Formada em Direito pela Universidade Católica, Ana Paula Rafael tinha uma vida bem-sucedida enquanto advogada e empresária, em Castelo Branco antes de se tornar a CEO da Dielmar. Além do seu escritório de advocacia (que ainda se mantém em atividade), era ainda proprietária de pequenos negócios na região — lojas de roupa, de bijuteria, uma papelaria — além de ter dirigido a NERCAB (Núcleo Empresarial da Região de Castelo Branco) durante nove anos.
Com 51 anos de história, a Dielmar, empresa têxtil 100% portuguesa especializada em vestuário masculino, construiu-se com a visão arrojada do pai e tio de Ana Paula Rafael, alfaiates de profissão. Quando decidiram expandir o negócio, começaram com pouco mais de 20 pessoas em novas instalações. Um ano depois, já tinham 100 trabalhadores. Em 1965 a empresa começou logo a inovar ao apostar no pronto-a-vestir, ainda pouco implementado a nível nacional, ao mesmo tempo que mantinha as operações de alfaiataria, faceta que sempre os distinguiu da concorrência.
A CEO sempre teve uma ligação muito forte à empresa da família. Com 16 anos já dizia ao pai: “Também temos de fazer da Dielmar uma marca.” O seu primeiro mandato enquanto CEO acontece em 1999, mas sai três anos mais tarde, depois de ver rejeitada pela administração a sua visão de um processo de internacionalização e abertura de lojas em regime de franchising.
Em 2007, os acionistas da empresa convidaram-na a voltar e Ana Paula Rafael decide fazê-lo no ano seguinte, em pleno período de crise, iniciando um processo de profissionalização da Dielmar. Conduziu a bom porto os destinos da empresa familiar em mais um período conturbado, entre 2011 a 2013, quando faturação da empresa baixou 2,2 milhões de euros. Em 2015 já fechava contas com 15 milhões de euros de faturação.
A missão de Ana Paula Rafael tem sido a de criar uma marca própria com nome no mercado e levar a Dielmar para um novo patamar na distribuição e serviços, bem como continuar a sua tão sonhada estratégia de internacionalização, processo que iniciou em 2010.
É sobre a sua experiência e visão na direção de uma das maiores empresas familiares portuguesas que Ana Paula Rafael falará enquanto oradora do painel “Lições de Liderança de CEO”, na 2ª Grande Conferência de Liderança Feminina.
Falta talento feminino no empreendedorismo em Portugal?
Não falta talento feminino no empreendedorismo em Portugal. Falta essencialmente a atitude dessas mulheres, que percam o “medo” de se lançarem nas suas carreiras e empresas e que decidam a sua vida, sem estarem constrangidas por tabus sociais.
O que pode ser feito para termos mais mulheres a fundarem e a fazerem crescer as suas próprias empresas?
A liderança e o empreendedorismo são características naturais e inatas na mulher. Sempre foram as mulheres a educar os filhos. São as mulheres que educam as outras mulheres e os homens, são as mulheres que educam a sociedade.
Falta um “click” necessário para a mudança de mentalidades. Temos que ajudar a mudar a cultura do nosso país, a cultura das escolas, das universidades, das empresas. Só desta forma conseguiremos ter mais mulheres empreendedoras e em cargos de topo em Portugal. Mas as mulheres têm que querer empreender e arriscar. Criar à sua volta o ambiente favorável para concretizarem a ambição de liderança.
A liderança é mais uma questão de competências, do que um tema de género. Quer trabalhemos com homens ou outras mulheres temos sempre que ganhar o nosso espaço, demonstrando as nossas competências, a nossa inteligência pratica e conhecimento e a nossa capacidade de concretizar.
Quais as competências para ser um bom líder num mundo que está em constante mudança?
Devemos estar atentos a tudo o que nos rodeia e estar receptivos a novas ideias e sugestões. É preciso ter visão estratégica, persistência e foco no negócio, capacidade d planear, de liderar pessoas, de gerir a mudança e ter energia para a concretização. É preciso saber sonhar. Não podemos caminhar de costas voltadas para a responsabilidade, temos que ter convicções e ser capaz de as defender. E um bom líder também tem de gostar de trabalhar cria energia, saber partilhar e fazer compreender cria resiliência. E estas são também competências fundamentais para se ser um bom líder.
E costumo dizer com frequência aos mais jovens “que devemos sempre usar o andar de cima”. Porque pensar é, sem dúvida, o segredo do sucesso profissional, sejamos ou não líderes.
PROGRAMA
9h00 Receção
9h30 Boas vindas Isabel Canha, diretora da Executiva
9h45 Mesa redonda: Liderança 4.0 – o mindset do novo líder
Reflexão sobre as mudanças tecnológicas e o mundo do trabalho, e os desafios do líder do futuro.
Marta Alarcão Troni, administradora Liberty Seguros, Carla Baltazar, senior manager Accenture, Sara do Ó, CEO Grupo Your, Rui Paiva, CEO WeDo Technologies, Isabel Viegas, docente Católica Lisbon, Teresa Cardoso de Menezes, diretora-geral Informa D&B (moderadora)
10h45 Dueto de líderes
Dois CEO à conversa, sem filtro e sem moderador, sobre liderança feminina.
Isabel Vaz, CEO Luz Saúde, e Filipe de Botton, chairman Logoplaste
11h30 Coffee break
11h50 Mesa redonda: Lições de liderança de CEO
Partilha de experiências, em que se revelam as dificuldades e a forma como foram ultrapassadas, e se transmitem conselhos para construir uma carreira de sucesso.
Carlos Rodrigues, presidente BiG, Susana Carvalho, CEO J. Walter Thompson, Ana Paula Rafael, CEO Dielmar, Soledade Carvalho Duarte, managing partner Invesco Transearch (moderadora)
A 2.ª Grande Conferência Liderança Feminina vai regressar ao Auditório Cardeal de Medeiros, da Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, no dia 23 de novembro, entre as 9h e as 13h.