Pode começar com uma proposta que até soa inocente: “Não quero que te preocupes com dinheiro” ou “Eu sou melhor a gerir as nossas finanças do que tu: deixa essa parte comigo”. Mas quando dão por si, as vítimas de controlo financeiro abusivo já estão nas mãos de alguém que as impede de usar, adquirir ou manter os seus recursos financeiros, que se apropria do seu dinheiro, completamente dependentes e sem noção do que acontece com o seu património e contas correntes. Este tipo de comportamentos acompanha frequentemente relacionamentos conjugais abusivos, mas não só — pode acontecer entre pais e filhos, por exemplo, ou em outro tipo de relacionamentos próximos.
Estes são alguns dos sinais de alarme mais comuns, segundo pesquisas de organizações como Women’s Aid e Money Advice Service. Tenha atenção, se conhece ou convive com alguém que:
— Controla a sua conta bancária, extratos, cartões de crédito ou débito.
— Controla constantemente as suas despesas: pergunta sempre “quanto custou isso?” e pede para ver recibos de despesas.
— Toma decisões financeiras importantes (compras, investimentos, pedidos de crédito) sem a consultar ou informar.
— Usa o seu dinheiro, cartões de crédito e débito sem a sua autorização.
— Recusa-se a pagar contas e a contribuir nas despesas familiares.
— Pede empréstimos bancários ou contrai dívidas em seu nome, sem fazer o pagamento das prestações.
— Esconde contas bancárias e bens próprios, embora queira controlar os da vítima.
— Questiona ou diminui frequentemente os seus conhecimentos financeiros e a sua competência para gerir o próprio dinheiro e bens; subestima as suas contribuições para o orçamento familiar ou capacidade de ganhar dinheiro.
— Tenta coagi-la a mudar de emprego, a deixar de trabalhar — culpabilizando-a por se dedicar demasiado à carreira sem se preocupar com a família, por exemplo — ou insiste para que comece a trabalhar no negócio de família dele/a, sem lhe pagar pelo seu trabalho.
— Gasta dinheiro com coisas para si próprio/a mas não a deixa fazer o mesmo.
O que fazer se for vítima de controlo financeiro abusivo:
Exponha a situação a familiares ou amigos da sua inteira confiança; aconselhe-se com eles e peça ajuda.
— Procure o apoio e aconselhamento legal de grupos especializados de apoio a vítimas, como é o caso da APAV, se não lhe for possível procurar aconselhamento jurídico independente por sua conta.
— Abra uma conta bancária em seu nome (ou conjunta, com alguém da sua absoluta confiança) com acesso a cartões de crédito e débito. Poderá tornar-se numa estratégia eficaz de poupança, depositando aí tudo o que puder, desde bónus ou outros pagamentos salariais de que o seu parceiro não tenha conhecimento, a trocos e sobras de dinheiro de compras. Certifique-se que não lhe enviam extratos dessa conta para a morada onde vive o agressor.
— Uma vez que nestes casos é comum que a pessoa abusiva esconda informação sobre bens, dívidas e património próprio, considere fazer algum trabalho de investigação secreto sobre despesas e rendimentos dele/a, da forma mais segura que puder. Ajuda conseguir fotocópias de recibos de vencimento, registos contabilísticos, recibos de compras, pagamentos de prestações e outros, guardando-os num local secreto, como um cofre bancário, que sirvam de prova no caso de tomar medidas legais, aconselha a organização canadiana de apoio a vítimas Battered Women’s Support Service. Também é importante manter cópias de bens em nome conjunto.