bonecas, carrosséis e outros brinquedos. A empresa foi criada por duas licenciadas em Engenharia, Alice Brooks e Betina Chen, que queriam inspirar as raparigas a desenvolver as suas capacidades de resolução de problemas, raciocínio espacial e aptidões em engenharia de motores.
“Se ensinarmos às raparigas, desde cedo, que são capazes e lhes dermos confiança, não se sentirão tão intimidadas a seguir as áreas STEM, dominadas por homens”, defende Debbie Sterling, engenheira e empresária.
Foi esta também a motivação para a engenheira Debbie Sterling fundar a GoldieBlox, em 2012. A marca cria kits de construção para meninas, e já expandiu a oferta a livros, vídeos, apps e até desenhos animados com uma menina engenheira. Em 2014, Sterling recebeu o prémio Brinquedo Educativo do Ano, atribuído pela associação norte americana da indústria de brinquedos, o prémio Living Legacy, do National Women’s History Museum, e ainda figurou na lista das empresas mais inovadoras do site Fast Company. No ano seguinte, Barack Obama distinguiu-a como embaixadora presidencial para o empreendedorismo global. “Se ensinarmos às raparigas, desde cedo, que são capazes e lhes dermos confiança, não se sentirão tão intimidadas a seguir as áreas STEM, dominadas por homens”, defende Debbie Sterling, engenheira e empresária.
Também já existem brinquedos que ensinam aptidões básicas de programação informática destinados a raparigas, como as “pulseiras de amizade” inteligentes Jewelbots, que se iluminam quando a melhor amiga está perto e que permitem enviar-lhe mensagens secretas, que as próprias raparigas criam num código semelhante a Morse. Em cerca de um ano as duas fundadoras da empresa venderam mais de 10 mil unidades.
O site Made with Code, da Google, também disponibiliza uma série de projetos e jogos que ensinam competências de codificação às jovens, que através dele, podem ainda entrar em contacto com mentores na área da tecnologia.